Capítulo 2
2. – Adoração dos Magos, 2, 1-12
São Lucas nos conta, em 2:8 e seguintes, que os judeus foram os primeiros a receber, na pessoa dos pastores de BelémA boa notícia do nascimento do Messias e os primeiros a virem adorar seu Rei em seu humilde estábulo; isso era justo, como concluímos da reflexão dirigida pelo Anjo a São José, 1:21. Mas não era menos justo, não menos de acordo com os desígnios providenciais, que o mundo pagão fosse representado desde cedo perto do berço daquele que viera para redimir e salvar toda a humanidade sem exceção; e aqui estão os Magos, prostrados aos pés do Menino divino. Prova viva de que Deus não se esquece de suas promessas concernentes ao chamado de todos os povos à fé. Assim, tendo visto pela genealogia do primeiro capítulo qual era a parte dos judeus no Messias, aprenderemos agora qual será a parte dos gentios: alguns estão ligados a ele por sangue, outros pela fé, e amorAté então, os pagãos não tinham nenhuma ligação com Jesus; agora, pelo contrário, são os judeus que se afastam dEle. Desde os primeiros dias da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo, podemos observar este fato, que será repetido frequentemente: o judaísmo O rejeita, o mundo pagão O acolhe. Aqui, Jerusalém desconhece Seu nascimento e se aterroriza quando é informada; os principais sacerdotes e os mestres da lei apontam friamente o lugar onde Ele nasceu, mas não pensam em ir adorá-Lo eles mesmos; Herodes quer matá-Lo. Ao contrário, os Magos, pagãos, O procuram e O encontram: eles pertencem, do ponto de vista moral, à linhagem escolhida de Melquisedeque, Jetro, Jó e Naamã, que adoraram o verdadeiro Deus sem pertencerem ao povo judeu.
Mt2.1 Jesus nasceu em Belém Originários da Judeia, nos dias do rei Herodes, eis que chegaram do Oriente a Jerusalém alguns magos., – São Mateus geralmente presta pouca atenção a detalhes topográficos ou cronológicos: até agora, sua narrativa permanece vaga em relação ao tempo e ao lugar; ele nem sequer nos disse onde eles moravam. Casado E José, na época de seu casto casamento, limitou-se a relatar os fatos. Mas a natureza dos eventos que ele agora deve narrar o obriga a indicar o local e a data do nascimento de Cristo. 1. O local: em Belém de Judeia. Belém Situava-se tanto dentro da tribo de Judá quanto no território da província da Judeia. A antiga divisão do país em doze tribos já não existia na época de Jesus Cristo. Originalmente chamada Efrata, a fértil (Gênesis 35:16), tornou-se, algum tempo depois da ocupação hebraica da Palestina, “a casa do pão”, Belém; os árabes hoje a chamam de Beit-Lahm, a casa da carne. Deus não permitiu que ela jamais tivesse grandes vantagens temporais; sempre foi uma pequena cidade (cf. Miquéias 5:1) sem importância comercial ou estratégica, rapidamente ultrapassada por suas duas rivais ao norte e ao sul, Jerusalém e Hebron. Mas, por outro lado, que glória não lhe confere o duplo nascimento de Davi e do Messias? Precisava, então, de outras prerrogativas? Ela se ergue a 9 km ao sul de Jerusalém, em uma colina de calcário jurássico. Sua forma atual é a de um triângulo irregular, ao sul do qual se ergue a famosa Basílica de Santa Helena, uma espécie de igreja fortificada, construída no local da... Gruta da Natividade (compare com a explicação em Lucas 2:7), e cercada por conventos latinos, gregos e armênios. A população de Belém tem cerca de 28.000 habitantes. São Lucas nos dirá, em 2:1 e 2, por que José e Casado estão atualmente em BelémEles não foram para lá por vontade própria, nem para cumprir a profecia de Miquéias; um poder superior os conduziu até lá, utilizando meios inteiramente humanos. – 2° para os dias. Após nos informar o local do nascimento de Cristo, o evangelista indica a data desse grande evento: nos dias do Rei Herodes, Ou seja, se traduzirmos essa fórmula hebraica para uma linguagem simples: “sob o governo de Herodes”. Uma data bastante vaga em si mesma, visto que Herodes reinou na Judeia de 714 a 750 d.C.; mas tentamos acima (Introdução Geral) esclarecê-la, estabelecendo que Jesus Cristo nasceu alguns meses antes da morte de Herodes, provavelmente em 25 de dezembro de 749, quatro anos antes do início da chamada era cristã. Do Rei Herodes Herodes, o Grande. A história e o caráter deste príncipe são bem conhecidos, graças aos historiadores judeus e romanos. Filho de Antípatro, que havia servido como procurador na Idumeia e Judeia, ele próprio foi nomeado tetrarca desta última província pelos romanos. Logo, a pedido do triúnviro Antônio, seu poderoso protetor, o Senado mudou seu título para o de rei e, posteriormente, ampliou consideravelmente o território sob sua jurisdição. Mas Herodes foi forçado, com a ajuda de seus benfeitores, a literalmente conquistar seu reino e sua capital, que Antígono, um dos últimos descendentes da ilustre dinastia dos Macabeus, havia recentemente tomado. Foi somente em 717 que ele conseguiu se estabelecer em Jerusalém, após tomá-la de assalto e derramar rios de sangue. Ele era idumeu de nascimento: o cetro, portanto, havia deixado Judá quando este descendente de Esaú tomou posse do trono de Davi (ver Gênesis 49:10), um sinal claro de que o Messias estava próximo. A partir daquele momento, seu reinado foi pacífico, externamente brilhante e marcado por esplêndidas construções por todo o país e grande riqueza material; porém, internamente, havia corrupção e decadência, com a civilização grega substituindo os costumes judaicos. A teocracia caminhou rapidamente para o seu fim sob o reinado desse príncipe meio pagão. O caráter de Herodes é um dos exemplos mais notórios de ambição, astúcia e crueldade: os eventos que São Mateus narrará nos proporcionarão ampla oportunidade para demonstrar isso. – Antes de prosseguirmos, lembremos que quatro Herodes são mencionados no Novo Testamento. São eles: 1. Herodes, o Grande; 2. Seu filho, Herodes Antipas, que mandou decapitar São João Batista (Mateus 14:1 e seguintes) e que insultou Nosso Senhor Jesus Cristo na manhã da Sexta-feira Santa (Lucas 23:7, 11); 3. Seu neto, Herodes Agripa I, filho de Aristóbulo; Foi ele quem assassinou São Tiago e pereceu miseravelmente sob a ira dos céus. Atos dos Apóstolos 12. 4. seu bisneto, Herodes Agripa II, filho de Agripa I, perante quem São Paulo, prisioneiro do procurador Festo em Cesareia, defendeu-se admiravelmente das acusações feitas contra ele pelos judeus, Atos dos Apóstolos 25, 23 e seguintes. Aqui está, Cf. 1, 20. – do Magos. Devemos examinar as seguintes quatro questões: Quem eram os Magos? Quantos eram? De onde vieram? Em que momento exato ocorreu sua visita? – A. Quem eram os Magos? Seu nome revela isso apenas parcialmente. Mas a história nos fornece informações mais precisas. Os Magos formavam originalmente uma casta sacerdotal, que encontramos primeiramente entre os medos e persas, e que depois se espalhou por todo o Oriente. A Bíblia os mostra na Caldeia, durante o reinado de Nabucodonosor: este príncipe chegou a conferir a Daniel o título de Rab-Magh, ou Grande Mago, para recompensá-lo por seus serviços (Dn 2:48). Como todos os sacerdotes da antiguidade, eles detinham um monopólio quase exclusivo sobre as ciências e as artes; o domínio de seu conhecimento abrangia particularmente a astronomia, ou melhor, a astrologia, a medicina e as ciências ocultas. “Os Magos, que formam na Pérsia um colégio de estudiosos e sábios”, Cícero, Sobre a Adivinhação, 1, 23. Este título duplo de sacerdotes e estudiosos conferia-lhes considerável influência; assim, eram frequentemente membros do conselho dos reis. É verdade que este glorioso nome de Magos, tendo penetrado no Ocidente, gradualmente perdeu o seu brilho, e que chegou mesmo a ser usado pejorativamente para designar mágicos e feiticeiros. Os escritos do Novo Testamento fornecem-nos vários exemplos deste tipo de degradação: “Simão, o Mágico”, Atos dos Apóstolos8, 9, Elimas, o mágico”, Atos dos Apóstolos13, 8, etc. No entanto, é em seu sentido original que é usado aqui por São Mateus, como demonstra toda a narrativa. Alguns autores modernos afirmaram que os Magos que vieram a Jerusalém eram de ascendência judaica e que pertenciam ao que era chamado, na época de Jesus Cristo, de Diáspora (cf. 1 Pedro 1:11), ou seja, àquela multidão de israelitas que habitava as diversas regiões do Oriente desde o cativeiro babilônico; mas isso é um erro manifesto, refutado tanto pelas próprias palavras de nossas figuras sagradas: "Onde está... o rei dos judeus?" (v. 2), quanto pela crença universal da Igreja, que sempre os viu, como dissemos, as primícias do mundo pagão consagradas ao Senhor. Uma antiga e popular tradição os faz