Quando bispos cruzam o limiar das prisões: um gesto histórico para dar esperança aos esquecidos.

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Imagine por um instante: neste fim de semana, mais de cem bispos franceses entrarão voluntariamente em prisões. Não para uma simples visita de cortesia, mas para celebrar a missa com os detentos, rezar com eles, lembrar-lhes que não estão sozinhos. É exatamente isso que está sendo planejado para os dias 13 e 14 de dezembro de 2025, como parte do Jubileu dos Prisioneiros. Por trás dessa iniciativa religiosa, há uma mensagem muito mais profunda: uma denúncia contundente do estado catastrófico de nossas prisões e um poderoso apelo para mudarmos nossa perspectiva sobre aqueles que estão encarcerados.

Num país onde mais de 80 mil pessoas definham em celas projetadas para 62 mil, onde milhares de detentos literalmente dormem no chão, essa mobilização da Igreja Católica é oportuna. Mas não se trata apenas de um gesto de compaixão: é um verdadeiro grito de alarme sobre um sistema prisional à beira do colapso.

Uma mobilização sem precedentes atrás das grades

O Jubileu: muito mais do que uma tradição religiosa

Comecemos por falar sobre o que realmente é um Jubileu. Para muitos, a palavra evoca uma celebração de aniversário ou uma tradição católica um tanto antiquada. Mas não se enganem: o Jubileu está enraizado numa ideia revolucionária para a sua época – a do perdão, da libertação e de um novo começo.

Essa tradição remonta à Bíblia, onde a cada 50 anos era proclamado um "ano de misericórdia": dívidas eram perdoadas, escravos libertados e terras restauradas. O próprio Jesus se inspirou nisso ao lançar sua missão pública com estas palavras poderosas: "O Senhor me enviou para pregar boas-novas aos pobres, para curar os de coração quebrantado, para proclamar liberdade aos cativos e pôr em liberdade os prisioneiros."«

Em 2025, o Papa Francisco – agora sucedido por Leão XIV – queria que este ano jubilar fosse marcado pela esperança. E entre todos os eventos planejados ao longo do ano (jubileus da juventude, do migrantes, (incluindo os doentes…), mas a situação dos presos ocupa um lugar muito especial. O dia 14 de dezembro foi escolhido como o dia internacional para homenagear as pessoas encarceradas.

O que torna este momento único é que Papa Ele próprio abriu a primeira Porta Santa em uma prisão – a de Rebibbia, em Roma, em 26 de dezembro de 2024 – apenas dois dias após a inauguração oficial do Jubileu na Basílica de São Pedro. Um poderoso gesto simbólico: mostrar que, mesmo atrás das grades, a esperança é possível.

Quando 102 prisões abrirem suas portas para bispos

Na França, a Conferência Episcopal decidiu dar uma resposta massiva. Neste fim de semana, 13 e 14 de dezembro, nada menos que 102 prisões em todo o país receberão um bispo. De Lannemezan a Tabes, nos Altos Pirenéus (onde as primeiras celebrações já ocorreram no início de dezembro com o bispo Jean-Marc Micas), da Bretanha à Córsega, nenhuma região foi esquecida.

Mas o que exatamente eles farão? O programa varia de lugar para lugar, mas a ideia permanece a mesma em todos os lugares: oferecer aos detentos um momento de conexão espiritual, um respiro de suas vidas diárias, muitas vezes violentas e desumanizantes. Na agenda:

Missas Jubilares onde os detentos podem se conectar e se sentir parte da comunidade.’Igreja Universal, apesar do seu isolamento.

Celebrações do perdão – um momento particularmente importante para aqueles que carregam o peso de seus atos e buscam uma forma de reconciliação, consigo mesmos ou com a sociedade.

Passagens simbólicas pelos "portões do jubileu"« Instalada especificamente em prisões, esta porta representa uma passagem para um novo futuro, um convite para não ficar preso ao passado.

Hora de ouvir e conversar. com os capelães, que estão fortalecendo sua presença por meio de grupos de discussão, oficinas bíblicas e encontros pessoais.

