CAPÍTULO 2
Lucas 2:1-20 = Mateus 2:1
Os versículos 1 e 2 contêm uma nota histórica destinada a explicar por que Jesus não nasceu em Nazaré, onde sua mãe e seu pai adotivo viviam, mas em Belém, longe da Galileia. Esses versos têm sido objeto de discussões renovadas, numerosos sistemas e, no campo racionalista, acusações apaixonadas contra a autenticidade ou veracidade desta passagem de São Lucas. Cf. Strauss, Vida de Jesus, § 31, vol. 1, p. 232 e ss. Não é possível, em um comentário, tratar em profundidade uma questão tão complexa; indicaremos ao menos os melhores princípios para uma solução, e remetemos o leitor a H. Wallon, Sobre a Crença Devido ao Evangelho, Paris, 1858, pp. 296-339.
Lucas 2.1 Naqueles dias, César Augusto decretou a realização de um recenseamento em toda a Terra. – 1. Naqueles dias. Esta data, vaga em si mesma (cf. Mateus 3:1 e a explicação), é esclarecida pelo contexto: 1:26, 36, 56; 2:6 e 7; ela nos leva de volta ao versículo 79 do capítulo 1, portanto, aos dias que se seguiram ao nascimento de João Batista. O édito veio de César Augusto, sobrinho do famoso Júlio César e o primeiro dos imperadores romanos. Seu propósito era realizar um censo de todo o mundo. Essa expressão às vezes representa apenas a Palestina na Bíblia, mas não é possível atribuir-lhe esse significado restrito aqui com Paulo, Kuinoel, Hug, etc.: a maneira como está ligada ao nome de Augusto impede tal interpretação. Portanto, refere-se verdadeiramente ao Império Romano, que os latinos orgulhosamente chamavam de "disco da terra". A hipérbole, além disso, não era exagerada, visto que a maior parte do mundo conhecido estava então sujeita à lei romana. Por "censo" devemos entender o ato de registrar em cartórios o nome, idade, condição social, riqueza e nacionalidade de todos os habitantes de uma região. cf. Políbio 10:7. O evangelista, portanto, não pretendia falar de um simples levantamento cadastral, como acreditavam Kuinoel, Olshausen, Ebrard, Wieseler, etc. – O fato tão claramente declarado pelo evangelista neste primeiro versículo já levanta sérias dificuldades porque, segundo nos é dito, 1) os historiadores latinos e gregos da época permanecem completamente em silêncio sobre este édito de Augusto; 2) mesmo que o decreto tivesse sido emitido, não poderia ter se aplicado à Judeia, que ainda não era uma província romana na época do nascimento de Jesus Cristo, visto que era governada por Herodes. Consideremos estas duas objeções por sua vez: 1) Mesmo que a história secular fosse totalmente silenciosa sobre o édito mencionado por São Lucas, seu silêncio constituiria apenas uma prova negativa, que não poderia invalidar o testemunho muito claro do evangelista. Os analistas contemporâneos também omitem os censos realizados anteriormente por Júlio César, embora sua existência seja incontestável. Além disso, como é possível que Celso e Porfírio, esses inimigos implacáveis do cristandadeAqueles que sentiam prazer malicioso em apontar as supostas contradições ou erros nos Evangelhos não levantaram nenhuma objeção a esta passagem de São Lucas? Mas temos razões mais convincentes a apresentar. Como reconhecem hoje os mais distintos arqueólogos, juristas e historiadores (Savigny, Huschke, Ritschl, Peterson, Marquardt, etc.), a compilação de relatórios e documentos estatísticos é uma das características distintivas das políticas de Augusto. Documentos importantes, dos quais possuímos pelo menos alguns fragmentos, comprovam, sem sombra de dúvida, que o primeiro imperador romano deve ter realizado diversas operações durante seu reinado semelhantes àquela mencionada por São Lucas. Em sua morte, lemos em Suetônio, Augusto C. CI., três protocolos foram encontrados anexados ao seu testamento. "Dos três volumes, um é dedicado aos preparativos para seu funeral; o outro seria um relato de suas realizações, a ser gravado em placas de bronze colocadas diante do mausoléu; o terceiro, um resumo de seu reinado." Existe uma famosa cópia do “index rerum gestarum”, gravada na entrada do templo de Ancira, na Galácia, que fora erguido em honra de Augusto: menciona expressamente três censos, um dos quais ocorreu no ano de 746 de Roma, ou seja, pouco antes do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo (ver Wallon, 1cp 300 ss.; Bougaud, Jésus-Christ, 2ª ed., p. 158 ss.). O “Breviarium imperii” se perdeu. Sabemos, pelos resumos de Tácito e Suetônio, quais eram os seus temas: “Era um retrato do poder público: mostrava quantos cidadãos e aliados estavam em armas, o número de frotas, reinos e províncias, o estado dos tributos e impostos, uma visão geral das despesas e recompensas necessárias” (Tácito, Anais, 1.11). Não é evidente que, para reunir todas essas informações, foi necessário realizar censos em todo o império e até mesmo entre os povos aliados? Por fim, acrescentemos que historiadores posteriores confirmam os dados de São Lucas da maneira mais positiva, e certamente a partir de fontes independentes do Evangelho, pois acrescentam detalhes minuciosos. “César Augusto”, escreve Suidas, “tendo escolhido vinte dos homens mais excelentes, enviou-os a todas as regiões dos povos subjugados e ordenou que recenseassem os homens e seus bens.” “Da mesma forma, Santo Isidoro de Sevilha, Cassiodoro, etc. Veja Wallon, loc. cit., p. 305 e ss. – 2) Na época do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, a Judeia, é verdade, ainda não era uma província romana, e Herodes, o Grande, que a governava, detinha o título de “Rex socius”; mas essa aparência de liberdade não impedia que o país e seu líder fossem humildes vassalos do império, como prova a história judaica daquela época. A independência da nação teocrática era então puramente nominal, e não se vê o que teria impedido Augusto de realizar um censo do povo de Israel se essa fosse sua intenção. Quem não sabe que, na prática, Herodes nunca deixou de agir como um servo muito obediente a Augusto?” Um dia, quando demonstrou alguma inclinação para se libertar dessa subjugação absoluta, o imperador não hesitou em escrever-lhe que, se “até então o havia tratado como um amigo, dali em diante o trataria como um súdito”. (Flávio Josefo, Ant. 16, 9, 3). Além disso, um exemplo positivo, o dos "Clitas", um pequeno povo da Cilícia (Tácito Ann. 6, 41), ensina-nos que os romanos por vezes obrigavam as nações aliadas a submeterem-se a um censo.
Lucas 2.2 Este primeiro censo ocorreu enquanto Quirino estava no comando de Síria. – Este censo foi o primeiro dentre os realizados por Cirino: o escritor sagrado distingue assim vários censos realizados por Cirino (cf. Atos 5:37), e afirma que aquele a que se refere atualmente foi o primeiro. Governador de Síria. Lá Síria era então uma província romana (limitada ao norte pelas Montanhas Tauro, a oeste pelo Mar Mediterrâneo, com Antioquia (para capital); ou; ser o chefe de uma província era ser um "procônsul". Esse era, portanto, o título oficial da pessoa a quem a Vulgata chama de Cirino, e a quem seria mais preciso chamar de "Quirino", pois esse era seu verdadeiro nome em latim. Cf. Suetônio, Tito 49; Tácito, Anais 3, 48. Públio Sulpício Quirino, nascido em Lanúvio, filho de pais obscuros, ascendeu, por meio de seu zelo marcial e sua habilidade nos assuntos, aos mais altos cargos do Estado. Foi cônsul em 742 (UC), algum tempo depois obteve as honras de um triunfo por ter subjugado as ferozes tribos montanhesas de Homona, na Pisídia, acompanhou o jovem Caio César à Armênia em 755 como conselheiro e governou a Síria de 759 a 764. Mas é precisamente esta última data que cria a maior dificuldade para o exegeta nesta passagem, visto que, segundo São Lucas, Quirino teria sido procônsul de Síria no próprio ano do nascimento do Salvador, enquanto, segundo os historiadores romanos, ele só nasceu seis anos depois. Os racionalistas mais moderados concluem, a partir disso, que o relato de São Lucas é "obviamente errôneo". Outros clamam por mito, lenda, até mesmo engano. Como resolver esse problema? Entre os muitos sistemas propostos, alguns são particularmente frágeis, por exemplo, os de Venema, Valckenaer, Kuinoel, Olshausen, etc., que removeriam o versículo 2 como uma interpolação, e, em geral, todos aqueles que consistem em introduzir alguma modificação no texto. A perfeita autenticidade do versículo 2 está bem demonstrada para permitir tais conjecturas arbitrárias. Mas não faltam hipóteses sérias. 1° Herwart, Bynaeus, Périzonius, Padre Pétau, D. Calmet, Huschke, Wieseler, Ernesti, Ewald, Haneberg e outros críticos traduzem: Este censo ocorreu antes de Quirino ser governador do SíriaEles acreditam que podem justificar sua opinião com inúmeros exemplos extraídos de autores sagrados e clássicos. 2. De acordo com Lardner e Münter, o título de governador foi dado a Quirino em antecipação (este primeiro censo ocorreu sob a direção de Quirino, que mais tarde se tornou procônsul de Síria), ou 3° não designaria o próprio proconsulado, mas poderes extraordinários em virtude dos quais Quirino teria presidido o censo de 75° (Casaubon, Grotius, Deyling, Sanclemente, Neander, Hug, Sepp, Schegg, etc.). Isso explica como Tertuliano, em Adv. Marcion. 4, 19, atribui a Sentius Saturninus, governador de Síria Algum tempo antes do nascimento de Jesus, ocorreu o censo mencionado neste local por São Lucas, enquanto São Justino afirma diversas vezes que foi dirigido por Quirino (Apol. 1, 34, 46; Dial. c. Tryph. 78). Nossos dois escritores eclesiásticos estariam corretos, visto que, neste sistema, Saturnino e Quirino presidiram conjuntamente o censo. 4. O censo teria começado por volta de 750, sob as ordens do procônsul da época; porém, interrompido logo depois pela morte de Herodes, não teria sido retomado e concluído até o governo de Quirino, quando a Judeia perdeu completamente a pouca independência que ainda possuía (Paulus, J.P. Lange, van Oosterzee, Hales, Wallon, etc.). Para dar mais força a essa opinião, vários de seus defensores alteram o texto, que se torna, combinando os versículos... 1 e 2: Naquela época, César Augusto emitiu um édito ordenando um censo de todo o império; mas a plena implementação deste decreto na Judeia só ocorreu durante o procônsulado de Quirino. 5. Cálculos tão eruditos quanto engenhosos do Sr. Zumpt (lc) tornaram totalmente plausível a hipótese de que Quirino foi procônsul de Síria Em duas ocasiões, a primeira entre Pedro Quintílio Varo e Miguel Lólio, precisamente por volta da época do nascimento do Salvador, e uma segunda vez entre 759 e 764. O próprio racionalista E. de Bunsen admite essa possibilidade (Cronologia da Bíblia, 1874, p. 70). Além disso, São Justino afirma formalmente em uma das passagens citadas acima (Apolo 1, 46) que Jesus nasceu "sob o reinado de Quirino", isto é, sob o governo de Quirino. Certamente, nenhum dos sistemas anteriores elimina completamente a dificuldade que apontamos, visto que nenhum deles é totalmente certo; pelo menos todos oferecem uma solução bastante razoável, especialmente os três últimos. Em todo caso, bastam para demonstrar que São Lucas não se enganou e que não distorceu a história. Mas admiremos as exigências extraordinárias — e não nos referimos à má-fé — dos racionalistas em relação aos escritores sagrados. “Se encontrássemos em Zonaras, ou em Malalas, ou em algum outro compilador bizantino, informações análogas às que o terceiro Evangelho nos fornece aqui, simplesmente as consideraríamos um recurso precioso para a ciência histórica, um complemento às fontes antigas, tantas vezes incompletas. Por que, então, São Lucas deveria ser tratado com menos favorabilidade?” (Aberle, loc. cit., p. 102; cf. Wallon, loc. cit., p. 298, e o Evangelho segundo São Mateus). Já dissemos o suficiente para mostrar que, entre São Lucas, contemporâneo dos eventos que narra, e os críticos que julgam esses mesmos eventos tantos séculos depois, uma pessoa razoável não terá dificuldade em fazer sua escolha.