reis. Tentaram aplicar-lhes literalmente passagens do Antigo Testamento relativas ao Messias, passagens que, à primeira vista, parecem dizer respeito diretamente a eles; Por exemplo, o Salmo 71:10: “Os reis de Társis e das ilhas trarão presentes. Os reis de Sabá e Seba trarão as suas ofertas”; Isaías 60:3-6: “As nações virão à tua luz, e os reis ao resplendor da tua aurora… Todo o povo de Sabá virá, trazendo ouro e incenso”. Mas, na verdade, essas passagens não se referem ao evento específico da visita dos Magos; seu propósito é a conversão geral dos gentios ao Messias e, consequentemente, a catolicidade da Igreja Cristã. É provável, no entanto, que os Magos fossem pelo menos chefes tribais, como os emires e xeiques árabes são hoje; São Mateus os apresenta, em todo caso, como figuras importantes. – B. Quantos eram? A tradição está longe de ser unânime sobre este ponto. Os sírios e armênios contam até doze; assim como São João Crisóstomo e Santo Agostinho. Contudo, entre os latinos, encontramos o número três bem cedo, um número que parece definitivamente fixado a partir de São Leão Magno. Assim, teria havido tantos Reis Magos quantos presentes foram oferecidos ao menino Jesus; ou então, os três Reis Magos representariam as três grandes famílias da humanidade: as raças semita, jafética e camita. Santo Hilário de Arles chega mesmo a associá-los às três pessoas da Santíssima Trindade. Seus nomes seriam Melquior, Baltazar e Gaspar. É bem sabido, além disso, que a lenda há muito se apoderou de suas pessoas e de suas vidas (cf. Acta Sanctorum, 16 de janeiro). Suas relíquias são veneradas na Catedral de Colônia. C. De onde vieram? O texto do Evangelho nos diz, mas de uma forma tão geral que mal avançamos na compreensão do assunto. Do Oriente, Da mesma forma, o hebraico designa tudo a leste da Palestina e, consequentemente, uma série de numerosos países. Portanto, os exegetas fizeram as mais variadas escolhas, optando às vezes pela Caldeia, às vezes pela terra dos partos, às vezes pela Pérsia e às vezes pela Arábia. As duas últimas hipóteses são as mais amplamente aceitas, visto que, por um lado, "o nome de mágicos é uma palavra que pertence especificamente aos persas”, e que, por outro lado, “A natureza dos presentes e a proximidade do local falam a seu favor”, Maldonat. A Arábia, para os hebreus, era preeminentemente a terra do Oriente. – D. Quanto à época da visita dos Magos, não é expressamente mencionada no Evangelho. Vários autores antigos, como Orígenes, Eusébio e Santo Epifânio, tomando o versículo 16 como base para seus cálculos, afirmam que os Magos vieram apenas cerca de dois anos após o nascimento do Salvador, visto que Herodes já tinha os filhos de Belém “Dois anos ou menos, segundo o tempo que os Magos haviam averiguado.” Mas isso é claramente um exagero, como a explicação deste versículo demonstrará. A maioria dos Padres da Igreja acredita, ao contrário, que a visita dos Magos à manjedoura ocorreu logo após o Natal; muitos deles inclusive defendem rigorosamente a data fixada desde a antiguidade para a celebração da Epifania, ou seja, o décimo terceiro dia após o nascimento de Jesus Cristo. Sem querer impor limites tão restritos, limitar-nos-emos a dizer aqui que a adoração dos Magos deve ter ocorrido logo após o nascimento do Salvador. Parece que não houve intervalo entre o aparecimento da estrela, o nascimento de Jesus e a partida dos Magos. Além disso, embora os santos viajantes tivessem partido da distante Pérsia, era fácil para eles, montados em seus camelos, percorrer distâncias consideráveis em pouco tempo. É sabido que um bom camelo pode percorrer em um único dia o que um cavalo leva oito ou dez dias para percorrer. Examinaremos mais tarde, ao estudarmos a questão da concordância entre o relato de São Lucas e o de São Mateus, qual o lugar mais adequado para a visita dos Magos. Jerusalém. Era a metrópole do estado judeu; eles esperavam encontrar ali, melhor do que em qualquer outro lugar, a informação precisa de que precisavam para chegar ao fim de sua jornada; ou melhor, esperavam encontrar ali Aquele a quem buscavam. Onde mais Ele poderia estar senão na capital de Seu reino, no palácio de Seus ancestrais?
Mt2.2 dizendo: "Onde está aquele que é nascido rei dos judeus? Pois vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo."« – Eles sabem que é apenas um recém-nascido, mas têm certeza absoluta de seu nascimento. Só não sabem uma coisa: onde ele reside atualmente, e esse é o assunto de sua investigação. – Que significado os Magos atribuíram ao título de Rei dos Judeus Certamente, não se trata de um rei qualquer que esses filhos do deserto vieram venerar de tão longe; nem é um rei destinado exclusivamente aos judeus. Embora seja o rei dos judeus por excelência, eles não têm dúvida de que seu poder se estenderá muito além das fronteiras da Judeia, e que esse poder será primordialmente religioso; por isso lhe prestam homenagem. Eles foram compreendidos, como o restante da narrativa mostrará, e a expressão “Rei dos Judeus” foi imediatamente traduzida em um título ainda mais claro, o de Messias (cf. v. 4). Observemos, de passagem, que o nome “Rei dos Judeus”, dado a Jesus desde a sua mais tenra infância, estará escrito em três línguas na sua cruz no momento em que ele exalar o último suspiro, e, mais uma vez, serão os gentios que o aplicarão ao Salvador. João 19:19-22. Vimos a sua estrela.. Os Magos explicam o motivo de terem deixado sua terra natal e corrido para a Judeia: viram a estrela do Rei dos Judeus. Mas o que era essa estrela? Consideremos duas hipóteses. Primeira hipótese: um milagre puro e simples. A estrela dos Magos não era um corpo celeste, mas um meteoro móvel e transitório, criado para a ocasião, que apareceu, desapareceu, moveu-se e parou sem sair da nossa atmosfera, como a nuvem de fogo que outrora guiou os hebreus no deserto. Era, portanto, um fenômeno completamente sobrenatural e milagroso. Esta é a visão dos Padres da Igreja e da maioria dos comentadores ao longo dos séculos: é certamente a hipótese mais simples, a mais coerente com a letra do texto, a que naturalmente vem à mente ao ler este episódio do Evangelho de Mateus. Para o evangelista, é de fato claro que a estrela foi o resultado de um milagre. «Que esta estrela não está entre as estrelas, que nem sequer é uma estrela, mas um certo poder invisível que assumiu a forma de uma estrela, é revelado primeiramente pela sua trajetória…» São João Crisóstomo, Homilia 6 sobre São Mateus. Outra hipótese: Orígenes, Celso e o filósofo platônico Calcídio acreditavam que a estrela do Messias era um cometa. Alguns chegaram a afirmar que era um cometa famoso, avistado pelos chineses em 750 a.C., ano da fundação de Roma, o próprio ano do nascimento de Jesus, e fielmente registrado em suas tabelas astronômicas. Essa opinião encontrou poucos defensores, pois é bastante improvável. – O relato do Evangelho pressupõe um milagre real; esta, pelo menos, é a opinião geral; mas esse milagre não emerge categoricamente, necessariamente, do texto. Não se pode negar que Deus muitas vezes usa causas naturais para alcançar seus fins. Contudo, preferimos aqui ater-nos à letra do Evangelho e às opiniões dos Santos Padres. Sua estrela. Última e importante observação sobre a estrela. Seja qual for a sua natureza, como souberam os Magos, ao vê-la, que se tratava da estrela do Rei dos Judeus e que este rei acabara de nascer? A lenda simplifica bastante a questão, atribuindo a fala à estrela ou aos anjos que a guiavam. Mas não faltam explicações sérias. Toda a Antiguidade acreditava que fenômenos celestes correspondentes presidiam os principais eventos na Terra, especialmente o nascimento de grandes homens. Cf. Justino, Histórias 37; Suetônio, Vidas de César, cap. 88. Além disso, havia então uma premonição generalizada em todo o mundo de uma nova era para a humanidade, e acreditava-se que essa nova era teria a Judeia como ponto de partida. Os textos de Tácito e Suetônio, que comentam de certa forma as palavras da mulher samaritana, "A salvação vem dos judeus" (João 4:22), estão frescos na memória de todos: "Difundia-se por todo o Oriente uma antiga e constante opinião de que, naquela época, as pessoas iam à Judeia para adquirir coisas" (Suetônio, em Vespas). "Muitos estavam convencidos de que isso constava nas cartas dos sacerdotes, época em que o Oriente gozava de grande prestígio. As pessoas iam à Judeia para adquirir coisas" (Tácito, Histórias 5:13; cf. Josué, A Guerra Judaica, 1:5:5). O Oriente estava então repleto de judeus, descendentes dos antigos cativos da Babilônia, que se distinguiam pelo seu ardente proselitismo e que não faziam segredo nem da sua religião nem do seu Messias. Foi graças a eles que essas esperanças universais, que mantinham o mundo em suspense, se espalharam. Os Magos, tudo indica, estavam sob a influência de ideias semelhantes quando, de repente, viram uma nova estrela. Para eles, segundo o belo pensamento de Santo Agostinho, tratava-se de uma linguagem externa perfeitamente capaz de despertar sua fé: «O que era a estrela senão uma magnífica língua do céu?» (Serm. 201, 4, al. de Temp. 31). Mas a essa linguagem externa deve ter sido acrescentada uma palavra ainda mais clara, uma revelação interior que lhes mostrou distintamente a conexão existente entre a nova estrela e o Messias, e que os impeliu a ir para a Judeia: é o que ensinam quase todos os Padres da Igreja. «Eles conheceram a estrela de Cristo por meio de uma revelação» (Agostinho, Sermo 117, al.). 