Como explica Bruno Lachnitt, diácono permanente e capelão geral da capelania católica das prisões: "Eles não poderão, obviamente, ir a Roma, então procuramos uma maneira de os prisioneiros vivenciarem o Jubileu mesmo assim." Assim, o Jubileu vem até eles.

Esta iniciativa faz parte de um movimento global: no dia 14 de dezembro, celebrações semelhantes ocorrerão em prisões de todo o mundo, em comunhão com Roma. Milhares de detentos, da África à América Latina e à Ásia, vivenciarão este momento juntos. Tal sincronização global em torno da situação prisional é rara.

Quando bispos cruzam o limiar das prisões: um gesto histórico para dar esperança aos esquecidos.

Um sistema prisional à beira do colapso

Esses números são impressionantes.

Agora, vamos abordar o elefante na sala: o estado desastroso de nossas prisões. Os bispos não estão vindo simplesmente para rezar; eles estão aproveitando esta oportunidade para soar o alarme com palavras que não deixam margem para dúvidas.

Preparem-se, porque os números são impressionantes. Em 1º de dezembro de 2024, a França tinha 80.792 pessoas detidas por apenas 62.404 vagas disponíveis. Faça as contas: isso representa uma densidade carcerária de 129,5%. Em outras palavras, imagine uma sala de aula projetada para 30 alunos, onde quase 40 estão amontoados. Mas é ainda pior do que isso.

Porque esses números médios mascaram uma realidade muito mais brutal. Em prisões preventivas – instalações que abrigam pessoas aguardando julgamento (e, portanto, presumidas inocentes!) e aquelas condenadas a penas curtas – a densidade populacional chega a... 156,8%. Alguns estabelecimentos chegam mesmo a... 200% Ou mais: Majicavo em Mayotte, Tours, Bordeaux-Gradignan… Nessas prisões, a superlotação deixou de ser um problema e se tornou uma catástrofe humanitária.

E aqui está o detalhe que deveria nos indignar a todos: Mais de 4.000 detentos dormem em colchões colocados diretamente no chão., Por falta de camas. Sim, você leu certo. Em 2024, em um país que se orgulha de ser o berço dos direitos humanos, milhares de pessoas – muitas das quais ainda nem sequer foram condenadas – passam as noites no chão, em celas projetadas para uma ou duas pessoas, mas que abrigam três, quatro, às vezes cinco.

Para colocar as coisas em perspectiva: no início de 2018, as prisões francesas tinham 3.000 vagas a mais do que têm hoje. Sete anos depois, certamente ganharam algumas vagas, mas ainda precisam acomodar mais presos. Mais 12.000 prisioneiros. É matematicamente insustentável.

As consequências humanas de um sistema falho

Mas, além das estatísticas, vamos falar sobre o que isso significa em termos concretos do dia a dia. Os bispos da França, em seu apelo publicado para o Jubileu, não poupam palavras: a superlotação carcerária "contribui para a degradação do atendimento – sentimentos de humilhação, aumento da violência e da ociosidade, e perda de sentido no trabalho para os funcionários do sistema prisional".«

Vamos analisar isso passo a passo:

Humilhação constante Imagine viver 24 horas por dia, 7 dias por semana, em um espaço de apenas alguns metros quadrados com estranhos, sem privacidade, obrigado a fazer suas necessidades na frente de outras pessoas. Celulas individuais, prometidas por lei desde… 1875 (sim, você leu certo, 150 anos!), continuam sendo letra morta. Todos os dias, o dignidade humana A mais básica é a de ser violada.

A violência generalizada Quando muitas pessoas são amontoadas em um espaço muito pequeno, com poucas atividades, a tensão inevitavelmente aumenta. As agressões entre os detentos aumentam, criando um ambiente hostil. clima de medo constante.

Ociosidade destrutiva Com a falta de pessoal e infraestrutura, é impossível organizar atividades, treinamentos ou trabalho para todos. O resultado? Dias intermináveis sem fazer nada, remoendo pensamentos negativos e desesperados.