Lucas 2.3 E todos seriam contados, cada um em sua própria cidade. Após mencionar o édito de César Augusto (v. 1) e nomear o comissário imperial encarregado de sua execução (v. 2), Lucas explica brevemente como o censo ocorreu nas terras judaicas. De fato, é à Palestina que devemos, de acordo com o contexto, restringir a aplicação do versículo 3: "Cada um à sua cidade". Entre os judeus, a cidade de uma pessoa não era a de seu nascimento nem a de sua residência; era aquela onde a família à qual pertencia havia sido fundada (ver versículo 4). Todo israelita era, portanto, considerado pertencente à cidade ou vila originalmente habitada por seus ancestrais. Além disso, os registros familiares eram mantidos ali e, por essa razão, cada cidadão tinha sua identidade verificada quando um censo era realizado. É verdade que, de acordo com a lei romana, inscrições oficiais desse tipo ocorriam na cidade de origem ou na residência atual, e os racionalistas não deixaram de acusar nosso evangelista de inconsistência e imprecisão também nesse ponto. Mas, para refutar essa nova objeção, basta lembrar que os romanos, por razões políticas, frequentemente respeitavam os costumes particulares dos povos que subjugavam em detalhes não essenciais. Foi, portanto, em conformidade com os antigos costumes de Israel que o presente édito de Augusto foi executado. Veja Wallon, 11, pp. 334 e seguintes.
Lucas 2.4 José subiu da Galileia, da cidade de Nazaré, para a Judeia, para a cidade de Davi, chamada Jerusalém. Belém, porque ele era da casa e da família de Davi, – Do imperador romano, do procônsul de SíriaA partir do censo dos judeus, chegamos, por meio de círculos cada vez mais restritos, a São José e a Casado“Subir” era, na literatura judaica, a expressão estabelecida para uma jornada a Jerusalém e arredores, pois, independentemente da direção de onde se viesse, era preciso subir para chegar lá. Veja Mateus 20:17. As palavras seguintes, de Galileu… Belém, indicam o ponto de partida e o ponto final da jornada do casal sagrado. Da Galileia, José e Casado Eles foram para a Judeia; da cidade de Nazaré, vieram para... cidade de Davi, chamada BelémA viagem foi longa e árdua; além disso, quase não diferiu daquela que a Mãe de Deus fizera alguns meses antes (ver nota 1, 39), para visitar sua prima Isabel. BelémVeja o Evangelho segundo São Mateus, pág. 49. Foi chamado Belém A "Cidade de Davi" porque o fundador da mais famosa das dinastias judaicas nasceu lá e passou sua juventude lá. Cf. 1 Samuel 16:1; 17:12. Ele era da casa e da família de David.. cf. 1, 27. As palavras Casa E família são praticamente sinônimos nesta passagem; no entanto, é possível estabelecer uma ligeira diferença entre eles, se considerarmos a antiga organização do povo judeu. Família parece corresponder aos principais ramos em que as tribos estavam divididas; Casa Isso designaria, por metonímia, as subdivisões desses ramos, ou seja, as famílias. O significado do primeiro desses nomes (família) seria, portanto, mais amplo do que o do segundo (casa). São Lucas obviamente os associa para mostrar que São José estava ligado de forma estrita à linhagem de Davi.
Lucas 2.5 ser contado com Casado sua esposa, que estava grávida. – Para se cadastrar em Casado sua esposa. Casado Ela era, portanto, obrigada a comparecer pessoalmente em Belém Muitos exegetas pensaram assim, seguindo vários Padres da Igreja. Dizem que ela era filha única e herdeira, e nessa condição, deveria ter vindo pessoalmente registrar-se. Segundo outros, ela acompanhou São José de livre e espontânea vontade até... BelémEntendendo que "a Providência assim organizou os eventos e que queria que Jesus Cristo nascesse em Belém "Para cumprir as profecias que a haviam marcado" (Dom A. Calmet, hl), ela partiu generosamente, abandonando-se sem reservas à orientação de Deus. As palavras sua esposa descrever com requintada delicadeza a situação atual de CasadoEla era agora esposa de José, tendo o casamento sido celebrado algum tempo depois de seu retorno de Hebron (cf. Mateus), mas ela permanecera virgem como uma noiva: daí essa surpreendente associação de ideias.
Lucas 2.6 Mas enquanto estavam naquele lugar, chegou a hora de ela dar à luz. – Aparentemente, o casal santo tinha vindo para Belém Por uma razão trivial, como cidadãos humildes obedecendo ao decreto de um imperador; mas Deus usa as ações livres dos homens para realizar seus grandes desígnios. Sem perceber, Augusto estava servindo aos interesses do Reino dos Céus. Sua assinatura no rodapé de um édito contribuiu para o cumprimento de um antigo oráculo. Cf. Bossuet, Elevações sobre os Mistérios, 16ª semana, 5ª Elevação. Os dias em que ela deveria dar à luz.Veja 1:57 e o comentário. Tudo sugere, a partir da narrativa como um todo, que o nascimento de Casado ocorreu durante a primeira noite após sua chegada em BelémEntão, na magnífica expressão de São Paulo em Gálatas 4:4, chegou a plenitude dos tempos: “Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, sob a lei”.
Lucas 2.7 E ela deu à luz o seu filho primogênito, envolveu-o em panos e o deitou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria. – A Antiguidade concorda unanimemente que o nascimento de Jesus foi prodigioso e sobrenatural, assim como sua concepção. Casado Ela deu à luz sem dor e sem deixar de ser virgem. “Virgem antes do parto, durante o parto e depois do parto.” Santo Agostinho, Sermão 123. Sobre a palavra “primogênito”, cf. Mateus. Como observou São Cirilo, Jesus é chamado de primogênito sob duas perspectivas: como filho de Deus e como filho de Maria; portanto, ele é o único filho tanto no segundo caso quanto no primeiro. Ela o envolveu em panos.Antes de partir de Nazaré, Casado Ela havia se preparado com tudo o que precisaria para a criança divina que esperava. E o deitaram numa manjedoura.No cuidado que a própria Virgem Mãe dedicou a seu filho, com uma inefável mistura de reverência e ternura, gostamos de ver, seguindo os antigos exegetas católicos, a prova de seu nascimento milagroso. "Desse texto, extrai-se um argumento nada insignificante para confirmar o ensinamento da Igreja Católica, a saber, que..." Casado "Deu à luz sem incisão e sem dor." Maldonat. Em todo caso, decorre dessa passagem que Cristo nasceu em um estábulo. Que lugar de origem e que berço! Mas, como observa Bossuet na 6ª Elevação da 17ª semana, "um retiro digno para aquele que, ao longo de sua vida, diria: 'As raposas têm suas tocas, e as aves do céu, que são as famílias mais errantes do mundo, têm seus ninhos, enquanto o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça...' E literalmente, desde o seu nascimento, ele não tinha onde reclinar a cabeça." Um berço digno, acrescentaríamos, para aquele que morreria na cruz. Jesus entra no mundo como o deixará, em pobreza e em humilhação. Muitas vezes se pensou que Jesus nasceu em um estábulo determinado pelo contexto, ou seja, no estábulo da hospedaria mencionada abaixo. Hoje, é em uma gruta (encimada por uma rica basílica que Santa Helena construiu em 327) que o peregrino comovido contempla o lugar consagrado pelo nascimento do Deus-Homem; e os escritores protestantes, geralmente tão desrespeitosos com o que chamam de "tradições monásticas", são obrigados a reconhecer que a chamada cripta da Natividade tem, de fato, direito à nossa herança. veneraçãoEsta gruta é mencionada já no século II por São Justino Mártir, em seu livro "Adversário a Trifão" (78). Orígenes também a menciona em "Contra Celso" (1, 51); assim como Eusébio em "Demonstrativo dos Evangelhos" (7, 2) e "Vida das Constança" (3, 43); e São Jerônimo em sua carta 49 a Paulo, que passou os últimos anos de sua vida em uma gruta próxima; além disso, o Protoevangelho de São Tiago, capítulo 18. A pequena capela da Natividade é inteiramente revestida de mármores preciosos. Em frente ao altar, sobre uma laje branca adornada com uma estrela de prata e encimada por inúmeras lâmpadas que queimam constantemente, lê-se: "Aqui nasceu Jesus Cristo da Virgem Maria". Bem-aventurados os que se ajoelharam neste lugar abençoado. Quanto ao boi e ao jumento tão frequentemente representados perto da manjedoura de Jesus, talvez seja permitido ver neles apenas uma aplicação alegórica de várias passagens dos profetas, notadamente Isaías 1:3 e Habacuque 3:2 (de acordo com a Septuaginta e a Itala: "Serás reconhecido no meio de dois animais"), e, portanto, uma lenda piedosa e ingênua. No entanto, é notável que vários Padres, e entre os mais autorizados, afirmem formalmente a presença desses dois animais, por exemplo, São Pedro Crisólogo, Sermão 156, 159; São Jerônimo, Epístola a Eustóquio 108, parágrafo 27, 10; São Paulino de Nola, Epístola 31, parágrafo 11, a Severo, etc. (cf. O Evangelho Apócrifo da Natividade de Maria, capítulo 14); 2. Que o boi e o burro aparecem nos monumentos mais antigos da arte cristã. Cf. Bottari, Roma sotterran. 22, 85, 86, 143. “Ainda não foi possível identificar nenhuma dessas efígies anteriores ao século II em que os dois animais estivessem ausentes.” Certamente, uma tradição tão antiga e constante não é desprovida de valor. Nada era mais natural do que a presença de um boi e um burro em um estábulo. – Sobre o presépio conservado em Roma na igreja de Santa Maria Maggiore, ver Rohault de Fleury, Mémoire sur les Instruments de la Passion de Notre-Seigneur Jésus-Christ, pp. 278 e seguintes. Porque não havia espaço para eles.… O evangelista indica, por meio dessa reflexão, ao mesmo tempo simples e comovente, por quê? Casado E José teve que se refugiar em um estábulo. Para nobres, talvez houvesse hesitação em lhes dar abrigo; mas nenhum dos habitantes originais queria sacrificar seu conforto por estranhos de aparência tão humilde, e assim Jesus não encontrou outro abrigo ao nascer senão um estábulo, mesmo na terra de seus ancestrais reais. Além disso, naquela mesma região, Ruth E Davi não havia levado uma vida humilde, colhendo o seu pão nos campos de Boaz? Ruth, 2, 2 e seguintes, este cuidando dos rebanhos de sua família, 1 Samuel 16, 11? – No setor hoteleiroSob essa expressão, a imaginação de um ocidental evoca uma hospedaria adequada, com os diversos graus de conforto que se pode esperar pelo dinheiro investido; mas estamos no Oriente, e o Oriente, especialmente naquela época, mal conhecia esse tipo de estabelecimento. É, portanto, o kahn, ou caravanserai, que o viajante quase sempre encontra nas cidades orientais, onde lhe são oferecidos gratuitamente não mantimentos, que ele deve providenciar por conta própria, mas abrigo, ou seja, um simples refúgio. Um caravanserai geralmente consiste em um prédio térreo relativamente grande e baixo, construído de forma rudimentar, que logo se torna insalubre. Cada viajante se instala como bem entende; em caso de aglomeração, os últimos a chegar se viram como podem, e é fácil entender que, na véspera de um censo, a hospedaria pública de Belém repleta de estrangeiros. – Antes de prosseguirmos, admiremos a simplicidade do relato de São Lucas. Apenas algumas linhas para narrar o nascimento do Messias. Seria assim que se escreveria um mito ou uma lenda? Leiam os Evangelhos apócrifos e verão a diferença. É como comparar uma bela noite de verão, suavemente iluminada pela lua, a um cenário teatral iluminado ao estilo chinês. E, no entanto, apesar dessa extrema concisão, que beleza, que frescor, que pitoresco, que encanto verdadeiramente divino! Há, como já foi dito, provas claras de autenticidade e veracidade.