67. «Aquele que apresentou o sinal deu entendimento aos que o contemplaram», São Leão Magno, Sermão 4 sobre a Epifania. Também foi dito que os Magos poderiam muito bem ter conhecido a profecia de Balaão sobre a estrela do Messias, Números 24:17 e seguintes: «Eu o vejo, mas ainda não; eu o contemplo, mas não de perto. Eis que uma estrela sairá de Jacó, e um cetro se levantará de Israel». Isso é improvável, pois geralmente se aceita que, neste oráculo, não se trata de uma estrela no sentido estrito, destinada a ser o sinal que precede o Messias. A palavra «estrela» é usada, antes, em sentido figurado, para designar o próprio Messias, assim como o «cetro» da segunda parte do versículo. Antes de encerrarmos este assunto, observemos a admirável maneira como a Providência adapta constantemente seus meios às disposições daqueles que deseja converter. Jesus atrai a si os pescadores de Galileu através de capturas milagrosas de peixes, os doentes por meio de curas, os doutores da Lei por meio da explicação dos textos das Escrituras, os Magos, isto é, astrônomos, por meio de uma estrela no firmamento. Observemos também que a segunda vinda de Cristo será acompanhada por um sinal maravilhoso no céu, assim como a primeira. Cf. Mateus 24:30. No leste. Essas palavras devem ser interpretadas em seu sentido estrito; elas não são de forma alguma equivalentes ao qualificador. oriental aplicado à estrela, como vários comentaristas afirmaram. adoro eleSegundo Santo Agostinho, os Magos não prestavam homenagem a um rei terreno, mas a um rei celestial, uma pessoa em quem eles entendiam residir o poder divino. Se tivessem buscado um rei terreno, teriam perdido toda a devoção ao encontrá-lo no céu. pobreza da manjedoura. Eles souberam por revelação que o Deus-homem havia nascido? De fato, Deus, que lhes enviou uma estrela, também lhes enviou um anjo que o revelou a eles. De acordo com o papa São Leão Magno: Assim como seus olhos foram preenchidos exteriormente com a luz daquela estrela, também um raio divino lhes revelou a divindade interior da criança. Por meio disso, cumpriu-se o Salmo 71:11. Reis o adorarão, todas as nações o servirão..
Mt2.3 Quando o rei Herodes soube disso, ficou perturbado, e toda Jerusalém com ele. Este versículo é verdadeiramente dramático; descreve o efeito produzido na corte e na cidade pelas notícias inesperadas trazidas pelos Magos. Imagine uma longa caravana entrando em uma de nossas grandes cidades, sua mera aparição despertando a curiosidade da multidão; imagine os líderes dessa rica procissão perguntando aos habitantes que encontram: “Onde está o seu rei recém-nascido?” e você entenderá o que deve ter acontecido então em Jerusalém. As palavras dos Magos se espalharam de boca em boca e logo cruzaram o limiar do palácio de Herodes, disseminando por toda parte uma grande comoção, ou mesmo um medo violento. Estava preocupado. Primeiro, o terror tomou conta do coração de Herodes. Mateus, em uma única palavra, e quase de passagem, expressou o estado de espírito e o temperamento de Herodes com a máxima precisão. Herodes tinha razões específicas para se perturbar com esse rumor repentino. Rei da Judeia não por direito, mas por intriga e violência, odiado por grande parte de seus súditos por causa de sua tirania ou seu caráter antiteocrático, um príncipe ambicioso tão zeloso de sua autoridade que mandou matar membros de sua família por medo de ser suplantado por eles, ele descobre de repente que tem um poderoso rival ao seu lado, o próprio Messias, e se pergunta ansiosamente se seu trono será capaz de se manter ao lado do de Cristo. Que aflição para um homem assim ouvir que estudiosos orientais estão vindo saudar o novo Rei dos Judeus em sua própria capital! E toda Jerusalém. Jerusalém também tinha seus motivos para estar aflita. Estava agitada porque esperava que seu Messias a libertasse do domínio romano, a colocasse à frente das nações e a enchesse de prosperidade; mas grandes esperanças despertam e causam tremor quando estão prestes a se concretizar. Temia os inúmeros males e terríveis convulsões que os rabinos previram sob o nome de "Dores do Messias", que, segundo lhe disseram, precederiam o aparecimento de Cristo; também temia algum novo massacre perpetrado por Herodes, cujos acessos de cruel ciúme conhecia bem. Assim, essas causas opostas perturbavam profundamente tanto o rei quanto seus súditos.
Mt2.4 Ele reuniu todos os príncipes dos sacerdotes e os escribas do povo e perguntou-lhes onde Cristo deveria nascer. – Ele reuniu. Nessa situação delicada, Herodes não contradisse a imagem que os autores antigos lhe pintaram de astúcia e habilidade. Nem muito mistério, nem muita pompa eram necessários: muito mistério teria inflamado a comoção popular em vez de acalmá-la; muita pompa teria atraído todos para o Messias. Herodes escolheu magistralmente o meio-termo recomendado a um homem sábio. Assim como os Magos, ele estava ansioso para saber o paradeiro do ‘Rei dos Judeus“, seu rival inesperado. Disfarçou sua ansiedade, mostrou-se disposto a ajudar os ilustres viajantes e, como a pergunta deles dizia respeito a um evento religioso — aliás, o evento religioso por excelência do judaísmo, o nascimento do Messias —, convocou o grande conselho dos judeus, o Sinédrio, em uma sessão extraordinária. Este renomado corpo, que encontramos mencionado diversas vezes no primeiro Evangelho (cf. 5,22), 10, 17, etc., e cujo nome, apesar das suas conotações hebraicas, revela facilmente a sua origem grega, era composto por 71 membros: um presidente, que geralmente era o sumo sacerdote, e 70 assessores. Estes membros formavam três classes distintas. Em primeiro lugar, havia os príncipes dos sacerdotes. Este termo designava não só o Sumo Sacerdote em exercício, que era o príncipe supremo dos sacerdotes, ou os seus predecessores vivos, mas também os chefes das vinte e quatro famílias sacerdotais (cf. 1 Crônicas 24). Em segundo lugar, havia os Escribas, ou doutores da Lei, como São Lucas os chama. Constituíam uma grande e poderosa corporação, cujo ministério consistia principalmente na interpretação da Lei Mosaica. Dado que a religião e a política estavam intimamente ligadas sob o regime teocrático do Antigo Testamento, os Escribas eram simultaneamente juristas e teólogos. Quase todos pertenciam ao partido farisaico e gozavam de considerável influência entre o povo. Naturalmente, apenas os mais proeminentes entre eles, como Gamaliel e Nicodemos, eram membros do Sinédrio. O próprio nome indica que uma de suas funções era também registrar os atos públicos. – 3. Os anciãos, isto é, os notáveis, que eram escolhidos dentre os chefes das famílias mais importantes. Eles constituíam o elemento puramente leigo do grande conselho. Embora a questão a ser decidida neste caso específico fosse inteiramente uma questão de teologia, os anciãos tiveram que ser convocados juntamente com as outras duas classes porque Herodes queria uma resposta oficial e autêntica, o que exigia a presença de todos os membros do Sinédrio. Se o evangelista não os nomeia no versículo 4, é porque a decisão no caso em questão dizia respeito principalmente aos principais sacerdotes e aos mestres da Lei. Mais adiante, encontraremos omissões semelhantes, mesmo quando certamente se tratará de uma reunião completa dos assessores. Cf. Mateus 20:18; 26:59; 27:1. Cristo estava para nascer.. Herodes, tal como os Magos, apenas indagou sobre o local de nascimento de Cristo; Ou. O fato em si é considerado certo; a expectativa do Messias era então universal, e sentia-se que o tempo havia chegado. Veja o livro dos abades Joseph e Augustin Lémann, judeus que se tornaram padres católicos., A questão do Messias e do Concílio de Vaticano, Lyon, 1869, cap. 2.