Exaustão da equipe Os agentes penitenciários trabalham em condições insustentáveis, constantemente sob pressão, incapazes de desempenhar adequadamente suas funções. Muitos perdem de vista o significado do seu trabalho e sucumbem à exaustão profissional.

E aqui está a pior parte: todo esse sistema não reduz a criminalidade; pelo contrário, a aumenta. O sistema prisional atual impede que os detentos saiam da prisão "melhores" do que quando entraram, gerando, assim, mais reincidência do que segurança. Aproximadamente 541% dos libertados são condenados novamente em até três anos. As prisões francesas se tornaram escolas para o crime, em vez de locais de reabilitação.

O bispo Jean-Luc Brunin, bispo de Le Havre e chefe da capelania católica nas prisões, afirma categoricamente: prisões superlotadas são prisões destrutivas, onde os condenados não só são trancados atrás de muros, mas também vivem em um estado de degradação desesperadora, como se nada mais se pudesse esperar deles.

A França não é exceção a nível europeu: figura entre os países com os níveis mais elevados de superlotação carcerária, logo atrás de Chipre e da Roménia. O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos condenou repetidamente a França pelas suas condições prisionais "desumanas e degradantes". Mas, na realidade, nada muda.

Um apelo radical por uma mudança de paradigma.

Restaurar em vez de simplesmente punir

Diante dessa situação condenatória, os bispos não se limitam a lamentar. Eles propõem uma visão radicalmente diferente de justiça e punição. E sua mensagem pode muito bem abalar algumas crenças antigas.

Entender a punição unicamente como um ato de sofrimento a reduziria a algo desumanizante, em vez de empoderador. Essa é a essência do argumento deles. Hoje, no imaginário coletivo — alimentado por certos discursos políticos — a prisão precisa "machucar", precisa ser uma experiência terrível para dissuadir o crime. Mas os bispos nos lembram de uma verdade confirmada pelos estudos criminológicos: essa abordagem não funciona.

Por quê? Porque considera apenas o aspecto punitivo e ignora completamente o objetivo da reabilitação. No entanto, com exceção de algumas poucas sentenças de prisão perpétua, Todos esses prisioneiros serão libertados um dia.. E quando eles emergirem quebrados, traumatizados, socialmente isolados, sem qualificações, sem uma rede de apoio, sem esperança, o que você acha que vai acontecer?

A alternativa proposta é a de justiça restaurativa Esta é uma abordagem que busca reparar em vez de simplesmente punir. Isso não significa ser "leniente" ou "ingênuo" — ninguém está dizendo que não deva haver consequências. Mas optar por restaurar a humanidade daqueles que erraram, ajudando-os a assumir a responsabilidade e a vislumbrar um novo futuro, é do interesse de toda a sociedade, começando pelas vítimas.

Pense nisso por um segundo: o que lhe parece mais seguro? Que um criminoso saia da prisão depois de passar dez anos se deteriorando em violência e ociosidade, ou que ele saia depois de passar por terapia, aprender um ofício, refletir sobre seus atos e se preparar para sua reintegração? A resposta parece óbvia.

Alternativas concretas ao encarceramento

Os bispos, portanto, apelam a uma mudança profunda: qualquer medida que vise aumentar a população carcerária contraria a segurança dos nossos cidadãos. Construir mais prisões não resolverá o problema – as últimas décadas já o comprovaram. Sempre que novas vagas são criadas, estas esgotam-se imediatamente, como se a oferta criasse a sua própria procura.

Quais são as soluções viáveis para romper esse impasse?

desenvolver massivamente punições alternativas : o trabalho Em prol do interesse público, a liberdade condicional, o monitoramento eletrônico... Essas sanções já existem, mas são subutilizadas. Apenas 30% das sentenças que poderiam ser modificadas são de fato aplicadas. Há um enorme potencial de melhoria nesse sentido.

Reduzir drasticamente a prisão preventiva. Hoje, mais de 20.000 réus — pessoas presumidamente inocentes — aguardam julgamento na prisão. Isso é um absurdo. A supervisão judicial poderia substituir a prisão em muitos casos, desde que o sistema judiciário disponha dos recursos necessários para processar esses casos com rapidez.

