São Judas: Questionando Cristo para permanecer nele

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Judas Tadeu questiona Jesus durante a Última Ceia sobre a manifestação divina no mundo. Essa pergunta abre caminho para uma resposta fundamental: o amor e a fidelidade à Palavra criam a morada de Deus em nós. Ex-zelota convertido à universalidade da mensagem do Evangelho, Judas descobre que a revelação divina não vem por meio da exibição pública, mas pela intimidade do amor. Celebrado em 28 de outubro com Simão, o Zelota, ele nos ensina hoje a buscar a Deus na discrição da fidelidade cotidiana, em vez de em manifestações espetaculares.

São Judas: Questionando Cristo para permanecer nele

Da luta política ao amor universal

Judas tem dois nomes nos Evangelhos: Judas, para distingui-lo de Judas Iscariotes, e Tadeu. Filho de Tiago, ele provavelmente pertencia ao movimento zelote que se opôs à ocupação romana da Palestina no primeiro século. Esses combatentes judeus esperavam por um messias político que expulsasse o invasor pela força. Judas juntou-se ao grupo dos Doze Apóstolos escolhidos por Jesus.

O chamado de Cristo transforma radicalmente sua visão. A mensagem do Evangelho lhe revela que o amor de Deus transcende fronteiras nacionais e políticas. A libertação esperada não é territorial, mas espiritual. Essa conversão interior marca um ponto de virada: passar da lógica do combate armado para a do amor universal exige um despojamento total de velhas certezas.

Judas aparece nas listas de apóstolos dos Evangelhos Sinóticos, sempre associado a Simão, o Zelote. Essa proximidade sugere uma amizade forjada na partilha de um passado militante comum. Juntos, eles descobrem que o Reino anunciado por Jesus excede infinitamente suas expectativas revolucionárias.

Na Última Ceia, Judas faz uma pergunta decisiva relatada no Evangelho de João: "Senhor, como é que te deves manifestar a nós e não ao mundo?" Essa pergunta revela seu desejo de compreender a lógica divina. Por que essa revelação permanece oculta da maioria das pessoas? Jesus responde sem responder diretamente: "Se alguém me ama, guardará a minha palavra; meu Pai o amará, e viremos a ele e faremos nele morada."

Após o Pentecostes, Judas provavelmente evangelizou a Mesopotâmia e a Pérsia com Simão. A tradição os coloca como mártires por volta dos anos 65-70, vítimas da perseguição dos primeiros cristãos no Império Parta. Sua lealdade até a morte selou a jornada desses veteranos que se tornaram testemunhas do amor.

Uma breve epístola do Novo Testamento leva o nome de Judas. Este texto poderoso alerta contra falsos mestres e apela à perseverança na fé. Sua autenticidade permanece debatida pelos exegetas, mas atesta a importância deste apóstolo nas primeiras comunidades cristãs.

A pergunta que abre a morada divina

O momento-chave na vida de Judas se cristaliza em sua pergunta no Cenáculo. Naquela noite, Jesus anuncia sua partida e promete o Espírito Santo. Judas não entende por que essa revelação divina permanece oculta ao mundo. Por que Deus não se manifesta brilhantemente para convencer todos os homens?

Lendas hagiográficas enriquecem este retrato. Diversas tradições situam Judas na Armênia, Síria ou Pérsia. A ele são atribuídos milagres de cura e exorcismo. Seu martírio teria ocorrido por decapitação ou por golpes de clava, dependendo da versão. Esses relatos lendários ressaltam sua força de caráter e lealdade inabalável.

Um atributo iconográfico o distingue: Judas frequentemente carrega uma clava ou uma alabarda, instrumento de seu martírio, e às vezes um medalhão representando Cristo. Esta imagem do rosto de Cristo em seu peito simboliza a resposta à sua pergunta: o Senhor se revela no coração daqueles que o amam fielmente.

O significado simbólico da pergunta de Judas atravessa os séculos. Ela expressa nossa própria perplexidade diante do aparente silêncio de Deus na história. Por que o mal aparentemente triunfa? Por que os justos sofrem? Por que Deus não se impõe com obviedade? A resposta de Jesus desloca o problema: a manifestação divina se realiza na intimidade do amor fiel. Deus não força as portas, mas espera ser livremente acolhido.