Mt2.5 Disseram-lhe: "A Belém da Judeia, segundo o que foi escrito pelo profeta: 6 E você, Belém, "Terra de Judá, não és a menor entre as principais cidades de Judá, pois de ti virá o governante que apascentará o meu povo, Israel."» – Eles lhe disseram.. O problema era fácil de resolver e não exigia longas deliberações, pois o Apocalipse havia sido muito claro a esse respeito (cf. João 7:42 e seguintes). Portanto, o Sinédrio respondeu sem hesitar: TEM Belém da Judeia. Eles imediatamente fornecem provas de sua afirmação: Foi escrito assim, O profeta Miquéias previu isso há muito tempo (cf. Miquéias 5:1). O pronunciamento do Sinédrio é tão preciso quanto o dos Magos e, como o deles, baseia-se em autoridade externa; os Magos citaram a estrela, enquanto os principais sacerdotes e doutores da Lei citam um texto profético. E você, Belém… a profecia de Miquéias, que os antigos rabinos aplicam unanimemente ao Messias, é citada livremente e diverge tanto do texto hebraico quanto da Septuaginta: Miquéias 5. 1 E você, Belém Efrata, pequena em comparação com os milhares de Judá, de ti virá para mim aquele que há de reinar sobre Israel, e a sua origem será desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade. 2 Portanto, ele os entregará até o tempo em que aquela que está para dar à luz der à luz, e o restante de seus irmãos retornará aos filhos de Israel. 3 Ele permanecerá firme e pastoreará as suas ovelhas na força do Senhor, na majestade do nome do Senhor seu Deus, e elas habitarão em segurança, pois agora ele será grande até os confins da terra. 4 Ele é aquele que será pazQuando o assírio entrar em nosso país e pisar em nossos palácios, levantaremos contra ele sete pastores e oito príncipes do povo.
Se compararmos agora os dois textos, veremos que a diferença reside apenas na forma e não no pensamento. A ideia que o profeta queria expressar era esta: Embora Belém Pode ser uma cidade insignificante demais para ser considerada uma das principais cidades da Judeia, mas dela surgirá um líder ilustre para o povo judeu. São Mateus modificou a expressão para dizer que Belém Não é de modo algum uma cidade insignificante, pois dará aos judeus um líder ilustre. Quem não vê que, apesar desta afirmação por um lado e desta negação por outro, a profecia permanece inteiramente a mesma em sua essência: o Messias deve nascer em Belém, conferindo-lhe assim grande glória? Os demais aspectos são pontos menores, e o evangelista não se deixa escravizar por eles. É por isso que ele se permitiu dizer “Belém terra da Judeia” em vez de “Belém Efrata.” pastarAcabamos de ver que o texto grego apresenta o Messias não como um rei, mas como um pastor. Na Antiguidade, entendia-se que, segundo Xenofonte, havia mais de uma semelhança entre os deveres de um bom rei e os de um bom pastor. Isso servia para lembrá-los do cuidado amoroso que deviam aos seus súditos. Essa mesma imagem reaparece diversas vezes no Antigo Testamento (cf. 2 Samuel 5, 3; Jeremias 23:2 e seguintes, e Salmo 22.
Mt2.7 Então Herodes, tendo convocado secretamente os Magos, soube por eles a data exata em que a estrela havia aparecido. – Herodes agora tem duas certezas: os Magos lhe disseram que o Messias nasceu, e os membros do Sinédrio que Belém Deve ser sua terra natal. Ele deseja obter uma terceira que lhe permita executar com mais segurança os planos assassinos que já lhe rondam a mente, e compreender melhor a extensão das medidas a serem tomadas: são novamente os Magos que a fornecem a ele. tendo trazido secretamente ; Ele fez isso secretamente, para ocultar suas intenções e por medo de que seus planos fossem descobertos. Isso era incoerente, visto que Herodes havia convocado o Grande Conselho abertamente. aprendido, uma expressão muito forte no texto grego. a data exata. Ou seja, o ano, o mês e o dia em que apareceu pela primeira vez. Os astrônomos costumavam registrar isso meticulosamente. Essa, portanto, era a última informação que o tirano queria saber; ele presumiu, naturalmente, que havia uma relação estreita entre o aparecimento da estrela e a época do nascimento de Cristo.
Mt2.8 E ele os enviou para Belém dizendo: "Vá, descubra exatamente como é a criança, e quando a encontrar, avise-me, para que eu também possa ir e adorá-la."« – Enviando-osHerodes concluiu que, em uma idade tão jovem, seu rival ainda não teria se afastado muito de seu local de nascimento. O rei, sem dúvida, poderia ter partido imediatamente para... BelémMas isso teria causado muita confusão, o que ele queria evitar a todo custo. Era muito mais inteligente e simples da parte dele transformar os Magos em espiões involuntários. Vá em frente, descubra mais.. – Então eu também… Este é de fato o monarca hipócrita de quem o historiador Flávio Josefo fala. Ele tenta, com essas palavras piedosas, enganar as almas boas e retas dos Magos, que teriam caído na armadilha sem a revelação especial que receberam posteriormente, v.12.
Mt2.9 Tendo ouvido as palavras do rei, partiram. E eis que a estrela que tinham visto no Oriente ia adiante deles, até que, chegando sobre o lugar onde estava o menino, parou. – Eles foram embora.. Os Magos, satisfeitos com as informações que receberam, partiram de Jerusalém e dirigiram-se para a cidade de Davi. A estrada que seguiram cruzou primeiro o profundo vale de Giom e subiu as encostas íngremes do Monte do Mau Conselho; depois atravessou um terreno rochoso que era cultivado apenas intermitentemente, mas que era marcado por numerosos locais históricos, em particular o túmulo de Raquel e a fonte onde os três heróis arriscaram as suas vidas para tirar água para Davi; 2 Samuel 23:15 e seguintes. E lá estava a estrela.. Essa aparição ocorreu quando eles estavam saindo de Jerusalém: sugere que os Magos partiram ao entardecer ou durante a noite, de acordo com o costume oriental; também sugere um eclipse temporário da estrela. Talvez esse misterioso corpo celeste, depois de aparecer aos Magos no Oriente, tenha permanecido oculto até então; de fato, eles não precisaram de guia para viajar de seu país até Jerusalém. "Eles não viram a estrela durante toda a viagem", disse Bengel. Ia... parou, Não dizemos de uma estrela que ela se move ou que ela para, e dizemos isso ainda menos de uma constelação; este versículo dá crédito à ideia de um fenômeno puramente miraculoso.
Mt2.10 Ao verem a estrela, alegraram-se imensamente. Eles então se sentiram tão visivelmente guiados pelo próprio Deus que ficaram extremamente felizes quando a estrela apareceu para eles novamente.
