Leitura da Carta de São Paulo Apóstolo aos Romanos
Meus irmãos, estou convencido de que vocês estão cheios de bondade, repletos de todo o conhecimento de Deus e também capazes de corrigir uns aos outros.
Contudo, escrevi-lhes com certa ousadia, como que para vos lembrar de certas coisas, e isso em virtude da graça que Deus me concedeu. Esta graça consiste em ser servo de Cristo Jesus para com os gentios, exercendo o sagrado dever de proclamar o evangelho de Deus, para que a oferta dos gentios seja aceitável a Deus, consagrada pelo Espírito Santo.
Portanto, me glorio em Cristo Jesus no meu serviço a Deus. Pois não ousarei falar de coisa alguma, a não ser daquilo que Cristo realizou por meu intermédio para levar os gentios à obediência que vem pela fé, por palavra e por obras, pelo poder de sinais e maravilhas, pelo poder do Espírito de Deus.
Assim, partindo de Jerusalém e irradiando para a Dalmácia, completei a proclamação do Evangelho de Cristo. Fiz isso tendo como princípio evangelizar somente onde o nome de Cristo ainda não havia sido proclamado, pois não queria edificar sobre alicerces já lançados por outro.
Em vez disso, agi de acordo com o que está escrito: Aqueles a quem não foi dito verão; aqueles que não ouviram entenderão.
Ministro de Cristo para as nações: acolhendo a oferta do mundo
Servindo à universalidade da graça no Espírito.
Paulo, em seu Carta aos Romanos (Romanos 15:14-21), apresenta-se como um ministro a serviço das nações, dedicado a proclamar o Evangelho. Ele reivindica um ministério único: oferecer o mundo a Deus. Esta passagem densa e inspiradora convida o leitor moderno a refletir sobre sua própria missão — como, hoje, as pessoas e mulheres Podem aqueles que seguem a Cristo, por sua vez, santificar seus compromissos, culturas e comunidades? Este artigo destina-se àqueles que buscam unir fé, compromisso e abertura ao mundo, segundo o espírito missionário de Paulo.
- O contexto do Carta aos Romanos e o papel único de Paul
- O mistério de uma oferenda universal: significado espiritual e vocação
- Três dinâmicas: a graça recebida, a missão dada, alegria compartilhado
- A luz da tradição: de Santo Irineu a Vaticano II
- Caminhos concretos da conversão missionária
- Síntese e práticas espirituais para os dias de hoje.
Contexto
A passagem escolhida faz parte da grande conclusão do Carta aos Romanos. O apóstolo Paulo dirige-se a uma comunidade que ele próprio não fundou, mas pela qual nutre uma profunda preocupação. Os romanos, cristãos tanto do judaísmo quanto do mundo pagão, vivem na capital imperial, no coração de uma sociedade vibrante onde a diversidade cultural desafia as fronteiras religiosas tradicionais.
Paulo escreveu da Grécia, no final de suas viagens missionárias, por volta dos anos 57-58. Ele reflete sobre sua vocação e apresenta a obra que realizou: proclamar Cristo “de Jerusalém à Dalmácia”. Essa vasta área geográfica é tanto uma realidade concreta quanto um símbolo de universalidade: o alcance do Evangelho não conhece limites.
A passagem (Romanos 15:14-21) resume sua missão e motivação interior. Ele se autodenomina “ministro de Cristo Jesus para os gentios”. O termo grego usado, leitourgos, Isso se refere a um papel litúrgico: Paulo se vê como um sacerdote cujo altar não é feito de pedra, mas dos povos que ele conduz a Deus. A oferta que ele prepara não é material; são as próprias nações, santificadas em Cristo. o Espírito Santo.
Assim, a missão cristã não é o proselitismo humano, mas uma liturgia espiritual onde o mundo inteiro se orienta para o seu Criador. Paulo acrescenta: “Glorio-me em Cristo Jesus no meu serviço a Deus”. A sua glória não é pessoal; reside na obra realizada por Cristo através dele. O verbo “santificar” marca esta dependência total: sem o Espírito, sem a graça, nada pode tornar-se uma oferta agradável a Deus.
Por fim, ele cita Isaías: “Aqueles a quem não foi dito verão; aqueles a quem não foi dito entenderão”. O texto profético ilumina a intenção de Paulo: a salvação prometida a Israel agora se estende a toda a humanidade. A universalidade do chamado à fé está enraizada na própria revelação bíblica; não a contradiz, mas a cumpre.
Essa passagem constitui, portanto, um ponto crucial: ela une a memória do Antigo Testamento e a abertura para o futuro do Evangelho. A Igreja nascente extrai dela a consciência de "sair", de ir em direção às periferias culturais e espirituais, não para conquistar, mas para oferecer.