Esta revelação é o fundamento da espiritualidade cristã da interioridade. A morada divina não se estabelece em templos de pedra, mas no coração humano que ama e obedece. Judas nos ensina a buscar a Deus não no espetacular, mas na fidelidade diária à sua palavra.

São Judas tornou-se o padroeiro das causas desesperadas na piedade popular. Essa devoção, desenvolvida especialmente nos Estados Unidos no século XX, não tem fundamento histórico sólido, mas expressa a confiança dos fiéis na intercessão deste apóstolo discreto.

Intimidade divina na fidelidade

Judas nos ensina que Deus se manifesta não em ostentação pública, mas na discrição do amor fiel. Sua pergunta no Cenáculo revela nossa legítima expectativa de sinais visíveis, mas a resposta de Cristo nos direciona ao essencial: guardar sua palavra por amor. Essa fidelidade criativa abre o espaço onde Deus pode fazer morada em nós.

O ex-zelota descobre que a verdadeira libertação não vem pela força política, mas pela transformação interior. Cristo não vem para derrubar reinos terrenos, mas para estabelecer seu reinado nos corações. Essa conversão requer a renúncia à lógica da dominação para abraçar a lógica do serviço e do amor.

Hoje, Judas nos convoca a aceitar a humildade da revelação divina. Deus não força ninguém, não se impõe violentamente. Ele espera ser livremente acolhido na consciência que escolhe amá-lo e obedecê-lo. Essa discrição divina respeita infinitamente a nossa liberdade.

Senhor Jesus, prometeste a tua morada

Senhor Jesus, tu respondeste a Judas que todo aquele que te ama guarda a tua palavra e teu Pai o amará.

Concede-nos a graça desta fidelidade diária que te torna presente na nossa vida.

Ensina-nos a não procurar sinais espetaculares, mas a descobrir a tua presença discreta na simplicidade do amor vivido.

Pela intercessão de São Judas, dai-nos força para perseverar nos momentos em que pareceis ausente.

Que a nossa fidelidade à tua palavra se torne o lugar onde estabeleces a tua morada.

Transforma nossos corações em templos vivos onde teu Espírito possa habitar e brilhar para nossos irmãos e irmãs.

Amém.

Viver

  • Leia João 14:15-24 e medite por dez minutos na resposta de Jesus a Judas: como minha fidelidade prática hoje se torna uma morada divina?
  • Escolha uma palavra do Evangelho e pratique um ato concreto de fidelidade: perdoe uma ofensa, sirva discretamente a um ente querido, renuncie à crítica.
  • Ore por alguém que esteja passando por uma provação aparentemente sem esperança, confiando essa intenção a São Judas, padroeiro das causas difíceis.

Santuários e patrimônio

A Basílica de São Pedro, em Roma, preserva as relíquias de São Judas e São Simão lado a lado, pois suas vidas e mortes foram unidas. Seu túmulo compartilhado é um lembrete da fraternidade apostólica que transcende a morte. Os dois apóstolos são celebrados juntos em 28 de outubro no calendário litúrgico universal.

A Igreja Nacional Armênia de Paris, localizada na Rue Jean-Goujon, possui uma capela dedicada a São Judas. A tradição armênia homenageia particularmente esses dois apóstolos, que dizem ter evangelizado seu território. Muitas paróquias católicas levam o nome de São Judas, principalmente na América do Norte, onde a devoção a ele se espalhou amplamente no século XX.

A iconografia medieval e barroca frequentemente retrata Judas segurando um porrete, o instrumento de seu martírio, e um medalhão representando o rosto de Cristo. Esta imagem simboliza a resposta à sua pergunta: Cristo se revela no coração daqueles que o amam fielmente. Igrejas orientais também o retratam segurando um pergaminho ou livro representando sua epístola.

Liturgia

  • Leituras: Efésios 2,19-22 (a edificação da Igreja sobre o fundamento dos apóstolos); Salmo 18 (a mensagem deles se espalha por toda a terra); Lucas 6,12-19 (a escolha dos Doze).
  • Canção: “Vós sois a luz do mundo”, hino que celebra a missão apostólica e o anúncio universal do Evangelho às nações.
Via Equipe Bíblica
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