Mt2.11 Eles entraram na casa e encontraram a criança com Casado, sua mãe, e, prostrando-se, o adoraram; depois, abrindo seus tesouros, ofereceram-lhe presentes de ouro, incenso e mirra. – A casaSegundo um número considerável de autores antigos (São Justino, São João Crisóstomo, Santo Agostinho, etc.), esta palavra é um eufemismo para estável. Mas hoje é mais geralmente aceito que deva ser traduzida literalmente; do que se conclui, e parece correto, que desde o Natal São José poderia ter encontrado em Belém uma moradia mais adequada do que a dos pobres Gruta da NatividadeO afluxo de pessoas nos primeiros dias, causado pelo censo (ver Lucas 2:1, 7), não foi duradouro. Eles se prostraram e o adoraram.. Essa atitude demonstra que os Magos reconheceram a virtude divina da criança; eles receberam revelações especiais sobre o assunto. Tal era a crença geral do cristianismo primitivo. «Estes adoravam a Deus em pequenos membros», Santo Agostinho, Sermão 200, parágrafo 30; cf. São João Crisóstomo, Homilia 8 em Mateus. Isso é mais do que uma cerimônia exterior realizada diante do berço de uma criança; é uma verdadeira homenagem espiritual. Seus tesouros. Eles lhe ofereceram. como presentes. De acordo com o antigo costume oriental, nunca se visita pessoas importantes sem oferecer-lhes presentes. Mirra. “A mirra é o produto de uma árvore que cresce em vários lugares da Arábia (os botânicos modernos a denominaram “Balsamodendron myrrha”; pertence à família Terebinthaceae). É espinhosa e sua folha se assemelha à da oliveira. Duas incisões são feitas nela a cada ano; mas ela produz espontaneamente, antes da incisão, uma mirra chamada mirra extraída, que é preferida a todas as outras. Em geral, a boa mirra tem a forma de glóbulos resultantes da concreção de uma seiva esbranquiçada que seca gradualmente. (...) É usada em seu estado líquido, após ser dissolvida em alguma essência”, Plínio, História Natural, 156. – Esses presentes tinham um significado simbólico; não há dúvida disso. No entanto, a tradição variou tanto em sua interpretação do símbolo que é muito difícil saber a quais ideias aderir. As duas opiniões mais amplamente aceitas são: 1) a de Santo Irineu e Teofilato, seguida pela Prosa de Natal:
O ouro nos diz que é rei;
Mirra, um homem sob a lei;
Incenso puro, que é o próprio Deus.
São Jerônimo disse algo semelhante: "O sacerdote Juvenco faz uma bela síntese dos sacramentos ligados a esses dons quando escreve este verso: 'Eles trazem ouro, incenso e mirra, para o rei, o deus e o homem'".«
2. A interpretação de São Fulgêncio estabelece um paralelo entre a tríplice oferta dos Magos e o tríplice papel do Messias: "Eles queriam representar seu reinado com ouro, seu pontificado com incenso e sua morte com mirra" (ou, segundo outros, sua dignidade profética). Outras interpretações foram oferecidas. Em todo caso, essas oferendas devem ter sido de providencial utilidade para a Sagrada Família na época de sua partida apressada para o Egito. Os Evangelhos apócrifos contêm lendas singulares que remontam a origem desses presentes a Noé ou mesmo ao Jardim do Éden, através de todo tipo de aventuras. Os pintores que retrataram o mistério da Adoração dos Magos preferiram representar o momento em que oferecem seus presentes ao menino Jesus: os mais famosos são Rubens (Museu de Lyon), Veronese, Andrea del Sarto, van Eyck, Ghirlandaio, Bernardino Luini e Bonifazzio; estes três últimos mestres fizeram deste o seu tema predileto.
Mt2.12 Mas, tendo sido avisados em sonho para não voltarem a Herodes, retornaram ao seu país por outro caminho. – Avisado em um sonho. É provável que eles tivessem alguma suspeita contra Herodes e questionassem o Senhor a respeito dele. Não devolvaJerusalém não estava na rota percorrida pelos Magos quando retornaram de Belém no Oriente; eles teriam feito um desvio para entregar a Herodes a notícia que ele havia solicitado. Após o aviso sobrenatural que receberam de Deus, retornaram diretamente. por outra rota, provavelmente pela rota sul, o que os levou, após algumas horas, a se juntarem à rota seguida pelas caravanas vindas do leste.
Fuga para o Egito e Massacre dos Santos Inocentes, 2, 13-18.
Voo para o Egito, vv. 13-15.
Mt2.13 Depois que eles partiram, um anjo do Senhor apareceu a José enquanto ele dormia e disse: "Levante-se, pegue o menino e sua mãe, e fuja para o Egito. Fique lá até que eu lhe diga, pois Herodes vai procurar o menino para matá-lo."« – Eis um anjo. Este é o segundo sonho misterioso de São José. A criança e sua mãeEssas palavras foram escolhidas deliberadamente para demonstrar ainda mais que José não é o pai da criança, mas apenas desempenha o papel de guardião dela e de seu filho. CasadoDa mesma forma nos versículos 14, 20 e 21. Fuja para o Egito.. Por que o Egito? Por que, perguntamos também, aqueles de nossos compatriotas que temem perseguição política se dirigem imediatamente para a Suíça, Bélgica ou Espanha, dependendo de onde moram? Porque esses países são os mais fáceis para um francês alcançar e também porque, depois de cruzar a fronteira, estão a salvo de processos judiciais. O mesmo se aplicava ao Egito; era a terra estrangeira mais acessível a São José. Colocado diretamente sob domínio romano, estava completamente fora da jurisdição de Herodes. Entre ele e a Judeia ficava o deserto protetor da Arábia Pétrea, atravessado por rotas bem conhecidas e frequentadas. Além disso, esta não foi a primeira vez que o Egito serviu de refúgio para judeus forçados ao exílio: desde o início da história judaica, expulsos pela fome, Abraão, cf. Gênesis 12, 10, tinha ido pedir-lhe pão. Mais tarde, eventos providenciais levaram o patriarca Jacó até lá, que se estabeleceu com toda a sua família na terra de Geshen (cf. Gênesis 46). Jeroboão, fugindo de Salomão, também tomou o caminho para o Egito (cf. 1 Reis 11:40). Da mesma forma, um grande número de israelitas, seguidos por Jeremias, vieram se esconder lá após o assassinato de Gedalias, para escapar da vingança dos caldeus (2 Reis 25:26; cf. Jeremias 43). Essa série de eventos levou Maldonato a observar acertadamente (Comentário em hl): "O Egito parece ser uma escola para os filhos de Deus, que só podem crescer se forem punidos". No início da era cristã, o Egito contava entre seus habitantes uma multidão de israelitas que ali se estabeleceram, alguns para se dedicarem a grandes empreendimentos comerciais, outros para buscar refúgio da tirania de Herodes. Esses judeus formavam uma comunidade próspera: em Heliópolis, mandaram construir sua magnífica basílica, obra de Onias; tão grande, como o Talmud orgulhosamente relata, que, como a voz do oficiante não alcançava suas extremidades, o sacristão era obrigado a acenar com um lenço para sinalizar quando responder "Amém". Possuíam guildas ricas e poderosas, cuja generosidade para com os concidadãos menos afortunados se tornara proverbial. A Sagrada Família, portanto, podia encontrar ali a ajuda e a proteção de que necessitava. Herodes procurará a criança....prova de que Herodes concebeu imediatamente o plano de matar a criança, assim que soube de sua existência.
Mt2.14 José se levantou e, naquela mesma noite, levando o menino com sua mãe, retirou-se para o Egito. – naquela mesma noite. A advertência profética que acabamos de ler foi, sem dúvida, dada a São José pouco depois da partida dos Magos, e no último instante: por isso era tão urgente, por isso foi cumprida sem demora, no meio da noite. Ele se retirou.Depois de sair BelémA Sagrada Família dirigiu-se rapidamente para a fronteira sul da Judeia, que alcançaram em poucas horas; em seguida, aventuraram-se pelo deserto e, após cinco ou seis dias de caminhada, chegaram à antiga província de Gessen. A distância a percorrer era de cerca de quarenta léguas. Esta árdua jornada foi idealizada em inúmeras pinturas que retratam os santos viajantes, por vezes descansando à sombra de uma palmeira e sendo servidos por... os anjos (Lorrain, Poussin, Bruegel, Rafael), por vezes avançando através de mil obstáculos ou mil maravilhas (Maratti, van der Werff, etc.). Os Evangelhos apócrifos narram, a respeito da entrada no Egito, os eventos mais maravilhosos, por vezes os mais ridículos (cf. Brunet, Evangelhos Apócrifos, 2ª ed., p. 61 e ss.). Não é possível precisar o local exato onde Jesus permaneceu, para Casado e a José durante o exílio egípcio: a tradição geralmente designa Matarea, hoje Matarieh, uma vila localizada a certa distância da antiga cidade sacerdotal de Heliópolis. Há uma fonte de água doce considerada a melhor de todo o Egito, e à qual os muçulmanos, como cristãos Atribuem-lhe um grande poder miraculoso. Foi também lá que Kléber triunfou sobre um exército dez vezes maior que o seu.