Lucas 2.8 Nos arredores, havia pastores que passavam a noite nos campos, vigiando seus rebanhos. As primeiras testemunhas, os primeiros adoradores de Cristo, eram humildes e pobres, como sua mãe, como seu pai adotivo, como o humilde lugar onde nasceu. Jesus não chamou membros do Sinédrio, sacerdotes, escribas ou doutores para o seu berço, mas pastores. «Mas Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios; Deus escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes… para que, como está escrito: »Quem se gloria, glorie-se no Senhor«». 1 Coríntios 1:27ss. cf. Mateus 11:25; Lucas 10:21. Os representantes do paganismo no berço do Menino Jesus seriam, no entanto, mais nobres e ilustres. Mas havia tantos preconceitos orgulhosos dentro da nação judaica a respeito do Messias, e o Senhor quis combatê-los desde o início. – Não temos detalhes sobre os pastores afortunados em cujo favor ocorreu a primeira manifestação de Cristo. Não há dúvida, porém, de que eles estavam entre as almas fiéis que então aguardavam com santa impaciência "a consolação de Israel". Veja o versículo 38. A lenda supõe que eram quatro e que seus nomes eram Misael, Aqueel, Ciríaco e Estéfano. Nas proximidadesou seja, nas proximidades de BelémSegundo uma tradição muito antiga, ficava no território da atual aldeia de Bet-Sahour, numa pequena planície agradável, quente e fértil, repleta de excelentes pastagens onde outrora se engordavam os rebanhos destinados aos sacrifícios nos templos, e situada ao pé e a leste da colina onde se ergue... Belém, onde os pastores estavam quando o anjo lhes apareceu. – Qque passou a noite nos campos. Os antigos observavam quatro divisões da noite (das 18h às 21h, das 9h ao meio-dia, do meio-dia às 3h e das 3h às 6h): os pastores, portanto, revezavam-se na vigília e provavelmente se substituíam a cada três horas. Este detalhe pitoresco do evangelista, que nos mostra pastores e rebanhos nos campos no auge da noite de Natal, muitas vezes serviu de ponto de partida para ataques, por vezes bastante violentos, contra a data tradicional de 25 de dezembro. Já explicamos em outro lugar (Introdução Geral, Cronologia dos Evangelhos) o que pensar sobre esta data; mas a presente objeção não tem fundamento, pois é evidente, pelas observações feitas por numerosos viajantes, que, após as primeiras chuvas, a Palestina frequentemente experimenta temperaturas amenas e agradáveis no final de dezembro e início de janeiro. A relva começa a crescer e, mesmo à noite, encontram-se muitos rebanhos nos campos.
Lucas 2.9 De repente, um anjo do Senhor apareceu-lhes, e o resplendor da glória do Senhor os envolveu, e eles ficaram tomados de grande temor. – Um anjo do Senhor. Este anjo, como acreditavam vários antigos, era provavelmente São Gabriel, que vimos anteriormente constantemente envolvido no mistério da Encarnação. A palavra apareceu Isso indica a súbita e rápida aparição. Cf. 24:4; Atos 12:7. Uma luz divina resplandece. O brilho vívido e misterioso que quase sempre acompanha as teofanias formou uma auréola deslumbrante ao redor do anjo. Eles foram tomados pelo medo. A impressão tão frequentemente mencionada nos Livros Sagrados, quando nos mostram o homem em contato direto com o divino.
Lucas 2.10 Mas o anjo lhes disse: «Não tenham medo, pois trago a vocês boas novas de grande alegria para todo o povo. Após tranquilizar os pastores com a frase habitual, o anjo anuncia-lhes a Boa Nova por excelência. O Evangelho ressoará verdadeiramente por todo o mundo pela primeira vez, pois enquanto os Profetas, falando de Cristo, frequentemente exclamavam: "Ele nascerá", agora pode-se dizer: "Ele nasceu". É por isso que o mensageiro celestial anuncia aos pastores que a notícia que traz será motivo de grande alegria, não apenas para eles, mas para todo o povo judeu, ao qual pertenciam e a quem o Messias havia sido especificamente prometido. Este significado restrito das palavras a todo o povo é exigido pelo contexto.
Lucas 2. 11 Porque hoje, na cidade de Davi, vos nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor.– Ele nasceu para você…Este pronome é enfático. Isaías já havia dito algo semelhante em antecipação, em 9:6: “Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado”. Jesus nasceu para todas as pessoas e para cada uma delas em particular. Ele nasceu, portanto, para os pastores de Belém. – Um Salvador. O anjo não revelou o nome do Menino divino aos pastores; ele o designou para eles, ao menos, por meio de uma expressão equivalente, já que Jesus significa Salvador. Quem é Cristo, o Senhor?“Nome magnífico”, exclama com razão Bengel, Gnomon. Cristo, o Senhor, isto significa de fato “Cristo YHWH”, consequentemente “Cristo Deus”. cf. Ato 236. Como podemos ver, as palavras do anjo aos pastores, assim como as palavras de Gabriel anteriormente para CasadoOs capítulos 1, 31-32, contêm uma definição popular do Messias: anunciam o Salvador e Senhor por excelência, que nasceu, como os profetas haviam predito, na cidade de Davi. Até mesmo os pastores podiam entender, e entenderam, como o restante da narrativa mostrará.
Lucas 2.12 E isto vos será por sinal: encontrareis um menino recém-nascido envolto em panos e deitado numa manjedoura.»- Da mesma maneira CasadoOs pastores recebem um sinal sem o terem pedido. Os exegetas antigos frequentemente debatiam a natureza desse sinal. Seria um meio pelo qual os pastores poderiam verificar a veracidade do anjo (Eutímio, Maldonato, Schegg, etc.), ou uma indicação que serviria para distinguir Jesus de todas as outras crianças (Jansenius)? Responderemos com Lucas de Bruges que se tratava de ambos os sinais simultaneamente: "O anjo dá aqui um sinal ambíguo, mas não obstante, distintivo". Mas que contraste entre essa pista e a nova informação acima. Você encontrará um recém-nascido. Esta criança será colocada em uma manjedoura. De seus primeiros adoradores, Jesus exige fé, assim como a exigirá de todos os que o seguirem. O sinal dado pelo anjo foi, além disso, bastante suficiente para distinguir o filho de Jesus. CasadoNaquela noite, provavelmente nenhuma outra criança nasceu na pequena cidade de Belém Certamente, apenas um nasceu em um estábulo e repousou em uma manjedoura.
Lucas 2.13 Naquele exato momento, uma multidão da hoste celestial se uniu ao anjo, louvando a Deus e dizendo: Assim que o anjo terminou de falar, o grito "Glória a Deus!", cantado por uma multidão de outros espíritos celestiais, ressoou pelo ar. O primeiro mensageiro não desapareceu; uma tropa do exército celestial juntou-se a ele, formando um coro do qual ele era o líder. Louvando a Deus. Os anjos Eles haviam cantado sobre a primeira criação (Jó 38:7); era justo que cantassem também sobre a segunda, ainda mais porque o Senhor lhes havia dado um mandamento expresso para fazê-lo (Hebreus 1:6). Além disso, o Natal deles não é menos uma festa celestial do que terrena; é por isso que os anjos Expressar sua alegria com um hino de louvor.
Lucas 2.14 «"Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens de boa vontade."»O cântico da hoste celestial é notavelmente expressivo em sua brevidade. É uma doxologia sublime, que resume admiravelmente os benefícios da Encarnação do Verbo. Como o cântico dos Serafins diante do trono de Deus (Isaías 6:3), consiste em duas notas, uma dirigida ao Senhor e a outra referente à terra. Primeira nota: Glória a Deus nas alturas. Àquele que habita nas regiões celestiais, o nascimento de Cristo trará glória, uma glória perfeitamente compatível com a Sua infinita grandeza. Segunda nota: E paz na terra aos homens… Àqueles que vivem na terra, o nascimento de Jesus traz pazIsto é, felicidade para este mundo e para o vindouro. Cf. 1:79. Há muito se previa que o Messias daria paz à nossa pobre e atribulada terra (cf. Isaías 2, 4; 9, 6-7; 11, 6-9, etc.); os escritos do Novo Testamento afirmam formalmente que esses oráculos divinos foram cumpridos (cf. João 1427; Efésios 2, 14, 17; Colossenses 120; Romanos 5, 1, etc.). No entanto, nem todos os homens irão gostar paz messiânico; será verdadeiramente concedido apenas a homens de boa vontade, e essas duas palavras devem ser entendidas como boa vontade divina, benevolência, o amor do Senhor por nós, e não boa vontade humana, as disposições santas dos homens para com Deus. cf. Salmo 5:13; 50:20; Filipenses 2:13. A expressão "homens de boa vontade" se opõe, portanto, a "filhos da ira" (Efésios 23); designa, como diz Bossuet, os homens amados pelo céu. – Há entre as duas partes da sinfonia angélica um paralelismo perfeito: “paz” corresponde a “glória”, “na terra” a “os mais altos céus”, “homens de boa vontade” a “Deus”. Maldonat apresenta em seu comentário uma excelente explicação do cântico dos anjos.
Lucas 2.15 Quando os anjosAo subirem ao céu, depois de os terem deixado, os pastores disseram uns aos outros: "Vamos continuar..." Belém Consideremos este evento que ocorreu e que o Senhor nos revelou.» – Após o seu concerto celestial, os anjos Eles desapareceram tão repentinamente quanto apareceram. Mas sua manifestação produziu o efeito que Deus pretendia, e o evangelista, retornando aos pastores, os mostra cheios de fé, admiravelmente dóceis à graça e instando uns aos outros a partirem com toda a pressa para a cidade para ver o Menino divino que lhes nascera. Da planície onde os pastores viviam (veja a nota do versículo 8), levava cerca de vinte minutos para chegar à colina que dominava a paisagem. Belém.
Lucas 2.16 Eles foram para lá às pressas e encontraram Casado, José e o menino recém-nascido deitado na manjedoura.Sem demora, eles executaram seu plano: chegaram à cidade, encontraram o estábulo e, no estábulo, o Menino divino deitado em uma manjedoura, como o anjo havia predito, e rodeado por Casado e de José. Segundo outros (Olshausen, etc.), os pastores foram diretamente ao estábulo, guiados por uma graça secreta.
Lucas 2.17 Após vê-lo, eles relataram a revelação que lhes fora feita a respeito dessa criança. – Depois de encontrarem as coisas conforme haviam sido preditas, os pastores “descobriram, na realidade, que as coisas que os anjos tinham-lhes dito” (Maldonat), e eles reconheceram o seu Salvador na criança na manjedoura. Os pastores de Belém tornarem-se os primeiros pregadores do Evangelho. "Era necessário", diz Bossuet, 11ª Elevação da 16ª semana, "que Ele escolhesse pescadores para serem seus primeiros discípulos e os futuros doutores de sua Igreja. Tudo é, por assim dizer, da mesma natureza nos mistérios de Jesus Cristo."
Lucas 2.18 E todos os que os ouviram ficaram admirados com o que os pastores lhes disseram. O humilde círculo a quem os pastores relataram as maravilhas que Deus lhes havia revelado ficou naturalmente tomado de espanto e admiração. Muitos, sem dúvida, acreditaram e foram, por sua vez, visitar o Menino Jesus. Tudo indica, porém, que seu número era muito pequeno, visto que a memória de Jesus parece ter se apagado rapidamente. Belém, assim como mais tarde ele desapareceu em segundo plano em Jerusalém, apesar dos eventos extraordinários que acompanharam a Apresentação (vv. 25-38).
Lucas 2.19 Ouro Casado Ele guardava cuidadosamente todas essas coisas, meditando sobre elas em seu coração.– São Lucas insere aqui, em relação a CasadoUm detalhe precioso e encantador, que nos abre vastos horizontes sobre essa alma admirável: Casado Ela guardou todas essas coisas (tantas coisas incríveis que testemunhou, ou as histórias que ouviu dos pastores). É um retrato esplêndido em poucas palavras. A Virgem Santíssima não perdeu sua paz interior em meio aos grandes acontecimentos ao seu redor. Recolhida em Deus, ela observava atentamente. milagres de tudo o que acontecia a respeito de seu Filho e em seu Filho: nenhum fato, nenhuma palavra lhe escapava, e de suas lembranças ela compôs um tesouro sagrado que mais tarde transmitiu aos discípulos, talvez diretamente a São Lucas (ver o Prefácio, § 3). Combinando as menores circunstâncias, ela estava, de certa forma, criando uma filosofia da história de Jesus. Que profundidade haveria sem suas serenas contemplações! Mas o evangelista não diz que ela falava, embora tivesse tantos milagres para revelar. Pois "sua boca era casta como seu coração" (Santo Ambrósio), e "as grandes coisas que Deus faz em suas criaturas naturalmente provocam silêncio, reverência e algo divino que suprime toda expressão" (Bossuet, 11ª Elevação).