Acelerar os processos legais Grande parte da superlotação decorre do fato de as pessoas esperarem meses, até mesmo anos, antes de serem julgadas. Mais juízes, mais audiências — certamente é caro, mas muito menos do que o custo humano e financeiro das prisões superlotadas.

Promover a regulamentação prisional É a ideia mais tabu, mas já provou seu valor. Durante a pandemia de Covid, a França libertou quase 13.000 presos que estavam perto de cumprir suas penas antecipadamente, e o mundo não acabou. A superlotação praticamente desapareceu. Por que não estabelecer um mecanismo automático: quando um limite crítico for atingido, os presos que estiverem perto de cumprir suas penas sejam libertados com monitoramento reforçado?

Investir em estruturas de transição Entre a prisão e a liberdade plena, há uma carência crítica de centros de apoio. Esses são locais onde as pessoas podem se preparar para a soltura, encontrar moradia, emprego e reconstruir suas vidas. É comprovado: a soltura "sem apoio" da prisão aumenta significativamente o risco de reincidência.

Monsenhor Fisichella, que organizou o Jubileu em Vaticano, levantou a questão incômoda: No milênio que se abre diante de nós, determinado pelo progresso de tecnologia, por meio de uma cultura como a de digital, que nos permite saber onde estamos a qualquer momento e também o que estamos fazendo, por que não pensar em estruturar medidas alternativas, em vez de pensar em construir novas prisões?

A mudança de perspectiva em relação aos prisioneiros.

Mas, para além das medidas técnicas, os bispos apelam a algo mais profundo: uma "mudança de perspetiva" relativamente aos detidos. E essa é talvez a mensagem mais importante deste Jubileu.

Todo ser humano é criado à imagem de Deus, e a dignidade resultante é inalienável e indestrutível. Ninguém pode ser reduzido ao ato que cometeu, seja ele qual for. Mesmo que você não seja crente, esse princípio deveria ressoar em todos. Uma pessoa jamais pode ser reduzida ao pior ato que cometeu..

É fácil dizer "eles estão apodrecendo na prisão" quando se fala de um criminoso em geral. É muito mais difícil quando se percebe que por trás dessa palavra existe um ser humano com uma história, às vezes um passado terrível (violência sofrida na infância, exclusão social, vícios…), que certamente cometeu o irreparável, mas que ainda é capaz de mudar.

Os capelães prisionais são testemunhas diretas disso. Eles presenciam transformações incríveis todos os dias: homens e mulheres que, na prisão, descobrem a espiritualidade, iniciam uma jornada de autoconhecimento e encontram uma forma de paz interior. Nossos capelães em centros de detenção testemunham que, por trás dos muros da prisão, o amor de Cristo eleva, reconcilia e abre o caminho para a esperança.

São Vicente de Paulo, que já trabalhava com prisioneiros no século XVII, disse: «Não cuidem dos prisioneiros se não estiverem dispostos a se tornarem seus sujeitos e seus alunos!» Uma afirmação surpreendente: tornar-se aluno daqueles que pecaram? Mas é justamente aí que reside toda a sabedoria: todo ser humano, mesmo aquele que errou gravemente, pode nos ensinar algo sobre resiliência., perdão, a reconstrução.

Essa mudança de perspectiva significa aceitar que:

Prender pessoas não é suficiente. A punição é legítima, mas se não for acompanhada de um plano de transformação, estaremos apenas adiando o problema.

A segurança vem através da reintegração. Um prisioneiro que recebe bom apoio e sai com emprego, moradia e suporte psicológico é infinitamente menos perigoso do que um prisioneiro que sai destruído e amargurado.

As vítimas merecem algo melhor. Ao contrário da crença popular, muitas vítimas não querem apenas vingança, mas também a garantia de que isso não acontecerá novamente. Um sistema que incentiva a reincidência não as protege.

Estamos todos preocupados Esses prisioneiros não são de outro planeta. São nossos vizinhos, nossos ex-colegas, às vezes nossos futuros entes queridos. O fracasso deles é também o nosso fracasso coletivo.