Mt2.15 E ele permaneceu ali até a morte de Herodes, para que se cumprisse o que o Senhor havia dito por meio do Profeta: "Chamei de volta o meu filho do Egito".« – E ele permaneceu lá.…O evangelista de fato nos dá aqui a “data final” para calcular a duração da estadia da Sagrada Família no Egito; mas, como ele não indicou a “data inicial”, isto é, o ponto de partida, nunca poderemos saber com absoluta certeza quanto tempo Jesus viveu na terra do exílio. As estimativas dos Santos Padres e dos primeiros exegetas variam entre dois e oito anos. Se é verdade que Nosso Senhor nasceu no final do ano 749, após a fundação de Roma, tendo Herodes morrido nos primeiros meses do ano 750, então o Egito teria retido o Salvador por apenas algumas semanas; esta é a opinião que prevaleceu nos tempos modernos. O relato de Mateus não implica uma longa estadia: os eventos nele contidos, combinados com os que encontramos em Lucas, poderiam facilmente ter ocorrido entre 25 de dezembro de 749 e o início de abril de 750. – Para que se cumprisse: Cf. 2,22. Pelo ProfetaEstas palavras do profeta Oséias (11:1) são citadas do texto hebraico; a Septuaginta, que São Mateus geralmente segue mais de perto, era totalmente inadequada neste caso, pois diz “meus filhos”. Uma olhada na profecia de Oséias bastará para mostrar que a passagem usada pelo evangelista diz respeito ao povo judeu de forma muito direta, tanto histórica quanto literalmente. O contexto demonstra isso com muita clareza: “O menino era Israel, e do Egito chamei o meu filho”. É Israel que está em questão, e sua libertação milagrosa do jugo dos faraós sob a liderança de Moisés. Considerados coletivamente como um só povo, eles há muito carregavam o glorioso nome de filho de Deus. «Assim diz o Senhor, meu Filho, o primogênito de Israel», Êxodo 4:22. Cf. Jeremias 31:9. Este primeiro significado da profecia de Oséias já havia se cumprido há muito tempo; Mas havia outro aspecto a ser considerado: «As palavras anteriores, segundo a verdade e seu pleno significado, referem-se a Cristo… De modo que o que está escrito: »Chamei o meu filho do Egito’, diz-se, de fato, ao povo de Israel, mas aplica-se propriamente e perfeitamente a Cristo”, São Jerônimo, em Oséias 11:1. O destino do filho adotivo era, portanto, um tipo do reservado ao verdadeiro Filho: ambos foram conduzidos ao Egito sob circunstâncias particulares, que compartilham mais de uma semelhança. – Este é o momento oportuno para recordar o papel bastante interessante do Egito do ponto de vista histórico e religioso. Do Egito veio a antiga civilização que primeiro se espalhou para a Grécia e de lá para toda a Europa; no Egito desenvolveu-se a teologia cristã; no Egito foram formados os primeiros monges; a educação do povo teocrático ocorreu no Egito; foi no Egito que o Filho de Deus veio, antes de reformar o regime da Antiga Aliança.
Massacre dos Santos Inocentes, vv. 16-18.
Mt2.16 Então Herodes, percebendo que havia sido enganado pelos magos, ficou furioso e mandou matar todas as crianças que estavam na igreja. Belém e na área circundante, a partir dos dois anos de idade ou menos, de acordo com a data que ele sabia exatamente pelos Magos. Os primeiros dias após a partida dos Magos devem ter sido dias de grande turbulência emocional e intensa impaciência para Herodes. O velho rei tremia em seu trono desde que ouvira a pergunta feita em Jerusalém: "Onde está aquele que nasceu rei dos judeus?". Essa turbulência e impaciência cresceram e culminaram em um daqueles paroxismos de fúria aos quais Herodes era propenso no final de sua vida, quando percebeu que os Magos o haviam enganado.Ele havia sido enganado pelos Magos.. Ele supõe que uma traição completa foi tramada contra ele; então, incapaz de se conter por mais tempo, abandona toda dissimulação e recorre à violência aberta e brutal. E, no entanto, não foram os Magos, mas o próprio Deus que zombaram dele.enviado. Ele escolhia seus agentes dentre seus guarda-costas. Sabe-se que os soldados ligados à guarda dos reis orientais eram encarregados, assim como os lictores romanos, de executar as penas capitais. O tirano dava ampla margem de manobra às suas ordens cruéis, para não errar o alvo uma segunda vez; ele abrangia o máximo possível em termos de espaço e tempo. Meias medidas não lhe agradavam, e a vida humana nunca teve muito valor aos seus olhos. Todas as criançasO massacre deveria incluir, em termos de alvo, todos os meninos sem exceção, como se Herodes tivesse tomado como modelo o antigo perseguidor egípcio (cf. Êxodo 1:15, 16, 22); em termos de localização, não apenas a cidade de Belémmas também todas as áreas circundantes,Belém e em todas as áreas circundantes, ou seja, os povoados, as casas isoladas que lhe pertenciam; do ponto de vista temporal, dois anos ou menos…A partir dessa última reflexão, por vezes concluiu-se que a estrela pode ter aparecido aos Magos algum tempo antes de sua partida do Oriente, por exemplo, já na época da Encarnação do Salvador. Mas acreditamos ser mais simples e preciso dizer com São João Crisóstomo: “A fúria e o medo que o agitavam levaram-no, para maior certeza, a acrescentar ainda mais tempo ao período indicado pelos Magos, de modo que nenhuma criança daquela idade pudesse escapar dele” (Homilia 7). – Quanto ao número de crianças massacradas em BelémNão poderia ter sido muito grande. A liturgia etíope e o menologia grego estimam o número em 144.000, como se a passagem de Apocalipse 14:1, que a Igreja canta na Festa dos Santos Inocentes, fosse tomada literalmente e aplicada diretamente a eles; mas isso é um exagero monstruoso. As estatísticas podem nos fornecer informações bastante precisas. BelémA cidade, incluindo seus arredores, tinha então no máximo dois mil habitantes (cf. Miquéias 5:1); agora, para cada mil habitantes, há aproximadamente 30 nascimentos por ano, divididos de forma bastante igual entre os dois sexos. Assim, teríamos quinze meninos em um ano; mas devemos subtrair metade, pois essa é a proporção usual de mortes. Em dois anos, portanto, mal chegaríamos à cifra de 30: a maioria dos comentaristas modernos considera esse número até mesmo muito alto, não acreditando que o número total de vítimas tenha ultrapassado 10 ou 15. – Os racionalistas atacaram veementemente a veracidade do relato do Evangelho sobre o massacre de Belém, sob o pretexto falacioso de que os historiadores do paganismo que trataram de Herodes, especialmente o judeu Flávio Josefo, que acompanha as ações do déspota passo a passo, ignoraram completamente essa crueldade. Faremos primeiro uma observação à qual ousamos atribuir algum valor. Se a informação preservada por São Mateus tivesse sido encontrada nos escritos de um autor obscuro do final do Império Romano, e somente ali, teríamos nos alegrado como se fosse uma descoberta preciosa, mas foi um evangelista quem resgatou esse evento do esquecimento; certamente ele foi enganado ou pretendia enganar. Respondamos agora à objeção diretamente. 1. O massacre das crianças de Belém é perfeitamente coerente com a natureza cruel e impetuosa de Herodes, o Grande. “Quando se levam em consideração as sentenças de morte e todos os ultrajes sangrentos que infligiu aos seus súditos e aos seus parentes mais próximos, quando se recorda a inexorável dureza do seu coração, é impossível não o declarar um bárbaro, um monstro impiedoso. Bastava não falar de acordo com as suas ideias, ou não se mostrar o seu mais humilde servo em tudo, ou mesmo ser suspeito de lhe demonstrar pouco respeito ou submissão, para se tornar imediatamente alvo da sua ira cega e violenta, que atingia indiscriminadamente parentes, amigos e inimigos” (Flávio Josefo, Antiguidades Judaicas, 18, 15. 2°). Esta atrocidade não teve qualquer significado político do ponto de vista dos historiadores antigos que estudaram Herodes; além disso, em termos de extensão, foi bastante insignificante na vida de um tirano como este. Ele havia matado sua própria esposa Mariamne, três de seus filhos, seu irmão e inúmeros súditos: o que era o sangue de algumas crianças comparado às crueldades perpétuas? Uma gota no oceano, como foi dito com muita propriedade. “Depois de tantos exemplos de crueldade dados por Herodes em Jerusalém e em quase toda a Judeia, depois de ter eliminado seus parentes e amigos, não foi grande coisa para ele ter matado as crianças de uma cidade ou vila e de um território adjacente. Os lugares eram pequenos demais para que houvesse uma grande carnificina.” (Wetstein, segundo J. Vossius). 3. O silêncio dos escritores antigos não é tão completo quanto se alega. O pagão Macróbio faz uma clara alusão ao evento narrado por São Mateus em uma passagem que, embora um tanto confusa, ainda assim conserva genuína autoridade para nós, Sát. conv. 2, 4: “Quando Augusto ouviu que, entre as crianças menores de dois anos que Herodes, rei dos judeus, havia matado, SíriaAo receber ordens para matá-lo, incluindo seu filho, ele disse: "É melhor ser porco de Herodes do que seu filho". Parece-nos que nada poderia ser mais significativo.