Lucas 2.20 E os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido, exatamente como lhes fora dito. – Após os versículos 17 a 19, que formam uma espécie de parêntese, São Lucas retoma a história e explica quais eram os sentimentos dos pastores quando saíram do estábulo. Glorificando e louvando a Deus Essas palavras resumem tudo o que se passava em seus corações. Eles glorificam, isto é, proclamam a grandeza que Deus manifestou nos mistérios que haviam contemplado; eles louvam, isto é, cantam sua bondade igualmente radiante. Sua gratidão era dirigida ao que haviam ouvido dos anjos (segundo outros, de...). Casado e de José), e o que eles tinham visto em BelémUma visão tão em consonância com a profecia angelical.
Em torno dos mistérios do Natal contados nestes vinte versos, as artes visuais, a poesia e a eloquência teceram uma coroa imperecível. Mencionemos as principais obras-primas. São, para a pintura, as pinturas de Filippo Lippi, Perugino, Lorenzo di Credi, Albrecht Dürer, Botticelli, Ercole Grandi, Raphael e especialmente Correggio (o famoso "Notte"); Para a poesia, os hinos "A solis ortus cardine" de Sedulius, "Jesu, redemptor omnium" de autor desconhecido, "Quid est quod arctum circulum" de Prudêncio, "Agnoscet omne saeculum" de Fortunatus, a graciosa sequência "Adeste fideles", mil "Natais" ou cânticos ora simples e ingênuos, ora elevados e sublimes, as odes de Milton, Papa, Metástasio, Manzoni, etc.; Em termos de eloquência, os sermões de Bossuet, Bourdaloue e Massillon.
Lucas 2.21 Quando se completaram os oito dias para a circuncisão do menino, deram-lhe o nome de Jesus, o nome que o anjo lhe havia dado antes de ser concebido no ventre. Assim que Jesus nasceu da mulher, como diz São Paulo (Gálatas 4:4), ele já estava sujeito à lei. Cf. Romanos 8Hebreus 2:17; Hebreus 3:17. Mal o seu sangue é formado, ele derrama as primeiras gotas por nós, aguardando o seu derramamento abundante durante a sua Paixão. Ele recebeu o nome de Jesus.O evangelista não menciona diretamente a circuncisão do Salvador, à qual atribuía apenas importância secundária; o evento principal para ele era a nomeação, geralmente associada a essa cerimônia sangrenta (cf. 1:59 e a explicação), e é neste segundo ponto que ele insiste particularmente. Nosso Senhor recebeu, assim, pela primeira vez o sagrado nome de Jesus, Yeshua em hebraico, um nome sempre caro aos judeus, porque lhes lembrava de Josué, O ilustre capitão que conquistou a terra prometida e o sumo sacerdote que a reconquistou após o exílio babilônico (cf. Esdras 2:2; 3:2; Zacarias 3:1); um nome ainda mais caro aos cristãos, para quem é, nas palavras certeiras de São Bernardo, "mel na boca, melodia nos ouvidos, alegria no coração". Filo, em sua obra "A Mutação dos Nomes", § 21, apresenta seu verdadeiro significado: salvação do Senhor. Que o anjo lhe havia dado… cf. 1, 31. – «Nós, cristãos, temos o batismo, um rito cheio de graça e livre de todo sofrimento. Devemos, no entanto, praticar a circuncisão do coração.» São Boavento. Vita Christi, 5. Pinturas de Guercino, Barbieri e Parmigianino.
Lucas 2.22 Então, quando se completaram os dias da purificação deles, segundo a lei de Moisés, Casado E José levou o menino a Jerusalém para apresentá-lo ao Senhor. 23 conforme está escrito na lei do Senhor: «Todo primogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor»,» 24 e oferecer em sacrifício, conforme prescrito pela lei do Senhor, um par de rolas ou dois pombinhos.Os três versículos com que São Lucas inicia este novo episódio da infância do Salvador resumem, de forma um tanto obscura devido à sua concisão, duas leis e cerimônias distintas do judaísmo. A primeira dizia respeito às mães e prescrevia para elas, após cada parto, uma purificação especial para libertá-las da impureza legal que haviam contraído; é a isso que se refere o versículo 24 e o início do versículo 22. A segunda dizia respeito aos filhos primogênitos e ordenava aos seus pais que os apresentassem ao Senhor e os resgatassem por uma quantia específica: é a isso que se refere o final do versículo 22 e o versículo 23. Quando se completaram os dias da sua purificação. A purificação se aplica a Casado Como a lei judaica impunha a purificação às mães, e não às crianças, José não estava sujeito a qualquer purificação cerimonial, mas era ele, como pai adotivo, quem se preocupava com a apresentação da Criança: é por isso que o evangelista aplica coletivamente aos santos esposos o que lhes dizia respeito individualmente; ele os trata como pessoas morais. De acordo com a Lei de Moisés. Veja Levítico, capítulo 12, que trata inteiramente deste assunto. A impureza legal das mães durava, estritamente falando, apenas sete ou quatorze dias, dependendo se tivessem dado à luz um filho ou uma filha; mas, passado esse tempo, elas ainda tinham que esperar 33 ou 66 dias antes de comparecerem ao templo. Portanto, elas não eram completamente purificadas até o 40º ou 80º dia, após a cerimônia religiosa. Assim, os "dias de purificação" mencionados aqui por São Lucas representam os primeiros quarenta dias que se passaram após o Natal. Eles o levaram para Jerusalém.A distância que separa Belém (Da capital judaica são cerca de nove quilômetros). Passemos agora à segunda lei, que dizia respeito aos primogênitos. Segundo um decreto anterior de Deus, todo primogênito do sexo masculino, como primícias, deveria pertencer ao Senhor e servi-Lo como sacerdote por toda a sua vida. Mas, posteriormente, Deus modificou essa lei ao confiar o cuidado do culto exclusivamente à tribo de Levi: Ele exigiu apenas que o primogênito fosse oferecido a Ele no templo, como sinal de Seu domínio sobre todo o seu ser, e permitiu que os pais o resgatassem oferecendo cinco siclos, que eram lançados no tesouro dos levitas. A cerimônia de apresentação não se repetia para os outros filhos; nem mesmo para o primogênito era realizada até que ele estivesse apto para o ofício sacerdotal. Se nascesse com uma das deformidades corporais que, segundo o ritual mosaico, excluíam os próprios levitas das funções sagradas, ele não precisava ser apresentado ao Senhor, nem ser resgatado (cf. Êxodo 32:12-15; Números 8:16-18; 18:15-16. A citação da lei no versículo 23 é feita de maneira bastante livre, como às vezes acontece com os escritores do Novo Testamento. Consagrado ao Senhor Algo sagrado para o Senhor. O significado original da palavra "santo" é: separar, reservar. E para oferecer como sacrifícioAqui, o evangelista nos leva de volta à purificação de Casado e ao sacrifício que deveria acompanhar este rito. “A mãe trará ao tabernáculo do testemunho um cordeiro de um ano para holocausto e uma rola ou uma pomba jovem para oferta pelo pecado. Ela os entregará ao sacerdote, que os oferecerá perante o Senhor e orará por ela, e ela será purificada… Se uma mulher não tiver condições de oferecer um cordeiro, levará duas rolas ou dois pombinhos, um para holocausto e o outro para oferta pelo pecado.” Levítico 12:6-8. Este é o texto completo da lei. São Lucas cita apenas a última parte, indicando assim que o sacrifício de Casado era a dos pobres. – É necessário acrescentar aqui, seguindo os Padres da Igreja e os antigos exegetas, que os dois preceitos mencionados por São Lucas não obrigavam nem Jesus nem Maria? A mãe de Cristo deu à luz fora de todas as regras ordinárias da natureza; segundo os próprios termos da lei mosaica, ela estava isenta da purificação ordinária. Quanto ao Menino divino, visto que ele não era outro senão Deus, o legislador de Israel, é claro que ele não se submetia aos seus próprios decretos (cf. Santo Hilário, Hom. 17 in Evangel.). Mesmo assim, eles não hesitaram em submeter-se a essas prescrições humilhantes. “Ó profundidade da sabedoria e do conhecimento de Deus! Aquele que é o autor da lei como Deus a observou como homem” São Cirilo (Cat. Graec.).humildadeA obediência sempre foi uma virtude característica de Jesus e de Casado.
Lucas 2.25 Havia em Jerusalém um homem chamado Simeão, justo e temente a Deus, que esperava a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava sobre ele.São Lucas não fornece detalhes sobre a purificação da Virgem Santíssima e a apresentação de Jesus; porém, por outro lado, ele se detém com carinho em dois incidentes, não menos significativos e pitorescos, que ocorreram naquele belo dia. O primeiro incidente coloca repentinamente São Simeão no centro da narrativa: Quem era esse piedoso habitante de Jerusalém? Às vezes, tenta-se identificá-lo com várias figuras da história judaica, que também tinham o nome então tão comum de Simeão. Shimeon, em particular com o Rabino Simeão, presidente do Sinédrio por volta do ano 13 d.C., filho do famoso Hillel e pai do igualmente famoso Gamaliel. Outros o identificaram como um sumo sacerdote, seguindo o Evangelho apócrifo de Nicodemos, capítulo 16. Mas todas essas conjecturas carecem de fundamento histórico. Além disso, é implausível que São Lucas simplesmente designasse um sumo sacerdote ou um alto presidente pela palavra homem. Uma tradição muito legítima, apoiada pelo texto do Evangelho (cf. versículos 26 e 29), retrata Simeão como um homem idoso, embora não necessariamente decrépito, como afirma a literatura apócrifa. Além disso, embora o escritor sagrado nada nos diga sobre a aparência exterior de São Simeão, ele esboça em poucas linhas um magnífico retrato moral de seu herói. Ele era um homem justos e tementes a Deus, um homem perfeito do ponto de vista da religião judaica. Acima de tudo, era um homem de fé que, em meio às humilhações de seu povo, não se esqueceu nem das promessas feitas aos patriarcas nem das sucessivas profecias dos profetas a respeito do Messias: Ele aguardava consolo de Israel., Ou seja, o grande libertador, o consolador supremo, aquele a quem Isaías 61:1-3 dedica estas palavras: «O Espírito do Senhor Deus está sobre mim… Ele me enviou para curar os de coração quebrantado… Para dar aos que choram em Sião uma coroa em vez de cinzas, o óleo da alegria em vez de pranto, um manto de louvor em vez de espírito abatido». A justiça, a piedade e a fé de Simeão, de certa forma, haviam fixado o Espírito Santo em seu coração: o Espírito Santo estava dentro dele. Este tempo verbal imperfeito, como apontam os comentaristas, significa uma habitação permanente do Espírito de Deus, e não meramente uma passagem temporária.
Lucas 2.26 O Espírito Santo havia lhe revelado que ele não morreria antes de ver o Cristo do Senhor. – Num daqueles momentos de união íntima e doce que frequentemente acompanham a presença do Espírito Santo numa alma, foi claramente revelado a Simeão que ele teria a alegria de ver Cristo antes de morrer. A antítese do oráculo divino é notável: ele não veria a morte antes de ter visto Cristo. No quarto Evangelho, 8:51, há também menção de «ver a morte». Cf. Salmo 88:48. O Cristo do Senhor não mais Cristo Deus, como no versículo 11, mas o Cristo de Deus, isto é, enviado, dado pelo Senhor.
Lucas 2.27 Então, movido pelo Espírito, entrou no templo. E quando os pais trouxeram o menino Jesus para cumprirem os ritos legais referentes a ele, Ele chegou ao templo, movido pelo Espírito, por um impulso irresistível do Espírito Santo (cf. Mateus 22:43). A promessa celestial estava finalmente prestes a se cumprir para Simeão. Assim que os pais do menino Jesus o trouxeram. Os racionalistas afirmam que existe uma contradição entre a palavra pais e o pensamento anterior no relato de São Lucas (1:34 ss.); mas os próprios protestantes se propõem a refutá-los. “Que crítica! A palavra ‘pais’ é usada simplesmente para designar a qualidade em que José e Casado apareceu naquele momento no templo e apresentou a criança” (Godet). Quando o ancião Simeão se juntou ao casal sagrado, eles estavam, portanto, passando pelo portão do templo para oferecer Nosso Senhor Jesus Cristo ao Deus de Israel e pagar seu resgate. Daí se depreende que Casado Ela havia sido purificada, pois o acesso ao templo lhe era proibido até que fosse limpa da mácula legal que se presumia que a afligia, como acontecia com as mães comuns. O sacerdote da semana viera até ela no Portão de Nicanor, ou Portão Oriental, reservado para esse tipo de cerimônia, e realizara os ritos habituais. Nada impedia agora a mãe de Cristo de oferecer seu Filho ao Pai Celestial.