Análise
A ideia central deste texto pode ser resumida em uma palavra: oferta. Paulo não está falando de um serviço administrativo ou de uma simples atividade evangelística. Ele está falando de uma transformação espiritual do mundo.
Esta oferta não é um gesto vertical em que a humanidade entrega algo a alguém. Deus por obrigação, Mas também existe um movimento de retorno: o próprio Deus age na missão de santificar o seu povo. Paulo descreve, portanto, uma dinâmica trinitária:
- O Pai aceita a oferta,
- O Cristo conseguiu isso por meio de seu ministro,
- L'’Espírito Santifica o que é apresentado.
A essência da mensagem é que a vida apostólica é um ato de adoração. O missionário celebra a obra de Deus na história, assim como o sacerdote celebra na liturgia. amor Redentor. Paulo se reconhece como sacerdote de um templo universal, onde todas as culturas podem se tornar um espaço de graça.
Isso evidencia uma tensão: Paulo deseja proclamar uma mensagem universal sem apagar a singularidade de cada povo. A fé não homogeneíza; ela transforma. Ser “ministro de Cristo às nações” não significa colonizar, mas revelar, em cada cultura, o traço do plano divino. Cristo não abole as línguas e as diferenças; ele as transforma em canais de comunhão.
O significado existencial desta passagem é profundo. Ela nos lembra que todo crente é chamado a praticar uma liturgia interior em sua vida diária. Trabalhar, amar, educar e servir tornam-se atos de autodoação. A missão cristã é vivida no coração do mundo, não em suas margens.
Finalmente, Paulo enfatiza o “orgulho em Cristo”. Isto é alegria Conhecer a si mesmo como instrumento e não como mestre, como canal e não como fonte. Ser um “ministro” de Cristo é consentir com uma descentralização radical do eu: o poder da graça flui através de uma vida entregue. É aí que a missão se torna frutífera.
A graça recebida: o fundamento de toda missão
Paulo não inventou seu chamado; ele o recebeu. "É pela graça que Deus me concedeu." Esta simples frase contém toda a teologia cristã da missão. Sem graça, o zelo apostólico rapidamente se transforma em ativismo, e o orgulho em arrogância.
Na visão paulina, a graça precede toda escolha humana. Deus chama, inspira e impele. Paulo, um antigo perseguidor, descobre que foi escolhido não por mérito, mas por pura misericórdia. Essa inversão fundamental ainda inspira toda a ação da Igreja hoje.
Na prática, isso significa que servir a Deus começa com o recebimento do Seu dom. O ministro de Cristo não é um administrador do sagrado; ele é, antes de tudo, uma pessoa cheia de graça. Através dele, a graça flui, não porque ele fale bem ou aja melhor, mas porque permanece aberto.
Isso pode ser transposto para o vida do crente Ordinário. Todo ato de fé é um ministério: oferecer seu tempo, sua atenção e suas habilidades aos outros, em um espírito de altruísmo. Quando a graça se torna a força motriz, os frutos parecem inesperados: paciência, paz interior e, acima de tudo, a alegria de simplesmente estar onde Deus está agindo.
Para Paulo, a graça não é uma energia vaga; é a presença viva de Cristo. Ser ministro de Cristo entre as nações é, portanto, carregar essa Presença. Mais do que uma mensagem, é um contágio de amor, discreto e persistente.
A missão dada: construir sobre o que ficou por dizer.
“Não quis construir sobre os alicerces de outra pessoa.” Paulo expressa aqui um ponto essencial: a missão não é uma competição. Cada apóstolo tem seu campo de atuação, cada crente seu território espiritual. Paulo sente o chamado para abrir novos caminhos; essa é a sua maneira de ser fiel.
Proclamar o Evangelho “onde o nome de Cristo ainda não foi pronunciado” significa também ousar ir aonde a fé ainda não encontrou voz. Hoje, essas fronteiras nem sempre são geográficas; podem ser culturais, tecnológicas ou sociais. Ser um ministro de Cristo no século XXI é dar testemunho em mundos que muitas vezes são indiferentes ou saturados de ruído.
Paulo fala do “poder dos sinais e das maravilhas, do poder de o Espírito de Deus”. Esses não são milagres primariamente visíveis; são transformações interiores, conversões silenciosas. Nos ambientes mais remotos, a fé encontra seu caminho através da beleza, da solidariedade e da verdade.
Em termos práticos, cada cristão pode refletir: onde o nome de Cristo ainda não foi pronunciado em minha vida? Em que áreas minhas palavras, minhas ações e minhas decisões poderiam dar mais testemunho? A missão começa precisamente aí: nas áreas ainda intocadas de nossos corações.
Alegria compartilhada: a oferta das nações hoje
Paulo não concebe a missão como uma conquista, mas como uma oferta festiva. A imagem do altar cósmico, onde as nações se tornam uma oferta, evoca alegria de um banquete. Não se trata de um povo dominando o outro, mas da sinfonia das diferenças harmonizadas pelo Espírito.