Mt2.17 Então se cumpriu a palavra do profeta Jeremias, que dizia: 18 Ouviu-se uma voz em Rama, lamentações e gritos: Raquel chora por seus filhos e não quer ser consolada porque eles já não existem. – Então foi realizado.. Com esse ato bárbaro, Herodes cumpriu, sem saber, uma profecia messiânica. Por Jérémie31:15. Aqui, novamente, São Mateus diverge tanto do texto hebraico quanto da versão alexandrina (a Bíblia da Septuaginta); mas a divergência é muito pequena e afeta apenas a expressão. Assim como as palavras de Oséias citadas no versículo 15, esta bela passagem de Jeremias tem um duplo significado, um verbal e outro figurativo. Segundo o significado verbal, trata-se da deportação dos judeus para a Caldeia após o triunfo de Nabucodonosor e a queda do reino de Judá. Raquel havia sido sepultada não muito longe dali. BelémCf. Gênesis 35:19. Numa imagem marcante, o profeta imagina que, quando os descendentes de Benjamim, que faziam parte do reino de Judá, estavam sendo levados para o exílio, ela emergiu de seu túmulo, proferindo lamentos dolorosos, como uma mãe de quem seus filhos foram arrancados e a quem nada pode consolar nessa separação dilacerante. Mas, como diz Santo Agostinho, as Sagradas Escrituras muitas vezes têm mais de um significado: "A Sagrada Escritura tem um primeiro significado, um segundo e um terceiro", e esses vários significados, quando desejados por Deus, devem ser cumpridos até o último detalhe, segundo a palavra de Jesus Cristo. A profecia de Jeremias, portanto, encontraria um segundo cumprimento mais tarde, superior ao primeiro. Raquel emergiu uma segunda vez de seu túmulo para chorar amargamente, em favor das pobres mães de Belém, sobre as vítimas inocentes da tirania de Herodes: seu luto anterior era um tipo de seu luto presente. Escritores frequentemente admiraram essa personificação patética.RamaRama, segundo alguns exegetas, é um substantivo comum que designa as alturas de Belém. De fato, bater, A palavra significa “exaltada”, e é assim que São Jerônimo traduz o texto hebraico de Jeremias na Vulgata: «Uma voz do céu foi ouvida». Mas Rama é mais provavelmente um nome próprio, o de uma pequena cidade localizada a duas léguas ao norte de Jerusalém, cujas ruínas ainda são chamadas de Er-Râm pelos árabes. Foi lá que os exilados foram reunidos antes de sua partida para a Caldeia (cf. Jeremias 90:1 ss.). Poderíamos também dizer que Jeremias evoca a sombra de Raquel em Rama. queixas e gritos lamentáveis. Em sua profecia, Jeremias acrescenta, após a descrição trágica desse grande luto: «Assim diz o Senhor: »Contenha a sua voz e não chore, e os seus olhos não lacrimejem. Pois há recompensa para o seu trabalho«, declara o Senhor: »Eles voltarão da terra do inimigo. Há esperança para o seu futuro«, declara o Senhor: »Seus filhos voltarão para a sua terra«». (31:16-17). Da mesma forma, na presente circunstância: o Messias, o filho amado de Raquel, está salvo; que ela seja consolada. Ele retornará em breve da terra do exílio para a salvação e a felicidade de todos. A pintura e a poesia competiram entre si em seu zelo para celebrar o martírio dos Santos Inocentes. Entre elas estão os arrebatadores hinos de Prudêncio, incluídos no Breviário Romano, «O Tirano Ansioso Ouviu» e “Filhos Martirizados, Flores Inocentes”. Também conhecemos as belas pinturas de Guido, Rubens, Nicolas Poussin e Matteo di Giovanni. – Concluamos este comovente relato com dois pensamentos de Santo Agostinho: “Flores dos Mártires, esses primeiros botões da Igreja nascente, que o ardor da mais cruel paixão faz desabrochar em pleno inverno da infidelidade, e que foram levados pela geada da perseguição” (Sermão 3). “Filhos bem-aventurados, recém-nascidos, jamais tentados, ainda sem lutas, já coroados.”.
Retorne do exílio e fique em Nazaré., 2:19-23. Paralelo com Lucas 2:39
Mt2.19 Após a morte de Herodes, um anjo do Senhor apareceu em sonho a José, na terra do Egito., 20 E disseram-lhe: "Levanta-te, toma o menino e sua mãe, e vai para a terra de Israel, porque já morreram os que procuravam tirar a vida do menino."« – Herodes não desfrutou por muito tempo da falsa segurança proporcionada pelo massacre das crianças de BelémEle morreu apenas algumas semanas, ou no máximo dois ou três meses, após esse ato de crueldade desnecessário, nos primeiros dias de abril de 750 UC. Ele viveu setenta anos e reinou trinta e sete. Josefo relata seu fim horrível nos seguintes termos: “Um fogo interior o consumia lentamente; devido às terríveis dores intestinais que sentia, ele era incapaz de satisfazer sua urgente necessidade de alimento. Uma grande quantidade de líquido havia se acumulado em seu estômago e pernas. Quando se levantava, não conseguia respirar: seu hálito exalava um odor fétido; cãibras em todos os seus membros lhe davam uma força extraordinária. Tentou em vão os banhos de Calírroe; foi trazido de volta a Jericó ainda mais doente. Pressentindo então que não se recuperaria, foi tomado por uma fúria amarga, pois supôs corretamente que todos se alegrariam com sua morte. Portanto, reuniu as pessoas mais importantes no anfiteatro de Jericó e as cercou com soldados, e ordenou à sua irmã Salomé que as massacrasse assim que ele desse seu último suspiro, para que lágrimas fossem derramadas em sua morte. Mas Salomé não cumpriu essa ordem. À medida que suas dores aumentavam cada vez mais, e ele era ainda mais atormentado por fomeEle queria se apunhalar, mas foi impedido. Finalmente morreu no trigésimo sétimo ano de seu reinado”; Ant. 17, 6, 1. Esta é a primeira página do tratado de Lactâncio “Sobre a Morte dos Perseguidores”. No entanto, o evangelista usa apenas uma palavra, da maior simplicidade: “Herodes tendo morrido”. Apareceu em um sonho. ; pela terceira vez, Cf. 1, 20; 2, 13. – Aqueles que… estão mortos ; O plural é bastante extraordinário, visto que se refere apenas a Herodes. É um plural que indica tanto "majestade" quanto "categoria", para usar as expressões dos gramáticos; o primeiro é usado como sinal de respeito por figuras de alto escalão, o segundo designaria aqui toda a classe dos perseguidores de Jesus. Ambos são frequentemente encontrados em textos clássicos. O anjo provavelmente está aludindo a um dito que fora dirigido a Moisés em circunstância semelhante, Êxodo 4:19: "Volta para o Egito, porque já morreram todos os que procuravam tirar-te a vida". Ali também, referia-se apenas a Faraó; mas enquanto Moisés recebeu a ordem de retornar ao Egito, São José recebe a ordem de sair dele.
Mt2.21 José se levantou, tomou o menino e sua mãe e foi para a terra de Israel. – Tendo se levantado ; quase uma repetição literal do versículo 14. Já havíamos encontrado uma fórmula semelhante no capítulo 1, versículo 24. É uma espécie de refrão que ressoa ao longo da história do menino Jesus e marca seus principais eventos.
Mt2.22 Mas, ao saber que Arquelau reinava na Judeia em lugar de Herodes, seu pai, não se atreveu a ir para lá e, tendo sido avisado em sonho, retirou-se para a Galileia. – Arquelau. Em seu testamento, Herodes dividiu seu reino entre seus três filhos, dando Judeia, Idumeia e Samaria ao primogênito, Arquelau; Galileia e Pereia a Herodes Antipas; e Bataneia, Traconites e Hauranita a Filipe. Augusto respeitou os últimos desejos do tirano; contudo, concedeu a Arquelau apenas o título de etnarca, reservando-se o direito de torná-lo rei algum tempo depois, caso ele se mostrasse digno da honra. Flávio Josefo, Antiguidades Judaicas, 17, 11, 4. Mas a honra não era merecida; na verdade, Arquelau comportou-se tanto como o filho de Herodes que os judeus, levados ao limite por suas crueldades e seu desprezo pela Lei, vieram a Roma acusá-lo e implorar a ajuda do imperador contra ele. Considerado culpado, foi deposto e exilado para Vienne, no Delfinado, onde morreu. Seu governo durou apenas nove anos, de 750 a 759 UC (cf. Flávio Josefo, Antiguidades Judaicas, 17, 13, 2; De Bello Jud. 2, 7, 3). Reinou Portanto, não deve ser interpretado literalmente, mas num sentido mais amplo, como sinônimo de governar. O caráter severo e desconfiado de Arquelau já era conhecido pelo povo há muito tempo. São José também sabia como Arquelau era; por isso, quando soube que este príncipe havia sucedido seu pai na Judeia, Ele estava com medo de ir. Temendo mais perseguições por causa do menino divino, ele decidiu por si mesmo não se estabelecer na Judeia. Essa reflexão parece indicar que São José havia inicialmente considerado se estabelecer nas proximidades de Jerusalém, possivelmente até mesmo em Jerusalém. Belém onde Jesus nasceu. Avisado em um sonho, Pela quarta e última vez, um poder superior confirma o plano de José e determina o local exato onde ele deve se refugiar com o precioso depósito que lhe foi confiado. Na Galileia. Herodes Antipas, o tetrarca que governou a Galileia, era bem menos temível que seu pai e seu irmão; sua administração era até bastante benevolente, pois ele se empenhava em atrair habitantes de outras províncias para o seu reino por meio de diversas vantagens e da paz que procurava proporcionar aos seus súditos. Mais tarde, porém, sua luxúria o tornou cruel para com São João Batista.