Lucas 2.28 Ele também o recebeu em seus braços e louvou a Deus, dizendo:Desde a sua Encarnação, Jesus teve várias testemunhas que proclamaram a sua entrada no mundo e cantaram sobre a sua Redenção: no céu os anjos, na terra Isabel, João Batista, Zacarias, os pastores de BelémEle agora se junta a eles. “Todas as idades e todos os sexos têm fé em eventos milagrosos: uma virgem dá à luz, uma mulher estéril concebe, um homem mudo fala, Isabel profetiza… aquele que está confinado em um ventre se alegra, a viúva é socorrida, o justo espera…”. Santo Ambrósio, Exposição em Lucas. Simeão, em seu êxtase, portanto, gentilmente arrancou a criança dos braços de Casado ou de José para abraçá-lo. “Mãos benditas que tocaram a Palavra da Vida, e braços preparados para recebê-lo!” São Gregório de Nissa em Cato Theologica. Que imagem verdadeiramente divina! São Lucas a descreveu tão bem que os artistas só precisaram copiá-la, e foi isso que fizeram admiravelmente, entre muitos outros: van Eyck, Guido Reni, Rubens, Frei Bartolomeo Filiberto de Champaigne, Francia, Veronese, Frei Angelico, Ticiano, Rafael. Veja na literatura apócrifa (Evangelho da Infância, cap. 6, e Protoevangelho de São Tiago, cap. 15) curiosas lendas sobre como Simeão reconheceu o Messias. Ele louvou a Deus e disse:. Inundado de consolações, iluminado mais do que nunca pelo Espírito Santo, Simeão, tornando-se profeta e poeta, canta seu sublime cântico, que foi para ele seu canto do cisne, como já foi repetido tantas vezes.
Lucas 2.29 Agora, ó Senhor, deixe o seu servo partir em paz, conforme a sua palavra., – Agora. Nada mais impede sua morte, visto que ele contemplou o Messias. Os exegetas apontam corretamente que o uso do tempo presente, deixar, corrobora a ideia expressa pelo advérbio AGORA. Simeão fala de sua morte como algo iminente, cujo adiamento não teria razão de existir, visto que a condição pela qual Deus o preservara na Terra acabara de ser cumprida. O verbo no texto grego denota a libertação de um prisioneiro, o ato de desmobilizar tropas, de dispensar um soldado de seu posto. Significa sempre uma libertação feliz. Escritores clássicos também o usam para se referir à morte. O piedoso ancião fala, portanto, como um homem para quem esta vida era agora um fardo e a vida após a morte um doce repouso, uma emancipação ardentemente desejada. Em paz, não apenas completamente tranquilo quanto ao futuro de seu povo (Eutímio), mas também com seus desejos pessoais plenamente satisfeitos.
Lucas 2.30 desde que meus olhos viram a tua salvação, – Simeão agora nos revela o motivo de sua paz e felicidade: Desde que meus olhos viram…O velho feliz também poderia ter dito que seus braços haviam carregado Cristo; mas ele prefere mencionar o cumprimento da promessa divina, v. 26. Salvação, A salvação messiânica é dada ao mundo pelo Senhor na pessoa de Jesus.
Lucas 2.31 que preparaste diante de todos os povos:É precisamente essa catolicidade, essa universalidade do reino de Cristo, claramente contrastada por um judeu com o particularismo estreito de seus contemporâneos. Os israelitas daquela época, esquecendo-se das profecias muito claras (cf. Isaías 46:13; 49:6; 52:7-10, etc.) que anunciavam um Messias destinado a salvar todos os povos sem exceção, esperavam, em sua maioria, apenas um Salvador cujas bênçãos se limitariam à nação teocrática. Simeão rompe com esse círculo mesquinho: o Cristo que ele celebra não será um Redentor parcial; ele trará a salvação do mundo inteiro.
Lucas 2.32 Luz para dissipar as trevas das nações e glória de Israel, teu povo. Contudo, o Messias não abençoará todas as pessoas da mesma maneira. Da perspectiva da verdadeira religião, a humanidade estava então dividida em duas categorias distintas: Israel e os gentios. Simeão conclui seu cântico indicando as graças especiais que Jesus trará a cada um deles. Para os gentios, ele será uma luz para iluminar as nações, uma luz que iluminará suas trevas, que lhes revelará a verdade. Essa imagem se adequa perfeitamente ao estado em que o mundo pagão se encontrava então. «Antes da vinda de Cristo», diz Santo Atanásio (ap. Cat. D. Thom.), “as nações, privadas do conhecimento de Deus, estavam mergulhadas em completa escuridão. Mas Cristo, ao aparecer”, acrescenta São Cirilo (ibid.), “foi a luz para aqueles que estavam nas trevas do erro e que haviam sido agarrados pela mão do demônio; eles foram chamados por Deus Pai ao conhecimento do Filho, que é a verdadeira luz.” cf. Isaías 25, 7; 42:6; 49:6; Mateus 4:16. – Para os judeus, Jesus Cristo trará uma glória muito especial, porque foi a eles, acima de tudo, que Ele lhe foi prometido e dado diretamente (cf. Mateus 1:21 e o comentário); glória porque Ele veio de suas fileiras; glória também porque Ele viverá e agirá pessoalmente em seu meio. No tempo e na eternidade, seu título de irmãos de Cristo segundo a carne será para eles motivo de legítimo orgulho. Tal é o "Nunc dimittis", uma encantadora "joia lírica", um poema de grande riqueza apesar de sua concisão, pois resume a história religiosa de todas as épocas desde Cristo. Como o "Magnificat", como o "Benedictus", foi preservado por São Lucas para a consolação perpétua da Igreja; assim, esses poemas concluem três dos principais ofícios litúrgicos de cada dia. O cântico do santo ancião Simeão continua e completa os de Casado e Zacarias. Pode-se dizer que isso abre horizontes mais amplos: estes, de fato, eram mais especificamente israelitas, Casado Tendo cantado a Encarnação do Verbo apenas da perspectiva dele próprio e do seu povo, Zacarias também se limitou a louvar o Salvador de Israel, enquanto que, como acabamos de ver, Simeão foi além, celebrando em Jesus o libertador universal. – O paralelismo do “Nunc dimittis” é menos perfeito do que o dos dois cânticos precedentes; além disso, varia em quase todos os versículos. Sintético no versículo 29, antitético no versículo 32, é simplesmente rítmico nos versículos 30 e 31.
Lucas 2.33 O pai e a mãe da criança ficaram admirados com as coisas que foram ditas sobre ela. Ao ouvir as palavras do santo ancião, Casado E José não conseguia conter a admiração deles. Não que tivessem aprendido algo novo. Quanta surpresa não teriam despertado em Simeão se tivessem repetido a ele ao menos uma pequena parte das maravilhas das quais haviam sido tanto perpetradores quanto testemunhas nos últimos meses? O que eles admiravam eram as circunstâncias prodigiosas que acompanhavam cada mistério da vida do Menino divino. Acima de tudo, a maneira como o Senhor revelava Jesus a corações tão humildes quanto os deles os enchia de crescente admiração. "Sempre que a manifestação de coisas sobrenaturais se renova, também se renova a admiração em nossas mentes." (Ap. Catenária dos Gregos)
Lucas 2.34 E Simeão os abençoou e disse a Casado, sua mãe: "Esta criança está no mundo para o outono e a ressurreição de um grande número em Israel e ser um sinal sujeito a contradição, – Após terminar sua canção de alegria e amor, Simeão “abençoou” Casado e José. Certamente, esta não é uma bênção no sentido estrito: "abençoado" aqui significa que ele os parabenizou, os proclamou bem-aventurados. Mas, de repente, ele recebe novas revelações do alto. A luz que ele tão admiravelmente cantara, ele vê obscurecida por nuvens que se aproximam. Então, voltando-se para Casado sua mãe (A mãe, cujo afeto é mais intenso e terno; a mãe, em oposição a José, que era apenas o guardião), disse-lhe ele com ênfase na tristeza: Esta criança está no mundo paraEssas palavras contêm uma profecia muito importante a respeito do Menino Jesus. Jesus não estava destinado, no sentido estrito da expressão, a trazer ruína a ninguém no mundo; pelo contrário, ele veio para salvar e redimir a todos. Ele será, contudo, uma causa indireta e não intencional de ruína para muitos. É fácil entender a que tipo de ruína Simeão se refere: ruína espiritual, uma decadência moral, seja neste mundo ou no vindouro, para todos aqueles que resistem a Jesus. A ressurreição O que se segue é da mesma natureza: é, mesmo nesta vida, a elevação, a regeneração das almas humilhadas pelo pecado, a glória celestial após a morte. – Uma causa involuntária de ruína para alguns, uma causa direta de ressurreição para outros; o Salvador será, assim, um sinal de contradição. Isaías havia predito este caráter do Messias com não menos clareza que Simeão: “Ele será um santuário, mas também uma pedra de tropeço e uma rocha de escândalo para as duas casas de Israel; uma armadilha e um laço para os habitantes de Jerusalém. Muitos tropeçarão, cairão e ficarão despedaçados; serão enlaçados e presos.” Isaías 8:14-15. “Voltemo-nos ao Evangelho, e especialmente ao de São João, onde o mistério de Jesus Cristo é revelado mais plenamente: é o comentário mais perfeito sobre as palavras de Simeão.” Ouçamos a murmuração do povo: Alguns diziam: “Ele é um bom homem”; Outros diziam: "Não, ele está enganando o povo..." Alguns diziam: "Ele é o Cristo"; outros, "Será que o Cristo veio da Galileia...?" Houve, portanto, uma grande discussão sobre o assunto... "Ele está possuído", diziam alguns, "ele é um louco; por que continuar a ouvi-lo?" Outros diziam: "Não são estas as palavras de um possuído?" Bossuet, 12ª Elevações da 18ª semana (ver Elevações 13-18). Além disso, poucos dias após o seu nascimento, Jesus já era alvo de contradição: foi motivo de ruína para Herodes, causa de ressurreição para os pastores, para os Magos e para as almas fiéis. A luta tem continuado ao longo dos séculos (cf. Hebreus 12:3); hoje, é mais acirrada do que nunca e durará até o fim do mundo. A humanidade estará sempre dividida em dois campos em relação a Jesus e à sua Igreja: o campo dos amigos e o campo dos inimigos.
Lucas 2.35 "Uma espada transpassará sua própria alma, e assim os pensamentos ocultos nos corações de muitos serão revelados."» – Objeto de ódio e contradição por parte de muitos, Jesus estará, portanto, mergulhado em amargura: isso fica claro no versículo 34. Mas, à “Paixão” de Cristo, corresponderá naturalmente a “Compaixão” de sua Mãe, como acrescenta agora o santo ancião. Uma espada transpassará a tua alma… A alma é aqui usada para se referir ao coração, na medida em que é a sede dos afetos e, consequentemente, do amor materno. A espada simboliza aqui as dores agudas e pungentes que transpassaram o coração de Casado durante a vida de seu divino Filho, mas que o dilacerou sobretudo no Calvário, como canta a Igreja: “A espada transpassou sua alma gemendo, triste e sofredora”. Veja Eutímio, hl. Esta bela metáfora é bastante clássica. É, portanto, errado que Santo Epifânio na antiguidade, Lightfoot nos tempos modernos e alguns outros exegetas que os seguiram, tenham tomado a palavra espada em sentido literal e concluído, a partir das palavras de Simeão, que Casado estava destinada a morrer de morte violenta. Como Beda, o Venerável, bem coloca ao explicar essa passagem: "Nenhum relato menciona que a Virgem Maria partiu desta vida após ser transpassada por uma espada, especialmente porque não é a alma, mas o corpo que a espada geralmente transpassa." Mas há outra interpretação, ainda mais estranha: consiste em ver na espada a representação figurativa de uma batalha que seria travada em Casado entre a dúvida e a fé a respeito de seu Filho, como se Jesus fosse momentaneamente um sinal de contradição até mesmo para sua Mãe. Que vários protestantes adotem esse sentimento não é surpreendente; é mais espantoso encontrar vestígios dele entre antigos cristãos ortodoxos (ver citações em D. Calmet), e até mesmo nos escritos de Santo Agostinho, pois ele não pode se basear no texto de São Lucas, nem no restante da narrativa do Evangelho: assim, é corretamente rejeitado pela maioria dos comentaristas, quaisquer que sejam suas crenças. Para que os pensamentos de muitos corações sejam revelados.…Estas últimas palavras da profecia são claras em si mesmas, mas os comentaristas discordam sobre sua conexão com as proposições precedentes. Alguns as relacionam simplesmente a um “sinal de contradição”. Jesus, dizem eles, pelo próprio fato de ser um sinal de contradição, forçará seus inimigos a revelar os pensamentos mais secretos de seus corações. A predição referente a Casado Como está isolada entre duas cláusulas às quais não está diretamente ligada, é colocada entre parênteses. Mas acreditamos, juntamente com outros exegetas, que é mais natural e mais coerente com o fluxo de pensamento considerar esta proposição final de Simeão como a conclusão, a consequência das três anteriores tomadas em conjunto. As três primeiras cláusulas constituem um todo inseparável: Casado Jesus sofrerá muito por causa das contradições às quais seu Filho será submetido; essas contradições decorrerão do próprio papel de Jesus em relação a Israel. Tudo isso, em conjunto, resultará na revelação dos corações. Ao tomarem partido a favor ou contra Cristo, as pessoas necessariamente revelarão o que pensam e desejam, suas intenções e seus afetos mais secretos.