Uma mensagem de esperança apesar de tudo

Então, o que podemos concluir deste Jubileu dos Prisioneiros? Em primeiro lugar, que não se trata apenas de mais um evento religioso. É um momento em que a Igreja Católica – uma instituição que nem sempre se distinguiu pelo seu progressismo – assume uma posição corajosa e radical sobre um tema que a maioria prefere ignorar.

Ao visitarem prisões em massa neste fim de semana, os bispos franceses estão enviando diversas mensagens fortes:

Aos prisioneiros Você não foi esquecido, você não foi reduzido aos seus erros, você mantém sua dignidade como ser humano e um futuro diferente ainda é possível para você.

Para a empresa Nosso sistema prisional é uma vergonha que nos preocupa a todos, e já passou da hora de pararmos de fingir que não vemos o problema. O sistema prisional, da forma como funciona atualmente, não nos protege; pelo contrário, agrava os problemas.

Aos tomadores de decisão política A abordagem de "prisão exclusiva" é um beco sem saída. Existem outros caminhos, mais justos, mais eficazes, mais humanos. Devemos ter a coragem de trilhá-los, mesmo que sejam impopulares a curto prazo.

Aos crentes Viver a fé de forma autêntica significa cuidar dos mais marginalizados, mesmo — e especialmente — quando são criminosos. Visitar presos é um ato de misericórdia; não é opcional.

O Ano Jubilar de 2025, com o tema "Peregrinos da Esperança", assume todo o seu significado nas prisões. Pois se há um lugar onde a esperança parece impossível, onde o desespero reina supremo, esse lugar é atrás das grades. E, no entanto, bispos e capelães afirmam com convicção: mesmo ali, a esperança pode renascer. Mesmo ali, a mudança é possível. Mesmo ali, a redenção não é uma palavra vazia.

É claro que nem todos sairão transformados. Alguns detentos continuarão perigosos e precisarão ser mantidos afastados da sociedade por um longo período. Mas quantos poderiam mudar de vida se realmente tivessem os meios necessários? Quantas vidas poderiam ser transformadas com o apoio adequado?

Este Jubileu também nos lembra de uma verdade perturbadora: A forma como uma sociedade trata seus prisioneiros é um teste moral.. Quando aceitamos passivamente que milhares de pessoas vivam em condições indignas, quando deixamos a situação se agravar enquanto nos contentamos com a retórica da segurança, revelamos algo sobre nós mesmos. Mostramos que, no fundo, algumas vidas importam menos do que outras.

Os bispos da França, com este Jubileu dos Prisioneiros, confrontam-nos com as nossas contradições. Eles lembram-nos que A humanidade não se divide entre o bem e o mal, mas entre aqueles que já caíram e aqueles que ainda não caíram.. E que a verdadeira grandeza de uma sociedade é medida pela sua capacidade de estender a mão àqueles que caíram, mesmo nos momentos mais difíceis.

Então, neste fim de semana, enquanto esses bispos atravessam os portões da prisão, talvez cada um de nós pudesse, à sua maneira, atravessar os seus próprios portões: os dos nossos preconceitos, da nossa indiferença, do nosso medo. E nos perguntar: o que estamos dispostos a fazer para que... dignidade humana que seja respeitado em todos os lugares, inclusive nos lugares mais obscuros de nossa República?

Pois, como escrevem os bispos em sua defesa: a fé em Deus não pode ser conciliada com a renúncia à crença no melhor que cada pessoa carrega dentro de si, com o desespero alheio ou com uma justiça que apenas pune sem restaurar. E essa exigência não se dirige apenas aos crentes: diz respeito a todos nós, como seres humanos que vivem juntos em uma sociedade que aspira à civilização.

O Jubileu dos Prisioneiros não é, portanto, um fim em si mesmo, mas um começo: o começo de um despertar coletivo, um renovado compromisso com um sistema de justiça mais humano e uma perspectiva transformada sobre aqueles que encarceramos. A esperança que busca incutir não é apenas para os prisioneiros — diz respeito a todos nós. Pois uma sociedade que desespera de seus prisioneiros é uma sociedade que desespera de si mesma.

Via Equipe Bíblica
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