Mt2.23 e foram morar numa cidade chamada Nazaré, para que se cumprisse o que tinha sido dito pelos profetas: «Ele será chamado Nazareno».» – NazaréSão Lucas nos contará, em 1:26 e seguintes, sobre a estadia anterior de Casado e de José, naquela famosa aldeia que testemunhou o mistério da Encarnação, e onde o Verbo encarnado passaria a maior parte de sua vida. O Antigo Testamento, o Talmude, o historiador Flávio Josefo não a mencionam em lugar algum: é aqui que ela aparece pela primeira vez. Construída a 347 metros acima do nível do mar, no território da tribo de Zebulom, em um anfiteatro formado por deslumbrantes colinas de giz branco, ela se assemelha, segundo a etimologia de seu nome, Natzar, “Que se torna verde, que floresce”, uma flor da montanha, símbolo da flor celestial que ali desabrocharia. «Iremos a Nazaré e veremos a flor da Galileia, pois Nazaré significa flor», São Jerônimo, Carta 44. Graças à sua posição isolada nas montanhas e à distância de qualquer via principal, era admiravelmente adequada à vida oculta que Jesus levaria ali por quase trinta anos. Para que isso seja realizado. Nessa estadia de Jesus Cristo em Nazaré, São Mateus vê um novo cumprimento das profecias do Antigo Testamento. Mas de quem é esse texto? Ele será chamado de Nazareno., Qual passagem ele cita nesta ocasião? Pode-se vasculhar todos os escritos dos Profetas, e até mesmo todos os livros da Antiga Aliança, e não encontrá-la em lugar nenhum. São João Crisóstomo e alguns comentaristas posteriores a ele supuseram que esta passagem foi extraída de um livro profético que se perdeu; mas tais explicações não explicam absolutamente nada. São Mateus parece ter desejado nos conduzir à interpretação correta usando uma fórmula extraordinária para introduzir seu texto; por que, então, ele usa o plural aqui, que é necessariamente muito vago? O que os profetas haviam dito. Isso não significa que ele queria citar vários textos condensados em um só? Essa tem sido a opinião geral por muito tempo. Portanto, é errado que algumas versões mais antigas tenham substituído o plural pelo singular “profeta”. Resta-nos agora, e este é o ponto essencial, determinar o significado da citação. É evidente que o evangelista está jogando com as palavras à maneira oriental; ele está fazendo uma dessas combinações espirituais que foram diretamente inspiradas pelo céu mais de uma vez, como devemos admitir neste caso. São Mateus percebe, assim, à luz do alto, uma conexão mística que existe entre o nome da cidade de Nazaré, onde Jesus Cristo viveu por muitos anos, e um predicado aplicado ao Messias pelos profetas em termos gerais, de uma forma ou de outra. Qual é esse predicado? Consideremos duas hipóteses a respeito. 1. Seria o Nazir, “santo, consagrado”, mais especificamente ao Senhor pelo voto do “Nazirato” cf. Juízes 13.5 Pois você conceberá e dará à luz um filho. A cabeça dele não será cortada por navalha, pois este menino será... Nazareno de Deus, desde o ventre de sua mãe, e ele começará a libertar Israel das mãos dos filisteus.» 6 A mulher foi e contou ao marido: «Um homem enviado por Deus veio até mim. Ele tinha a aparência de um anjo de Deus e era muito impressionante. Não lhe perguntei de onde ele era, e ele não me disse o seu nome.” 7 Mas ele me disse: «Você conceberá e dará à luz um filho; portanto, não beba vinho nem bebida forte, nem coma nada impuro, porque este menino será para mim.” Nazareno de Deus, desde o ventre até o dia de sua morte.» Os profetas certamente predisseram mais de uma vez que Cristo seria santo, o Santo por excelência, que seria eminentemente consagrado a Deus; mas Jesus nunca foi um “nazista” no sentido estrito do termo; o Evangelho afirma isso expressamente, visto que ele às vezes bebia vinho (cf. Mateus 11:19). 2. Este seria o substantivo netzer, “Broto, ramo”. Acreditamos que este sentimento seja o mais provável dos dois. De fato, – a. é o mais preciso etimologicamente falando. Embora a grafia hebraica do nome Nazaré não seja completamente certa, é muito provável que antigamente fosse escrita com um tsade e não com um zayin, e que sua verdadeira raiz, como dissemos acima, seja consequentemente a mesma de “netzer”. – b. Os profetas atribuem ao Messias o nome “netzer”, seja de forma muito explícita, por exemplo, nesta passagem de Isaías: «Um ramo (em hebraico). netzer“Do tronco de Jessé, pai de Davi, brotará um ramo das suas raízes” (Isaías 11:1); ou, em termos semelhantes, veja Jeremias 23:5; 33:15; Zacarias 3:8; 6:12, etc., que chamam Cristo de rebento. São Jerônimo já pensava isso: “O que todos os exegetas católicos procuram sem encontrar, ou seja, onde está escrito que ele será chamado de Nazareno, os estudiosos judeus acreditam que Mateus tirou da seguinte passagem de Isaías 11:1”. Então, em seu comentário sobre São Mateus, explicando nossa passagem, ele dá a seguinte tradução do texto de Isaías: “Um ramo brotará da raiz de Jessé, e um Nazareno crescerá das suas raízes”. Mais uma vez, trata-se de um jogo de palavras sagrado, qualquer que seja a hipótese adotada. – Na cruz, em vez de “Nazareu”, leremos “Nazareno”, e os judeus ainda chamam Nosso Senhor Jesus Cristo de “Jesus HaNotzri”. Nazareno, Galileu, nomes de desprezo que desde então foram cobertos de glória. – “Belém e Nazaré, esta é, portanto, a dupla pátria de Jesus Cristo, Belém Quem o viu nascer, Nazaré o verá crescer. Ele nasceu na primeira como filho de reis, viverá na segunda como filho de um trabalhador. Uma ouviu o canto dos anjos, recebeu a visita dos Magos… a outra verá apenas a vida humilde e oculta do Filho do Homem e só muito mais tarde compreenderá o tesouro que o honra.” (Le Camus) Preparação exegética para a vida de Nosso Senhor Jesus Cristo, p. 431. – A criança, após seu desaparecimento de BelémProvavelmente, presumiram-se que Ele estivesse morto, e até mesmo aqueles cuja atenção havia sido despertada pela chegada dos Magos, pela resposta do Sinédrio, etc., logo perderam o interesse nEle. Enquanto isso, o menino divino cresceu à sombra de Nazaré. Se Ele nos pareceu pobre, um fugitivo, desconhecido da maioria, observemos os belos testemunhos que tivemos em Seu favor: o Anjo, a estrela, os doutores judeus, os Magos, os Profetas, o delicado cuidado da Providência — todos nos falaram de Sua grandeza. Tal é, então, a informação que São Mateus nos fornece sobre a infância e a vida oculta de Jesus. Ele escolheu, de acordo com Seu plano geral, os eventos que lhe permitiram demonstrar melhor o cumprimento das profecias messiânicas por Jesus Cristo: Jesus nasceu de Davi e de uma Virgem, na cidade de BelémE ele permaneceu muito tempo em Nazaré — quatro circunstâncias que haviam sido preditas. Estudaremos o restante em São Lucas, e reservamo-nos o direito de estabelecer uma perfeita harmonia entre os dois relatos inspirados naquela época. Nestes primeiros capítulos de São Mateus, cujas várias partes foram transformadas em mitos ou lendas, não encontramos nada além do que é inteiramente natural e inteiramente autêntico.