Lucas 2.36 Havia também uma profetisa, Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser; ela era de idade muito avançada, tendo vivido sete anos com seu marido desde a sua virgindade. 37 Tendo permanecido viúva e chegado à idade de oitenta e quatro anos, ela não deixou o templo, servindo a Deus dia e noite em jejum e oração. »Uma antiga lenda conta que Simeão morreu de felicidade naquele exato momento aos pés do Menino Jesus. Então, Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser, aproximou-se. O evangelista«, exclama Teofilato, »para com prazer em descrever Santa Ana”. Se ele nos dá não apenas o nome desta piedosa mulher, mas também o de seu pai e o de sua tribo, poderia ser por causa de seu significado figurativo? Isso foi sugerido: “Como Ana significa Graça, Fanuel a Face de Deus e Aser o Feliz, poderíamos encontrar nesta tríplice designação uma maravilhosa adequação. Tudo isso se comprovou em Ana: esses nomes continham sua história”. Mas o raciocínio nos parece mais engenhoso do que verdadeiro. O texto sagrado acrescenta que Ana era uma profetisa. Ela também recebeu revelações sobrenaturais que, em sua maioria, sem dúvida diziam respeito ao Messias: o versículo 10.38 parece indicar isso, pelo menos. São Lucas enfatiza ainda mais sua idade avançada; ele especifica a duração de sua vida conjugal; Então ele observa a condição dela de viúva, e de viúva santa. Oitenta e quatro anos de idade. Alguns exegetas acreditam que isso se refere à idade total de Santa Ana naquele momento de sua vida; outros, seguindo Santo Ambrósio, aplicam-se apenas aos anos de sua viuvez. Supondo, de acordo com essa segunda hipótese, que Ana tivesse se casado aos 15 anos, segundo o costume judaico, ela teria então 106 anos (15 + 7 + 84). Mas acreditamos que a primeira visão seja mais provável. – Na Antiguidade, a viuvez era muito menos comum do que é hoje. mulheres Elas quase sempre se casavam novamente, pelo menos quando ainda eram jovens na época da morte do primeiro marido. Ana, assim como Judite, foi uma gloriosa exceção a essa regra; e usou sua liberdade para servir a Deus com maior perfeição. Ela não saiu do templo.Devemos interpretar essas palavras literalmente e supor que Santa Ana realmente residia em um dos anexos do templo? Ou não seria melhor acreditar que o escritor sagrado as usou hiperbolicamente, para dizer que a piedosa viúva passava grande parte de seus dias nos pátios sagrados (cf. 24, 53; Ato 2(p. 46)? Estamos mais inclinados a esta segunda interpretação. Em todo caso, é claro que Ana estava morta para o mundo e vivia somente para Deus. Ela personificava a imagem da verdadeira viúva descrita por São Paulo em 1 Timóteo 5:5. Ela perseverava em sua adoração incessante, noite e dia. Embora já tivesse passado da idade em que as penitências corporais constituem um elemento importante da santidade, sua vida era, no entanto, um jejum contínuo. Se a oração era a obra de sua vida, a penitência era seu lazer.
Lucas 2.38 Ela também, chegando naquela hora, começou a louvar o Senhor e a falar do Menino a todos os que estavam em Jerusalém aguardando a redenção. Movida, como Simeão, por um poderoso impulso do Espírito Santo que habitava nela, Ana chegou quase ao mesmo tempo que o santo ancião, no momento em que Casado E José estavam prestes a realizar a cerimônia de redenção da criança; e, reconhecendo neste recém-nascido o Libertador de Israel, o Messias, ela começou a glorificar publicamente o Senhor. começaram a louvar o Senhor. A partir de então, Santa Ana encontrou grande alegria em falar de Jesus a todos os que aguardavam o Messias. – O episódio termina abruptamente com este detalhe, e São Lucas nos leva de volta a Nazaré, seguindo a Sagrada Família.
Lucas 2:39-52 = Mateus 2:23.
Lucas 2.39 Depois de terem feito tudo segundo a lei do Senhor, voltaram para a Galileia, para Nazaré, sua cidade natal. Este versículo estabelece uma transição entre o mistério da apresentação de Jesus no templo e o de seu retiro obscuro em Nazaré. Vimos anteriormente, ao explicar os versículos 22-24, o que a lei mosaica exigia das mães e de seus filhos primogênitos. Antes de prosseguir para outro episódio, o evangelista faz questão de dizer que Casado E José permaneceu fiel a todos os seus mandamentos. Belém era a “cidade de Davi”, seu ancestral, v. 4, e eles só tinham passado por lá de passagem, para obedecer a um decreto de César, ou melhor, à vontade da divina Providência; mas Nazaré era seu lar, onde estavam estabelecidos há muito tempo (cf. 1:56): portanto, retornaram para lá assim que não havia mais nada que os prendesse na Judeia. Expliquemos a concordância entre o relato de São Mateus e o de São Lucas a respeito da Infância de Jesus: cada uma das duas narrativas pode ser reduzida a cinco eventos distintos. Segundo o primeiro Evangelho, capítulo 2, há o 1º nascimento de Jesus em Belém2. A Adoração dos Magos naquela mesma cidade, 3. A Fuga para o Egito, 4. O Massacre dos Santos Inocentes, 5. O Retorno do Egito e o Estabelecimento da Sagrada Família em Nazaré. De acordo com Lucas 2:1-39, há 1. O Nascimento de Jesus em Belém2. A adoração dos pastores, 3. A circuncisão, 4. A purificação de Casado e a Apresentação de Jesus no Templo, 5º o retorno da Sagrada Família à Galileia. Enquanto São Mateus conduz Jesus, Casado e José de Belém no Egito, antes de trazê-los de volta para Nazaré, São Lucas parece afirmar que, tendo partido... BelémEles retornaram diretamente a Nazaré. Seguindo Celso e Porfírio (cf. S. Epiph. Haer. 51, 8), os racionalistas frequentemente contrastam São Mateus com São Lucas, às vezes rejeitando um relato em detrimento do outro (Schleiermacher, Schneckenburger, etc.) e às vezes rejeitando ambos (Strauss, Leben Jesu, 1835, §§ 34 e 35). O próprio Meyer, embora bem menos avançado, afirma que "a reconciliação é impossível". Alford, apesar de sua crença, não hesitou em dizer: "No estado atual dos dois relatos, não é possível sugerir um método satisfatório para uni-los. Quem tentou isso violou, em alguma parte de sua hipótese, a probabilidade ou o bom senso". Embora nós, como exegetas católicos, sigamos regras de crítica muito mais rigorosas do que aquelas às quais um ministro anglicano está sujeito, consideramos os dois relatos compatíveis. 1. É fácil entender que os escritores sagrados não relataram exatamente os mesmos eventos: São Mateus escolheu aqueles que se encaixavam melhor em seu plano (veja nosso comentário sobre Mateus 2:22); São Lucas incluiu em sua narrativa aqueles que encontrou nos documentos que utilizou. 2. A concordância é alcançada da maneira mais simples para os eventos iniciais: Jesus nasce em Belém Segundo os dois evangelistas, ele é adorado pelos pastores e, em seguida, circuncidado no oitavo dia, de acordo com São Lucas. Há também concordância entre os dois em relação à estadia em Nazaré, que São Mateus e São Lucas narram em conjunto. 3. Tudo acontece primeiro como São Lucas descreve, até a Apresentação do Rei. Os Magos, então, vêm adorar Jesus em Belém, para onde seus pais o trouxeram de volta após deixarem Jerusalém. Depois disso, veio a fuga para o Egito, o Massacre dos Santos Inocentes, o retorno do Egito e o estabelecimento da Sagrada Família em Nazaré. Assim, os relatos são respeitados em sua integridade original; há apenas a inserção do relato de São Mateus após o de São Lucas da maneira mais natural. – Os dois evangelistas não se contradizem, mas se complementam. São Lucas, não pretendendo narrar a visita dos Magos e suas dolorosas consequências, poderia muito bem ter conduzido a Sagrada Família diretamente de Jerusalém para Nazaré, sem excluir viagens intermediárias. Historiadores seculares frequentemente usam essa liberdade, e ninguém pensa em criticá-los por isso. – Veja sobre essa questão Santo Agostinho, *De consensu Evangelica*; Dehaut, *L'Évangile expliqué, défendu*, 5ª ed., vol. 1, p. 343 e ss.; Maldonat, Comment. in Matt. 2, 13, 22, 23.
Lucas 2.40 Contudo, a criança cresceu e se fortaleceu, enchendo-se de sabedoria, e a graça de Deus estava sobre ela. – Nestas poucas linhas, o evangelista resume os primeiros doze anos de Nosso Senhor Jesus Cristo: apresenta-os, de modo geral, como um tempo de crescimento e desenvolvimento universal, como acontece com todos os povos. Cf. Justino Mártir, Diálogos sobre Trifão, capítulo 88. Repleto de sabedoria. Sob a aparência de uma humilde criança, Jesus ocultava sabedoria infinita, em virtude de sua natureza divina. Veja a explicação do versículo 52. No grego, a forma verbal parece indicar uma efusão perpétua e constantemente reiterada da Sabedoria divina sobre a alma de Nosso Senhor Jesus Cristo. cf. Schegg, hl – A graça de Deus estava nele.. O favor de Deus, portanto, repousava, ou melhor, descia visivelmente sobre o Filho de Maria: o Senhor, dali em diante, depositava toda a sua alegria nesta criança bendita. Quão insípido seria o pensamento se alguém visse nisso, seguindo alguns exegetas, uma indicação das graças corporais de Jesus. – São Lucas já havia feito uma observação semelhante a respeito do Precursor, em 1:66 e 80. Mas que diferença entre o crescimento de São João e o de Cristo! Ali, além disso, dizia-se apenas que a mão de Deus estava com o filho de Zacarias, enquanto aqui é a própria graça de Deus que habita em Jesus.
Jesus entre os Doutores. vv. 41-50
«O evangelista agora demonstra a verdade do que acabou de dizer.» São Cirilo, apostólico, D. Thomas. São Lucas, de fato, destaca a sabedoria verdadeiramente divina de Jesus por meio de uma comovente anedota. Este episódio é ainda mais precioso para nós porque contém a primeira manifestação pessoal do Salvador, porque nos permite vislumbrar as profundezas de sua alma e sua infância, e porque é único nos Santos Evangelhos. É verdade que a literatura apócrifa tentou levantar o véu que cobre os primeiros anos de Nosso Senhor Jesus Cristo, e que abunda em informações sobre a vida oculta em Nazaré. Mas, além de alguns detalhes que, como São Jerônimo, em sua carta Ad Laetam, pode comparar a um pouco de ouro em muita lama, que pobre ideia nos dá do Menino-Deus! Uma exibição teatral de milagres sem sentido, fábulas chocantes, um Jesus que não é humilde, nem obediente, nem simples, que posa diante de todos — é isso que encontramos ali. A Providência permitiu que esses livros estranhos chegassem até nós para que possamos ver melhor a diferença entre os Evangelhos do céu e os Evangelhos da terra. Veja a obra de Brunet já citada.