No mundo contemporâneo, essa visão se traduz em uma espiritualidade do encontro. Fazer da própria vida uma oferta significa aprender a ver os outros não como um obstáculo, mas como uma dádiva. Cada cultura, cada pessoa, carrega dentro de si um fragmento do Evangelho ainda inexplorado.
A oferta das nações não é, portanto, a diluição da fé num relativismo global; é a universalidade concreta de amor. Deus não aceita povos desencarnados; ele santifica rostos, histórias, memórias.
Essa perspectiva também transforma o engajamento social. Trabalhando pela justiça, O diálogo entre religiões e a salvaguarda da criação tornam-se participações nessa mesma oferta. Quando um ato é realizado à luz de Cristo, por mais discreto que seja, torna-se adoração espiritual.
Então, alegria O entusiasmo de Paulo não é o de um aventureiro, mas a certeza de uma transformação em curso. O mundo já está nas mãos de Deus; o apóstolo está apenas revelando o que o Espírito está realizando silenciosamente.
A marca da tradição
A tradição patrística frequentemente comenta essa passagem. Santo Irineu vê em Paulo o protótipo do sacerdote do Novo Testamento: não aquele que oferece animais, mas aquele que apresenta os povos a Deus. Santo Agostinho Ele lê nisso o sinal da futura unidade: todas as nações como um só corpo de Cristo.
Na Idade Média, desenvolveu-se a teologia do “sacrifício espiritual” entre São Tomás de AquinoO homem oferece a Deus seu dom mais nobre: a sua vontade. Paulo é uma testemunha viva disso. Na liturgia, essa dimensão se reflete cada vez que o sacerdote diz: “Oremos juntos, oferecendo o sacrifício de toda a Igreja”. Esse sacrifício é a oferta das nações.
A Igreja contemporânea, em particular por Vaticano Ele redescobriu o alcance missionário dessa visão. O chamado universal à santidade ecoa o de Paulo: toda pessoa batizada participa da santificação do mundo. Os gestos mais comuns podem se tornar um lugar de oferta quando realizados em comunhão com a fé. amor.

Caminho da oração: vivenciando a missão
- Acolher: reler a própria história como um lugar onde Deus concedeu uma graça especial.
- Oferta: a cada manhã, apresente a Deus as suas atividades do dia como um altar vivo.
- Escute: identifique os lugares ao seu redor “onde o nome de Cristo ainda não foi pronunciado”.
- Servir: tomar medidas concretas em prol da justiça e da paz, mesmo que pequenas.
- Elogiar: agradecer a diversidade de povos, culturas e talentos.
- Contemplação: reconhecer a presença do Espírito atuando nos outros.
- Envie: ore por aqueles no mundo que levam o Evangelho às margens da sociedade.
Conclusão
Para Paulo, ser ministro de Cristo Jesus para as nações é viver a fé como uma liturgia do mundo. Cada encontro, cada palavra, cada ato de serviço torna-se um ato sagrado. A oferta das nações não é a utopia de um mundo perfeito; é a trama invisível de gestos que, dia após dia, transformam a terra em um Reino.
Essa visão inverte perspectivas. O Evangelho não está mais reservado a alguns escolhidos; é uma boa notícia para todos, até mesmo para aqueles “a quem não havia sido anunciado”. O crente chamado para servir torna-se um sinal dessa universalidade.
O texto de Paulo, portanto, nos convida a pensar na evangelização não como um dever externo, mas como uma transformação interior: oferecer o mundo é, antes de tudo, oferecer a si mesmo. E nessa oferta, descobrir alegria inesgotável, proveniente de um Deus que recebe aquilo que Ele mesmo inspirou.
Na prática
- Leia um trecho do texto a seguir a cada semana: Carta aos Romanos.
- Vincular a oração diária a uma intenção universal (pessoas em guerra, migrantes, deserdado).
- Oferecer o próprio trabalho ou cuidado como um serviço prestado a Cristo.
- Descobrir outra cultura para ampliar a perspectiva de fé.
- Participar da liturgia com consciência de sua dimensão universal.
- Mantenha um livro de ofertas: anote os momentos em que Deus age discretamente.
- Termine cada dia com um "obrigado em nome das nações".
Referências
– Carta de Paulo Aos Romanos, capítulos 9 a 15
– Profeta Isaías, 52-53
– Santo Irineu de Lyon, Adversus Haeres
– Santo Agostinho, A Cidade de Deus
– São Tomás de Aquino, Suma Teológica, IIIa, q.83
– Conselho Vaticano II, Lúmen Gentium, Ad Gentes
– Liturgia do Ofertório, Missal Romano