Lucas 2.41 Mas seus pais iam a Jerusalém todos os anos para a festa da Páscoa. – Este verso e o seguinte contêm os detalhes preliminares da história. Seus pais iam todos os anos.…Primeiro detalhe, de natureza mais geral. Cada ano é uma elipse para “por ocasião da festa da Páscoa”, então os pais de Jesus fizeram uma peregrinação a Jerusalém. Mas é provável que o evangelista esteja abreviando neste ponto, e que, se ele menciona apenas a Páscoa, seja porque o incidente que ele relata ocorreu durante essa solenidade. De fato, segundo a lei judaica, era três vezes por ano — na Páscoa, no Pentecostes e na Festa dos Tabernáculos — que os israelitas deveriam visitar o santuário e, assim, fortalecer os laços que os ligavam à teocracia (cf. Êxodo 2:14 e seguintes; 34:23; Deuteronômio 16:16). Não havia exceção, exceto por… os doentesos idosos, as crianças pequenas e mulheresMas essas mulheres, por piedade, frequentemente iam a Jerusalém para celebrar pelo menos a Páscoa (cf. 1 Samuel 1:7; Mateus 27:55; Marcos 15:4; Lucas 23:55). Hillel chegou a tentar tornar essa presença obrigatória para elas. De qualquer forma, não nos surpreende ver que Casado acompanhou seu santo marido a Jerusalém.
Lucas 2.42 Quando ele completou doze anos, eles subiram até lá, de acordo com o costume desta festa., Essa idade tinha importância primordial entre os judeus, devido a um antigo costume ligado a vários detalhes das vidas de Moisés, Salomão e outros. Criança antes de atingi-la, a pessoa se tornava homem ao ultrapassá-la; mas, acima de tudo, por volta dessa época, tornava-se um "filho da lei", ou seja, estava sujeito a todos os preceitos da lei mosaica, pois agora era considerado forte o suficiente para observá-los, mesmo em seus aspectos mais difíceis. Consequentemente, aos doze anos, o jovem israelita estava sujeito aos jejuns e peregrinações que discutimos. Segue-se, então, que a jornada descrita neste trecho por São Lucas foi a primeira das que Jesus fez a Jerusalém após sua Apresentação no Templo? Vários exegetas aceitaram isso (von Burger, Abbott, etc.). Mas parece mais natural acreditar, como defendem Santo Agostinho, Maldonato, Lucas de Bruges, Jansênio e outros, que seus pais não o haviam deixado em suas peregrinações anteriores. A circunstância de sua idade é inteiramente incidental no relato do evangelista.
Lucas 2.43 E quando voltaram para casa, passados os dias da festa, o menino Jesus permaneceu na cidade, sem que seus pais o percebessem. 44 Pensando que ele estivesse com seus companheiros de viagem, caminharam o dia todo e depois o procuraram entre seus parentes e conhecidos. – Jesus perdido em Jerusalém. As celebrações da Páscoa duravam uma oitava inteira, ou seja, 8 dias consecutivos (cf. Êxodo 12:15; Levítico 23:3 ss.; Deuteronômio 16:3), e é muito provável, segundo a expressão de São Lucas, que Casado E José permaneceu em Jerusalém por oito dias inteiros antes mesmo de considerar partir. No entanto, também era possível partir já no terceiro dia, após a parte mais importante da cerimônia. O menino Jesus permaneceu em Jerusalém.. Ele permaneceu, como ele mesmo explica um pouco mais adiante, no versículo 49, porque "os negócios de seu Pai" exigiam isso: ele não avisou nem sua Mãe nem São José, porque estava de acordo com o plano secreto de Deus que eles se entristecessem com sua ausência temporária. Seus pais não perceberam.Veja o versículo 33 e a explicação. Parece, a princípio, muito estranho que Casado Assim, José se separou de Jesus e eles saíram de Jerusalém sem encontrá-lo. Mas tudo se explica facilmente se considerarmos as circunstâncias do desaparecimento do Menino. A Sagrada Família não viajava sozinha (cf. v. 44); retornavam a Nazaré com uma caravana composta por muitos peregrinos galileus. Ora, a partida de uma caravana oriental é tão lenta e caótica quanto barulhenta. Muitas vezes, portanto, os jovens impacientes tomam a frente e todos se encontram na parada seguinte; as mães sabem disso e não se preocupam. Ou, mesmo que tivessem partido juntos, logo se formam vários grupos. Mulheres E os homens mais velhos costumam andar de burro; os homens e os jovens vão a pé; mil incidentes atrasam ou aceleram a viagem; as crianças, que a princípio correm ao lado dos pais, logo se juntam a um grupo próximo. Além disso, não nos esqueçamos de que estamos no Oriente, onde, aos doze anos, já se é frequentemente tratado como um rapaz. Finalmente Casado José e sua esposa conheceram Nosso Senhor e, embora sua sabedoria fosse evidente a todos desde a mais tenra idade, ninguém teve tanta prova disso quanto sua mãe e guardiã. Por todas essas razões, às quais podemos acrescentar, seguindo Eutímio, a economia da divina Providência, Casado José e sua família não ficaram muito surpresos com a ausência de Jesus, supondo corretamente que ele estivesse com seu povo. No entanto, após um dia de caminhada (seis ou sete horas) durante o qual o Menino não reapareceu, a caravana parou para passar a noite, e os membros de cada família se reuniram para preparar um acampamento comum. Foi então que Casado E José, vendo que Jesus não se juntava a eles, começou a procurá-lo entre os diferentes grupos. “O Salvador permaneceu em segredo para que seus pais não pudessem se opor à discussão que ele desejava ter com os mestres da lei; ou talvez quisesse evitar parecer desprezar a autoridade de seus pais, recusando-se a obedecê-los. Portanto, permaneceu em segredo, seja para agir com total liberdade, seja para evitar ser acusado de desobediência.” (A Cadeia dos Padres Gregos)
Lucas 2.45 Não o tendo encontrado, voltaram a Jerusalém para procurá-lo.Após esforços infrutíferos, retomaram a jornada para Jerusalém. O santo casal continuou sua busca angustiante desde o local onde haviam parado até chegar a Jerusalém. Naquele dia, a espada da dor predita por Simeão deve ter se voltado cruelmente na alma de Casado.
Lucas 2.46 Após três dias, encontraram-no no templo, sentado entre os mestres, ouvindo-os e fazendo-lhes perguntas. – Jesus encontrado no templo, vv. 46-50. – Após três dias. Não se trata do retorno dos pais de Jesus a Jerusalém, como afirmam de Wette, Baumgarten-Crusius, etc., mas sim da sua partida, que serve de ponto de partida para a narrativa. No primeiro dia, eles deixaram a cidade santa e seguiram para o norte; no segundo dia, chegaram a Jerusalém; no terceiro, encontraram o Salvador. No templo. Jesus não estava no próprio santuário, mas em um dos anexos do templo. Entre os muitos edifícios designados por esse nome, havia salas usadas para as aulas acadêmicas dos rabinos: foi em uma dessas salas que Jesus foi encontrado. O evangelista descreve sua postura em termos pitorescos, que dão vida à cena diante de nossos olhos. Ele está sentado entre os mestres, não, porém, como um deles, como os pintores erroneamente acreditam (aqueles que melhor retrataram essa cena são Giotto, Ferrari, Bernardino Luini, Pinturicchio, Giovanni d'Udine e Valentin), mas sobre uma esteira, à maneira dos alunos orientais. É verdade que ele não apenas ouvia os ensinamentos dos rabinos, visto que o texto sagrado afirma expressamente que ele próprio falava para questioná-los; mas mesmo nisso, ele agia mais como um aluno do que como um professor. De fato, o método rabínico incentivava muito as perguntas e objeções dos alunos: isso fica evidente em cada página do Talmud. "Aprendi muito com meus rabinos", disse um velho professor judeu; "Aprendi ainda mais com meus colegas; mas foi com meus alunos que mais aprendi." Além disso, nossa opinião é a dos Padres (cf. Orig. hl; S. Greg. Pastoral. 3, 26; Maldonat e D. Calmet), e a ideia contrária seria totalmente contrária ao espírito do menino Jesus. – Qual era o tema das perguntas de Jesus? Podemos conjecturar isso a partir do restante de sua vida: "O que vocês acham do Cristo?", ele perguntaria mais tarde aos doutores judeus. "De quem ele é filho?" As perguntas da criança eram, sem dúvida, da mesma natureza que as do homem maduro. Um Evangelho apócrifo afirma falsamente que Jesus começou a explicar aos rabinos, atônitos, o número de esferas e corpos celestes, sua natureza e seu funcionamento, e a descrever física, metafísica, hiperfísica e hipofísica. cf. Evang. Infantiae arabicum, cap. 48-52.
Lucas 2.47 E todos que o ouviam ficavam encantados com sua inteligência e suas respostas. – O espanto os dominou. O historiador Flávio Josefo, sempre pronto a falar de si mesmo, relata em sua Vida, capítulo 1, que aos 14 anos surpreendeu a todos com a precocidade e a profundidade de sua inteligência, a tal ponto que os sacerdotes e doutores gostavam de lhe fazer perguntas sobre a Lei Mosaica. Mas o que era a sabedoria de uma criança humana comparada à de Jesus? A resposta de Nosso Senhor à sua Mãe, versículo 49, nos ajudará a compreender a profundidade de suas respostas aos rabinos. Beda: Para mostrar que era um homem, ele ouviu com modéstia os doutores, que eram apenas homens; mas para provar que era Deus, respondeu às suas perguntas de maneira sublime. Suas palavras, de fato, revelavam sabedoria divina, mas sua idade o encobria com a aparência exterior de fraqueza humana. Os judeus também, divididos entre as coisas sublimes que ouviam e a aparente fraqueza que lhes parecia, sentiam uma mistura de admiração com dúvida e incerteza. Mas para nós, nada disso é surpreendente, pois sabemos pelo profeta Isaías que, embora tenha escolhido nascer como uma criança por nós, Ele permanece, não obstante, o Deus poderoso.
Lucas 2.48 Quando o viram, ficaram admirados, e sua mãe lhe disse: "Meu filho, por que você fez isso conosco? Seu pai e eu estávamos procurando por você aflitos."« – Por sua vez, José e Casado Eles estão surpresos. É Casado Quem fala, e não José: um detalhe perfeitamente natural, visto que o afeto de uma mãe é mais intenso que o de um pai, e ainda mais que o de um pai adotivo. Vários exegetas antigos (Salmeron, Maldonat, etc.) sugerem delicadamente que a Virgem Maria esperou até que a assembleia em cujo meio encontrara Jesus se dispersasse antes de compartilhar com ele suas angústias maternas. Nessa hipótese, a cena que se segue teria sido presenciada apenas por membros da Sagrada Família. Por que você agiu dessa maneira conosco? Jesus nunca antes havia lamentado a perda de seus pais. Na exclamação que tão espontaneamente escapa do coração de CasadoEscritores protestantes e racionalistas procuraram encontrar aspereza nisso. Por mais que tentemos, encontramos apenas a expressão de uma terna afeição, unida ao mais profundo respeito. Veja Lucas de Bruges, hl Casado Ela não se queixa diretamente; simplesmente deixa que os fatos falem por si, e eles foram tão eloquentes: nós a procuramos, profundamente angustiados. A palavra grega para "angustiados" é muito poderosa: descreve dores tão intensas quanto as do parto. O pretérito imperfeito indica buscas longas e árduas. Casado Ele humildemente adota o nome de São José e confere ao guardião de Jesus o glorioso título de pai. Este era o título que ele ostentava tanto na família quanto perante a opinião pública; e o mereceu pela generosidade de seu amor pelo Menino divino. (cf. Bossuet, 5ª Lição da 20ª Semana.)
Lucas 2.49 E ele lhes respondeu: "Por que vocês estavam me procurando? Não sabiam que eu devia estar na casa de meu Pai?"« – Casado havia falado em nome de São José tanto quanto em seu próprio nome: por isso Nosso Senhor dirige sua resposta a eles coletivamente. Essa resposta é de valor infinito para nós, não apenas por seu imenso alcance e suas lições significativas, mas também porque contém o primeiro dito do Evangelho de Jesus, aliás, o único dito que os Santos Evangelhos preservaram de seus primeiros trinta anos. O racionalismo, que não conhece respeito, também o atacou, alegando que Jesus demonstra rigidez e até insubordinação para com sua mãe e seu pai adotivo; quando, ao contrário, é admirável em todos os aspectos e verdadeiramente digno de Jesus. Nobre e simples ao mesmo tempo, combinando majestade e...humildadeNão é menos apropriado para o Filho do Homem do que para o Filho de Deus. Mas possui profundezas insondáveis, e pode-se entender que mentes estreitas e superficiais, cegadas por preconceitos religiosos, foram incapazes de compreendê-lo. Às duas questões de CasadoO Menino Divino responde com duas perguntas em resposta. Jesus de modo algum culpa sua Mãe e São José por terem buscado ansiosamente seu amado filho; ele simplesmente os lembra, em termos respeitosos e delicados, de sua natureza superior e dos grandes deveres que ela lhe impõe. Veja Beda, o Venerável, hl. A frase às coisas de meu Pai Essa expressão recebeu duas interpretações, ambas igualmente autorizadas pelo uso clássico. As versões siríaca e armênia, diversos Padres da Igreja (Orígenes, Santo Epifânio, Teofilato, Eutímio) e vários exegetas (Kuinoel, Meyer, etc.) a consideraram sinônimo de "na casa de meu Pai" e, consequentemente, de "no templo". Por que não presumir imediatamente, como Jesus teria pensado, que eu estava no palácio de Deus, meu Pai celestial? Assim, você teria se poupado de uma pesquisa árdua. A maioria dos comentaristas mantém o significado de "assuntos de meu Pai", o que, acreditamos, é muito melhor, pois a primeira tradução limita desnecessariamente a ideia (cf. 1 Timóteo 4:15 e Gênesis 41:5 na Septuaginta). Casado havia mencionado o “pai” de Jesus: o Salvador retoma esse título, mas para lhe conferir um significado infinitamente mais elevado, o único, aliás, que correspondia à realidade dos fatos. “Corrigindo, de certa forma, as palavras de Casado Em relação àquele que era considerado seu pai, ele revela o verdadeiro Pai, ensinando que ele vem do alto” (Graec. ap. Cat. D. Thom. hl) – Jesus indica assim por que permanecera em Jerusalém: os assuntos de seu Pai celestial o haviam retido. Distinção sublime entre os direitos de Deus e os de Casado Jesus amava profundamente sua mãe e seu pai adotivo; mas seu amor por eles não podia prevalecer sobre o dever, sobre a vontade do céu. Ele, portanto, se surpreende, por assim dizer, que eles não tivessem tido esse pensamento antes, assim como "um amante se surpreenderia se alguém lhe quisesse atribuir uma direção diferente da do Polo Norte". O "programa" de toda a vida de Jesus, a chave para todos os seus mistérios, encontra-se precisamente nesta afirmação. Dedicar-se aos assuntos de seu Pai era sempre o seu ideal. (cf. João 4:34; 8:29; 9:4; 14:31, etc.) Se alguma vez a expressão de uma criança foi profética, certamente foi a que acabamos de ler. Mas ela prenunciava renúncia e sacrifício, generosamente aceitos sempre que a glória de Deus estivesse em jogo.
Lucas 2.50 Mas eles não entenderam o que ele estava lhes dizendo. Este versículo não significa que as palavras de Jesus fossem um completo enigma para seus pais, visto que eles sabiam melhor do que ninguém que ele era o Cristo predito pelos profetas. São Lucas simplesmente quis dizer que eles não compreendiam, naquele momento, toda a extensão da resposta de Jesus. Qual era a ligação entre a presença do Menino no templo e os assuntos de seu Pai celestial? Ele iria se revelar ao mundo imediatamente? Pretendia morar no Templo regularmente? Voltar lá com frequência? Iria começar ali sua pregação e ministério? Essas e outras perguntas semelhantes inundavam suas mentes, e eles não conseguiam encontrar uma resposta completa. Como esperavam grandes coisas dele, tudo lhes parecia misterioso, e não conseguiam prever o momento ou os meios pelos quais seus planos seriam realizados. Sua imensa humildade Isso os impediu de submeter Jesus a uma série de perguntas. Eles se lembravam claramente da maneira escolhida por Deus para a Anunciação, a Encarnação e o esclarecimento das dúvidas de São José sobre como se comportar com a Virgem. CasadoHá inúmeras coisas nas profecias que são muito claras e que só foram compreendidas posteriormente, cf. Dom Calmet. “São João (...) explica em várias ocasiões que as palavras do Mestre, enigmáticas na época, deveriam ser compreendidas posteriormente, cf. 12:16; 13:7; 14:25-26; 15:26-27; 16:12-15” cf. A Bíblia Cristã, Os Quatro Evangelhos, Quebec, edições Anne Sigier, 1988, §18, p.120.
Lucas 2.51 Então ele desceu com eles e foi para Nazaré, e era-lhes obediente. E sua mãe guardava todas essas coisas no coração. — Jesus, retorna às sombras após este breve brilho. A graciosa flor de Nazaré se abriu ligeiramente e liberou um pouco de sua fragrância; mas agora se fecha novamente por muitos anos, por dezoito anos inteiros, que São Lucas resumiu em dois versículos. É verdade que este resumo é inesgotável. Ele estava sujeito a eles. «Fiquei perplexo com esta afirmação», escreveu Bossuet, na 8ª aula da 20ª semana. «Será este, então, o propósito único de Jesus Cristo, o Filho de Deus? Seu único papel é obedecer a duas de suas criaturas?» (cf. Filipenses 2:7) Que imagem admirável nestas três palavras: “Ele se submeteu a eles”. Sua mãe guardava todas essas coisas.… No versículo 19, São Lucas já havia apontado essa contemplação perpétua de Casado Diante dos mistérios de Jesus; porém, aqui ele usa uma expressão mais enfática. A Mãe, portanto, meditava dia e noite sobre as palavras e ações de seu Filho. Esse retiro em Nazaré foi para ela um tempo de doces alegrias, que nada perturbou após o episódio no templo, exceto a morte de São José, que ocorreu, muito provavelmente, algum tempo antes do ministério público de Nosso Senhor. cf. João 2, 12, onde o santo patriarca nem sequer é mencionado numa enumeração muito precisa da família humana do Salvador.
Lucas 2.52 E Jesus crescia em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos homens. – São Lucas já havia apontado, no versículo 40, a infância de Nosso Senhor Jesus Cristo como um tempo de desenvolvimento universal. Antes de deixar a vida oculta para entrar na vida pública, ele faz uma reflexão semelhante sobre a adolescência do Messias. Jesus estava progredindoEsse crescimento tinha um propósito tríplice: a mente, o corpo e a alma. – 1. A mente. Desde os primeiros séculos da Igreja, surgiu um sério debate sobre esse ponto. Em que sentido, perguntava-se, pode-se falar de desenvolvimento intelectual em Nosso Senhor Jesus Cristo? O consenso sobre esse assunto nem sempre prevaleceu entre os teólogos. Vários Padres, e especialmente Santo Atanásio, em sua Oratadia 3 contra os Arianos, capítulo 51 e seguintes, não hesitaram em admitir uma genuína progressão no conhecimento de Cristo. Como Deus, diziam eles, Jesus conhecia todas as coisas desde a eternidade; mas, como homem, cresceu em sabedoria à medida que seu entendimento era iluminado pelos esplendores da Palavra. Parecia a Santo Atanásio e outros santos Doutores que essa interpretação das palavras de São Lucas tornava possível refutar os arianos de forma mais clara e fácil, os quais as usavam indevidamente para afirmar que Jesus Cristo não era Deus, já que seu ser era limitado. Mas outros Padres, ao mesmo tempo, afirmavam que em Jesus não havia ocorrido um desenvolvimento intelectual propriamente dito. Segundo São Cirilo, em Thesaur. Assert., l. 10, c. 7, se ele cresceu, "não foi porque sua humanidade, que era perfeita desde o princípio, pudesse aumentar, mas porque se manifestou progressivamente". O crescimento, portanto, ocorreu apenas em relação a outros seres humanos. Na Idade Média, a questão foi retomada e esclarecida da maneira mais feliz. Os teólogos escolásticos distinguiram entre o conhecimento divino ou incriado de Nosso Senhor, que não difere do conhecimento da Santíssima Trindade, e o conhecimento humano ou criado que Cristo possui como homem. Dividiram ainda esse conhecimento humano em três ramos: conhecimento beatífico (ou visionário), conhecimento infuso e conhecimento adquirido (resultante da experiência). Por conhecimento visionário, entendiam o conhecimento que a alma de Cristo extraía, como a dos anjos e dos bem-aventurados, da contemplação intuitiva da essência divina; por conhecimento infuso, as percepções que Deus lhe transmitia constantemente e diretamente; por conhecimento adquirido, as noções que lhe chegavam pelo raciocínio, pela experiência e assim por diante. Ora, segundo a opinião comum, o conhecimento beatífico e infuso de Nosso Senhor Jesus Cristo era perfeito desde o primeiro instante de sua concepção; portanto, não poderia ter sido aumentado. Contudo, emitia raios mais brilhantes a cada dia, “como o sol, que, do nascer ao zênite, torna-se cada vez mais luminoso e diz-se que progride, não porque haja crescimento em seu interior, mas apenas em efeito, porque gradualmente lança sobre nós uma luz mais abundante” (Coron. Jansenius, Comm. in Luc. 2, 52). Ao contrário, sua ciência experimental crescia constantemente. Não que ensinasse a Jesus coisas inteiramente novas; mas mostrava-lhe, sob uma nova luz, ideias que ele já conhecia em virtude de seu conhecimento infuso. Assim, segundo a Carta aos Hebreus5:8, “Ele aprendeu, embora fosse Filho, por meio de seus próprios sofrimentos, o que é obedecer”. Essas distinções nos parecem esclarecer perfeitamente esse ponto delicado: elas também restauram a harmonia entre os Padres, pois explicam como alguns podiam admitir o progresso na sabedoria do Salvador enquanto outros o rejeitavam. – 2. O corpo. O termo grego é ambíguo e pode significar tanto “altura” quanto “idade”. Seguindo muitos exegetas, preferimos o primeiro desses dois significados. Além disso, a diferença não é grande, visto que, durante uma parte significativa da vida humana, o desenvolvimento da altura e do vigor físico acompanha o crescimento em idade. – 3. A alma, ou desenvolvimento moral. Aqui encontramos a mesma dificuldade que com o progresso intelectual de Jesus. Ela é resolvida de maneira semelhante. Seguindo os teólogos, distinguimos ainda entre “hábitos e atos sobrenaturais, princípios e efeitos. As obras de graça ou atos de virtude cresciam e se multiplicavam incessantemente; mas os hábitos infundidos, as disposições virtuosas, a graça santificante — tudo o que a sua natureza Deus-Homem exigia em sua alma — não podiam crescer. O Salvador sempre possuiu esses dons no mais alto grau.” (Bacuez, Manual Bíblico, vol. 3, Novo Testamento, Paris 1878, p. 171). Esta é, de fato, a doutrina de São Tomás, terceira parte, questões 7 a 12: “Em Cristo, não poderia haver aumento de graça como nos bem-aventurados… exceto segundo o efeito, isto é, na medida em que alguém realiza mais obras virtuosas.” Disso, podemos compreender como o crescimento de Jesus, tanto em sabedoria quanto em graça, ocorreu não apenas entre os homens, mas também com Deus. (Cf. 1 Samuel 2:26, onde uma reflexão semelhante é feita a respeito do jovem Samuel.) A partir de então, completo silêncio envolveu Nosso Senhor Jesus Cristo. Os primeiros acontecimentos de sua vida pareciam prenunciar uma série ininterrupta de milagres; mas agora a crônica sagrada o mostra vivendo em profunda obscuridade, como um pobre artesão (cf. Marcos 6:3) que ganha o pão com o suor do seu rosto. No entanto, diz São Boaventura, em sua Vita Christi, capítulo 15, "ao não fazer nada de maravilhoso, ele realizou precisamente uma espécie de milagre".
Se comparássemos agora os relatos da Sagrada Infância segundo São Mateus e São Lucas, poderíamos dizer que, embora harmonizem muito bem, como demonstrado acima (ver a nota sobre o versículo 39), diferem consideravelmente entre si. No Evangelho segundo São Mateus, São José parece ser a figura principal; no relato de São Lucas, ao contrário, não o é. Casado que geralmente está em primeiro plano. São Lucas relata um número maior de eventos; sua narrativa nos dá uma melhor compreensão dos primeiros trinta anos da vida de Jesus. Ao que parece, segundo uma encantadora obra de ficção do Padre Faber, Belém(p. 239 e seguintes) que ele estava entre os primeiros adoradores de Jesus na manjedoura, e que também presenciou os mistérios da Apresentação, de Nazaré, etc., tão detalhadas e vívidas são suas descrições. Ele é, por excelência, o evangelista da Sagrada Infância, assim como São João é o evangelista da divindade do Verbo.


